O Globo
Os números da pesquisa Datafolha divulgada
ontem (23), que reiterou a liderança isolada de Luiz Inácio Lula da Silva na
corrida presidencial apontada no mês passado, mostram que o núcleo da campanha
de Jair Bolsonaro à reeleição errou o prognóstico eleitoral a curto e médio
prazo.
Em maio passado, Arthur Lira (PP-AL),
presidente da Câmara dos Deputados e conhecido por sua habilidade na leitura de
cenários políticos, apostou que o presidente já estaria liderando as pesquisas
de intenção de voto a essa altura. A previsão, anunciada em entrevista ao Valor
Econômico, foi repetida por Lira em outras ocasiões.
O otimismo era compartilhado por outros nomes que trabalham pela reeleição de Bolsonaro, como seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Dias após a entrevista de Lira, Flávio declarou ao SBT Brasil que o “Datapovo” e “pesquisas internas” indicavam a vitória de Bolsonaro ainda no primeiro turno.
Contudo, ao contrário do que previu Lira, Lula lidera a pesquisa com 47% dos votos, 19% à frente do incumbente. Ou seja, se as eleições presidenciais ocorressem hoje, o petista seria eleito no primeiro turno com 53% dos votos válidos.
O desempenho decepcionante do presidente
para o Centrão tem a ver com a alta de preços dos combustíveis e dos alimentos
– impactados, respectivamente, pela cotação internacional do barril do petróleo
e pela pressão inflacionária.
Além disso, o Datafolha foi realizado entre
quarta e quinta-feira, quando o país ainda absorvia a prisão do ex-ministro da
Educação Milton Ribeiro, por quem Bolsonaro disse que “botaria a cara no fogo”.
Embora revertida por um juiz do TRF-1, a prisão de Milton, como mostrou o blog, atinge em cheio o discurso bolsonarista de anticorrupção e deixou a campanha de Bolsonaro e o próprio presidente desorientados.
No início da noite, o senador Flávio
Bolsonaro divulgou uma nota atacando o Datafolha.
"Quer dizer que o Lula, que não
consegue juntar gente nem para fazer invasão de terra, já que Bolsonaro deu
mais de 300 mil títulos de propriedade a quem queria plantar e foi enganado por
décadas pela esquerda, tem quase 50% das intenções de votos? Quer dizer que o
Lula defende o aborto em rede nacional e a pesquisa mostra que ele não cai
entre os evangélicos? Isso não é pesquisa, é torcida contra Bolsonaro",
diz o texto divulgado pelo filho do presidente.
Ainda que os Bolsonaro possam estar
genuinamente convencidos de que os dados da pesquisa são falsos, o fato é que o
Centrão não gosta de apostar em perdedor. Melhor o presidente da República
redobrar a atenção para os movimentos dos aliados. Quanto mais difícil fica o
cenário para ele, mais aumentam as chances de debandada.
Lula disse que o aborto é questão de saúde pública,''defender'' o aborto é outra coisa,a direita sempre torcendo os fatos.
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