segunda-feira, 13 de junho de 2022

Ricardo Mendonça: Palanques estaduais são desafio para Tebet

Valor Econômico

Divisão entre MDB e PSDB travam pré-campanha da senadora

Após meses de disputa de bastidores e complexa articulação, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) conseguiu viabilizar sua pré-candidatura à Presidência com PSDB e Cidadania - conjunto que se autointitula “centro democrático” e se apresenta como alternativa à polarização.

Na sexta-feira, recebeu um manifesto de apoio assinado por diversos empresários e economistas, em um arco de Horacio Lafer Piva a Armínio Fraga, passando por Luis Stuhlberger, Fabio Barbosa e Affonso Celso Pastore. O objetivo do grupo, segundo um dos signatários, Pedro Passos, era criar um fato para que o nome da senadora se tornasse mais conhecido nacionalmente.

Na política regional, entretanto, ela entra na disputa sem palanques efetivos em Estados estratégicos. Com 2% ou 3% nas pesquisas, Tebet não transmite segurança a pré-candidatos a governador de siglas aliadas. Em locais com tradição à esquerda, como Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará, os arranjos de emedebistas são com o PT.

O MDB deve indicar vices, por exemplo, aos petistas Jerônimo Rodrigues, Bahia, e Fátima Bezerra, candidata à reeleição no Rio Grande no Norte. No Piauí, a aliança local PT-MDB também é antiga.

Já em regiões mais bolsonaristas, candidatos a governador por MDB ou PSDB, por cautela, tendem a manter distância de Tebet para não desagradar o eleitorado.

O entrosamento entre PSDB e MDB é baixo nos Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, os tucanos abriram negociação para formar uma chapa com o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), que é o candidato a governador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já o MDB está no arco de apoio do governador Claudio Castro (PL), candidato do presidente Jair Bolsonaro. No Distrito Federal, o senador Izalci Lucas (PSDB) deve enfrentar nas urnas o governador Ibaneis Rocha (MDB), ligado ao bolsonarismo.

Uma exceção do desencontro está em São Paulo. A vinculação formal de Tebet será com o governador Rodrigo Garcia (PSDB). O MDB deve fornecer o candidato a vice na chapa do tucano. Garcia, contudo, ainda não se comprometeu com um apoio efetivo à senadora, sempre citando que sua coligação envolve partidos com outras candidaturas a presidente. Ele ainda tenta garantir o apoio do União Brasil, para quem deve ficar reservada a vaga ao Senado

Dificuldades existem no próprio Estado da senadora, o Mato Grosso do Sul. O MDB local deverá concorrer com o ex-governador André Puccinelli, hoje líder. O PSDB lançou Eduardo Riedel. O marido de Simone Tebet, Eduardo Rocha, é secretário estadual.

No papel, seria uma palanque duplo para Tebet., mas Riedel deve apoiar Bolsonaro. A presença de Rocha na órbita do grupo Azambuja-Riedel tende a criar dificuldade para que a dobradinha Puccinelli-Tebet deslanche. E o fato de o principal rival de Riedel ser do MDB empurra ainda mais o grupo tucano para o campo bolsonarista. O terceiro candidato competitivo no Mato Grosso do Sul, o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) disse à imprensa local que está torcendo para os dois na eleição presidencial: Bolsonaro e Lula.

Os apoios mais visíveis para Tebet tendem a ocorrer por exclusão - onde candidatos a governador da “terceira via” não têm condições de se aproximar do PT nem de Bolsonaro - ou nas áreas onde abraçar uma candidatura vista como neutra parece conveniente.

O Rio Grande do Sul é um exemplo do primeiro caso. O ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que lidera pesquisas de intenção de voto, deve tentar um novo mandato e há uma forte pressão para que o deputado estadual Gabriel Souza (MDB) retire sua candidatura para apoiar a senadora. Lá o bolsonarismo está dividido em duas candidaturas, do deputado federal Onyx Lorenzoni (PL) e do senador Luiz Carlos Heinze (PP).

O Pará é um exemplo da segunda situação. Candidato à reeleição, Helder Barbalho (MDB) juntou ao redor de si um leque enorme de forças políticas, com bolsonaristas e figuras simpáticas a Lula. Nessa situação, convém a ele propagandear apoio a Tebet.

No MDB, calcula-se que Tebet pode reunir apoio de até 22 diretórios. “Mas ninguém imagina que um exército desse tamanho irá arregaçar as mangas por ela”, diz um analista. (Colaborou César Felício)

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