sexta-feira, 24 de junho de 2022

Nelson Motta: Que liberdade é essa?

O Globo

O liberalismo econômico expressa a liberdade de empreender sem que o Estado atrapalhe, como se vê nos EUA. E não no Brasil, onde o governo quer interferir em tudo que lhe atrapalhe os objetivos

“Ó liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome”, disse a escritora e política Manon Roland, em 1793, a caminho da guilhotina, vítima da própria Revolução Francesa que ajudou a construir.

E um dos piores é matar a liberdade dos outros.

Quando “aquela pessoa” tenta justificar seus passados e futuros crimes dizendo que daria a vida pela liberdade, que a liberdade é mais importante que o oxigênio, o público pergunta: que liberdade é essa? Para mentir, difamar, caluniar, ofender e até ameaçar a democracia? Sim, numa democracia todo mundo pode dizer o que quiser — desde que assuma a responsabilidade, arque com as consequências legais e respeite as decisões da Justiça. Já na receita chavista a democracia é usada para destruir a democracia.

Liberdade é como pastel: todo mundo gosta. Quem não quer ser livre? Mas a liberdade tem um preço: respeitar a liberdade do outro.

Claro: liberdade não se ganha, se conquista, como a nossa foi conquistada a duras penas pelos nossos antepassados e por nós mesmos. E pode ser perdida a qualquer momento, ou gradativamente, até que reste só a liberdade de quem manda.

E, afinal, liberdade para quê? Para não ter trabalho, saúde e educação e passar fome? Liberdade para morrer de uma bala perdida ou assassinado na selva? Que liberdade é essa ?

Para as novas gerações deve parecer algo natural como respirar, mas a que só se dá o devido valor depois que se perde. Os que viveram a ditadura sabem o quanto custaram 20 anos de censura, proibições e prisões que destruíram a liberdade em nome de Deus, da Pátria e da Família.

Agora “aquela pessoa” acha que a liberdade de 25% de fanáticos que o apoiam deve prevalecer sobre a liberdade de 65% das pessoas que o rejeitam. Seria um inédito golpe da minoria contra a maioria das forças políticas, do eleitorado e da opinião pública.

Como o próprio nome diz, o liberalismo econômico expressa a liberdade de produzir e comercializar, de empreender e inovar sem que o Estado ponha as patas e atrapalhe, como se vê nos Estados Unidos. E que não se vê no Brasil, onde o governo quer interferir em tudo que lhe atrapalhe os objetivos, dos mais nobres aos mais mesquinhos. Pela primeira vez na nossa História, o presidente tem uma “bancada” de dois ministros no Supremo Tribunal Federal, que o obedecem cegamente. Que liberdade eles têm para julgar?

Em nome da liberdade, “aquela pessoa” quer suprimir a liberdade de cada um fazer do seu corpo o que quiser, de cada família criar e educar seus filhos como bem entender, de cada um exercer a liberdade de opinião sem restrições, perseguições e difamações.

Mais crimes do que cometidos em nome da liberdade, só em nome de Deus.

Estou em modo detox mental, uma semana sem falar o nome “daquela pessoa”, limpeza simbólica. Bom finde.

 

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