O Estado de S. Paulo
Bolsonaro entrou em modo desespero e Lula não indica se entendeu o que vem em 2023
Neste momento político da corrida eleitoral
os horizontes dos dois líderes se distanciaram bastante. O de Lula já está em
2023. O de Bolsonaro se reduziu aos próximos 101 dias (2 de outubro é a data do
primeiro turno).
O presidente se envolveu numa custosa
operação política de curtíssimo prazo para o tamanho do objetivo, que é baixar
na marra o preço dos combustíveis. Até aqui não conseguiu, nem colocou de pé a
ajuda para quem não tem como pagar gás e diesel. Sendo a mesma coisa as
políticas de governo e a eleitoral, nenhuma está funcionando.
Tampouco estão ajudando “imponderáveis” para a campanha dele, como a prisão do ex-ministro da Educação, por quem disse que poria a cara no fogo. Ao eleitorado cativo pouco importa, pois populistas como Bolsonaro não dependem de coerência entre palavras e ações. Em situações adversas desse tipo, tornam-se “traídos” – mas é uma “vitimização” que não acrescenta votos.
Visivelmente confortável na liderança das
pesquisas, Lula não indica em público se tem noção exata do desastre político –
para um chefe de Executivo – que herdaria de Bolsonaro. Pode até parecer
“confortável” para um agrupamento político como o PT o recente assalto ensaiado
pelo Centrão às instâncias que protegem estatais de interferências políticas,
mas a questão é mais abrangente.
Não se trata simplesmente de colocar a
Petrobras de joelhos e voltar a lotear as diretorias de estatais, algo que o PT
e seus aliados (como o MDB) praticaram com os conhecidos resultados. A volta
triunfante do clientelismo vem acompanhada agora de instrumentos inéditos de
poder por parte do Legislativo.
Em termos brutais, se o “mensalão” de uns
20 anos atrás foi ferramenta para assegurar maiorias, esse instrumento hoje nem
sequer existe. As emendas do relator permitem às lideranças parlamentares
administrar seu próprio “mensalão” de forma perfeitamente legal.
Lula está enganado se pensa que se entender
com o Centrão é questão de habilidade política. Teria de lidar em 2023 com uma
massa relativamente atomizada de parlamentares sem dispor de espaço fiscal ou
ferramentas para exercer controle – teria os votos para não ser impichado, mas
não as maiorias para implementar qualquer matéria de longo alcance.
E isto tudo é só a política. Estão se
adensando os sinais de uma recessão em algumas das principais economias lá
fora, com inevitáveis consequências para o Brasil. Vencendo, Lula assume num
momento global de contração e não de expansão, como aconteceu em seu primeiro
mandato. Se entendeu o que vem em 2023, ainda não foi ao microfone avisar a
todos nós a bordo: “brace for impact”.
Lula bem que sabe do estado de terra arrasada que vai herdar.
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