Folha de S. Paulo
Efeito da demagogia no preço será mínimo,
mas Bolsonaro quer botar a culpa em alguém
Jair Bolsonaro quer queimar na fogueira a
bruxa da Petrobras.
Ainda que não consiga baixar o preço
da gasolina e do diesel em alguns centavos, o que está mesmo difícil,
tenta açular a horda contra um inimigo do povo, uma personagem do Ibsen do
lixão dos desclassificados.
Parece se divertir com isso também, como um
moleque arruaceiro surtado que desabafa seu ódio rindo com a destruição que
causa: com a CPI,
a Petrobras iria perder mais R$ 30 bilhões, como disse no final de semana.
A CPI talvez não venha, mas serviu como ameaça facinorosa, que acabou por derrubar o presidente da petroleira, mas não apenas. O poderoso centrão, presidente da Câmara e chefe da família que sustenta Bolsonaro e faz as vezes de governo, Arthur Lira (PP-AL) ameaçou pegar a família dos diretores da Petrobras e fuçar a vida deles por meio da Comissão Parlamentar de Inquérito. É um aviso a quem se meter a besta.
Da parte do poderoso centrão, dos partidos
mais lambuzados no petrolão e no mensalão, é também um movimento de guerrilha,
para derrubar
a lei das estatais. Assim ficaria mais fácil nomear alguém para uma
"diretoria que fura poço", na frase imortal de Severino Cavalcanti.
Cavalcanti foi o primeiro grito de guerra e Carnaval do centrão, eleito
presidente da Câmara em 2005, caído por corrupção em lanchonete. Parecia
escárnio, mas era aviso. Lira é a metamorfose sinistra de Cavalcanti.
Em lugar mais sério, Lira teria problemas
com sua ameaça. Se sabia de rolo na Petrobras e não fez nada até agora,
prevaricou. Se não sabe de nada, comete algum tipo de ameaça ou de
constrangimento ilegal. Cadê a CPI da Codevasf ou do FNDE, das suspeitas de
superfaturamento de negócio com emenda parlamentar?
Quanto à maçaroca de medidas incompetentes
e estelionatárias, pouco devem render até em termos demagógicos. Se o lucro
inteiro da Petrobras fosse para o vinagre, para subsídio, o preço do litro da
gasolina e do diesel não baixaria mais de R$ 1 e recomeçaria a ruína da
empresa. Tributar a exportação de petróleo bruto é idiotice mesmo para a
malandragem (a Petrobras perde dinheiro e se faz o quê com petróleo bruto?
Fogueira?).
Vale-gás
e auxílio-caminhoneiro até
que ajudam alguma gente, mas são políticas sociais ruins. Estourar de novo o
teto de gastos para dar subsídio direto vai render centavos no preço e causar
dano colateral imediato e mais inflação e/ou juros.
Em suma, trata-se de um bando de
trogloditas que lida com uma máquina complicada. Em tempos mais calmos, os
brucutus cheiram e arranham a máquina. Na fúria, arrebentam tudo a bordoada,
para ver se de lá sai uma banana, um ovo de ouro, dinheiro ou votos.
Quanto a Bolsonaro, claro, sempre foi isso.
Além de tentar disfarçar sua laborfobia, ignorância e covardia (a culpa é
sempre de outrem), exprime seu ressentimento do fracassado por meio de
variações do desejo de matar: destrua-se o sistema, linchem os governadores na
epidemia, o STF em qualquer situação, os quilombolas, o fiscal ambiental, os
índios, os gays, a esquerdalha etc.
Tudo isso é muito velho, sabido por
qualquer pessoa adulta e sã. A observação reiterada serve para lembrar o papel
dos colaboracionistas mais disfarçados, os que chamavam o Brasil de "um
país normal", os que diziam "fora ruídos, vejo avanços" e os
omissos em geral, das elites em particular.
Mais do que isso, serve para lembrar a essa
gente: Bolsonaro não tem limite. Vai destruir o que estiver no caminho do seu
projeto de tirano e de livrar a família da cadeia. Vai quebrar o país, se
juntar a qualquer tipo miliciano ou centrão. Se puder, vai pegar você, a sua
empresa e o seu dinheiro.
É,Bolsonaro é capaz de tratorar tudo.
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