O Globo
Há o que o ex-ministro Milton Ribeiro fez,
e há o que ele não fez na Educação. É difícil saber o que é mais
condenável. A Polícia Federal investiga as suspeitas de corrupção no órgão,
com a participação de pastores que liberavam verba, pediam propina e mandavam
na agenda do próprio ministro. Enquanto o MEC era dominado por pessoas e agenda
estranhas aos interesses públicos, o governo federal deixava de coordenar a
educação brasileira numa crise de grandes proporções.
A pandemia chegou na educação como uma bomba de destruição em massa. Por causa dela, milhões de crianças ficaram sem estudar, meninos e meninas entrando na fase de alfabetização tiveram seus estudos interrompidos. Os dados mostram que houve uma perda forte de aprendizagem. O Brasil regrediu numa área em que tem um atraso crônico. O Ministério da Educação nunca foi tão necessário.
Ribeirou assumiu o MEC em julho de 2020, no
lugar do ex-ministro Abraham Weintraub, que também deixou a pasta após uma
série de polêmicas. Não há, no governo Bolsonaro, nada a se comemorar na área.
Na visão do consultor Binho Marques, ex-governador do Acre e especialista em
educação, as duas gestões se complementam e têm uma marca em comum: a omissão.
— Eles foram omissos em tudo. O Brasil tem
uma organização da educação muito diferente da do resto do mundo. Há muita
autonomia dos estados e dos municípios. Mas a maioria não tem condições
técnicas nem financeiras. Eles precisam do MEC, é uma necessidade de
coordenação. O que vimos foi justamente o contrário, um retrocesso histórico
—explicou.
O país viveu os piores momentos da crise de
saúde completamente acéfalo na educação. No lugar de apoio a prefeitos,
governadores, professores e reitores de universidades, o que se viu foram
ataques coordenados pelo presidente Jair Bolsonaro ao que eles chamam de
“política do fique em casa”. Ou seja, os entes subnacionais foram largados à
própria sorte porque se recusaram a não combater os danos à saúde provocados
pela pandemia.
A presidente-executiva do Todos Pela
Educação, Priscila Cruz, lembra que não houve ações básicas para diminuir os
impactos sobre o aprendizado dos alunos. Ao contrário, o governo dificultou
como pôde a implementação do ensino não presencial, porque não queria o
fechamento das escolas.
— O que ele fez foi vetar o acesso à
conectividade de alunos e professores. E o que não fez foram ações para mitigar
os efeitos da pandemia sobre a aprendizagem dos alunos. Ao mesmo tempo, abraçou
a defesa do homeschooling, como pauta que agrada os evangélicos mais radicais —
disse.
O Todos Pela Educação tem feito um enorme
esforço para transformar em números os efeitos da pandemia sobre o setor. O
país já sabe que entre 2019 e 2021 houve um aumento de 66% no número de
crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler nem escrever. Foi um salto de 1,4
milhão para 2,4 milhões. Os mais pobres sofreram mais do que os mais ricos,
assim como os pretos e pardos, em relação às crianças brancas.
A evasão escolar disparou. No segundo
trimestre de 2021 houve aumento de 171% no número de crianças e jovens fora da
escola, entre 6 e 14 anos. Ribeiro poderia ter atuado para diminuir e amenizar
esses números, mas preferiu culpar governadores e prefeitos por não terem seguido
as orientações do presidente Bolsonaro.
Binho Marques diz que o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) sempre foi alvo de cobiça dos políticos,
porque movimenta um orçamento em torno de R$ 65 bilhões por ano. Mas desde o
governo Itamar Franco, passando por Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer,
foram criados mecanismos para a blindagem do órgão. No governo Bolsonaro, isso
acabou.
— O FNDE, que havia se tornado uma
autarquia exemplar, foi completamente loteado, transformado em um balcão de
negócios, que lembrou o período pré-Itamar. Acabou a profissionalização —
disse.
No ensino superior, as universidades foram
consideradas inimigas do governo. Há cortes de energia por falta de verbas,
escassez de produtos básicos como papel higiênico, e estrangulamento no valor
de bolsas de mestrado e doutorado. Pesquisadores pedem demissão por falta de
condições de trabalho.
A corrupção e a omissão são os legados do governo Bolsonaro na educação. O ministro Ribeiro fez parte desse projeto.
Projeto: formação de quadrilha no MEC!
ResponderExcluirCruzes,Bolsonaro destruiu tudo!
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