terça-feira, 26 de julho de 2022

Andrea Jubé - PSB confirma Alckmin, com impasses estaduais

Valor Econômico

PSB cobra aliança na Paraíba, onde PT fechou com MDB

Na política, como no amor, não raro se processa o acordo dos contrários. A frase é do ex-ministro das Relações Exteriores João Neves da Fontoura, que serviu aos presidentes Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra. A reflexão era sobre o conturbado relacionamento entre dois aliados que volta-e-meia rompiam e, mais tarde, se reconciliavam: Vargas e seu ex-ministro da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores Osvaldo Aranha.

Para Neves da Fontoura, os temperamentos de Vargas e Aranha contrastavam totalmente e, talvez por isso, se completassem. “Aranha - homem-multidão - vivia sempre cercado, falando sem cessar, com plateia permanente”, descreveu o ex-chanceler em suas memórias. Vargas, embora comunicativo e sorridente em público, era reservado e contido nas rodas privadas.

A citação do “acordo dos contrários” é oportuna. Após a confirmação da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência, no dia 21 de julho, a homologação do nome do ex-governador Geraldo Alckmin como vice do petista, que se dará na convenção nacional do PSB na sexta-feira (29), sacramentará uma das chapas mais improváveis da história política recente do país.

 “Na política, como no amor”, está posta a união dos ex-adversários: Lula, o “homem-multidão”, e Alckmin, o vice reservado, mas capaz de desarmar um petista radical com seu arsenal de piadas sobre Pindamonhangaba. Em tempos em que as campanhas ainda eram republicanas, sem notícias falsas e ameaças à democracia, Lula e Alckmin trocaram farpas quando se enfrentaram na campanha de 2006. “Trocamos botinadas”, Lula costuma dizer, sobre as desavenças do passado.

Pois 16 anos depois, o entrosamento entre Lula e Alckmin é de despertar inveja em muitos casais. “Eu tenho sorte com vice”, derramou-se Lula no dia 12 de julho, em evento na Confederação Nacional do Comércio (CNC). Relembrou a afinidade com o empresário José Alencar, morto em 2011, que foi seu vice de 2003 a 2010, para elogiar o novo aliado na sequência: “minha relação com Alckmin hoje é de fidelidade e companheirismo. Ele não será um vice de brinquedo, será um vice de verdade”. A história recente ensinou que a experiência do PT com vices decorativos não acaba bem.

As cúpulas de PT e do PSB querem tentar reproduzir essa harmonia na convenção desta sexta-feira, à qual Lula comparecerá. Nos bastidores, os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, e do PSB, Carlos Siqueira, estão afinados, mas o clima está longe de uma lua-de-mel entre os dois partidos em pelo menos três Estados, onde o quadro é considerado mais tenso: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraíba.

Segundo interlocutores de Gleisi e Siqueira, após meses de negociações, ambos consideram os impasses nos diretórios gaúchos e fluminenses incontornáveis. Diante desse diagnóstico, a ideia quanto a esses dois Estados é deixar tudo como está, liberando as candidaturas dos dois lados. Na Paraíba, entretanto, Siqueira ainda cobra o apoio do PT à reeleição do governador João Azevêdo, mas os petistas estão se coligando ao MDB.

No Rio Grande do Sul, PT e PSB são inimigos figadais e, ao contrário de Lula e Alckmin, não superaram as diferenças para unir a esquerda local. No dia 23 de julho, o diretório estadual do PSB oficializou a candidatura do ex-deputado federal e vice-presidente da legenda, Beto Albuquerque, ao Palácio Piratini. Ele deve concorrer com chapa pura, após as tentativas frustradas de atrair PDT e PSD.

Em outra frente, o PT gaúcho adiou para 31 de julho a convenção em que vai homologar a candidatura do deputado estadual Edegar Pretto ao governo. Para imprimir fôlego à chapa, o PT, na federação com PV e PCdoB, vai lançar ao Senado o ex-governador Olívio Dutra, fundador do PT e amigo de Lula.

No Rio de Janeiro, o PSB formalizou, no dia 20 de julho, as candidaturas de Marcelo Freixo ao governo e do deputado federal e presidente regional da sigla, Alessandro Molon, ao Senado. O gesto irritou o PT, que reivindica a vaga de candidato ao Senado na chapa de Freixo ao deputado estadual André Ceciliano.

O PT acusa o PSB de trair acordo, enquanto a legenda de Molón e Freixo nega a existência desse entendimento. Além disso, pessebistas argumentam que o PT não retirou a candidatura de Edegar Pretto em apoio a Albuquerque no Rio Grande do Sul. Por isso, não se justificaria a contrapartida no Rio de Janeiro em relação a Molon.

Dirigentes do PT fluminense têm defendido o rompimento com o PSB e uma aliança com o PSD do prefeito Eduardo Paes, mas pessebistas duvidam que essa articulação avance. A candidatura de Freixo ao governo do Rio foi uma das primeiras chapas costuradas pessoalmente por Lula, ainda em meados de 2021.

Na Paraíba, o principal obstáculo para que as duas siglas caminhem juntas é a oposição do ex-governador Ricardo Coutinho, que trocou o PSB pelo PT em setembro do ano passado. Padrinho político do governador João Azevêdo (PSB), Coutinho rompeu com o ex-aliado e agora quer disputar o Senado. Para viabilizar o projeto, articulou o apoio do PT à postulação do senador Veneziano Vital, do MDB, ao governo, com o apoio de Lula - e contra Azevêdo.

A cúpula do PSB argumenta, entretanto, que Coutinho é inelegível. Portanto, não faria sentido o PT deixar de apoiar a reeleição de um governador do PSB para investir em uma postulação sem futuro. Em 2020, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Coutinho inelegível por abuso de poder político quando concorreu à reeleição em 2014. Mesmo com a decisão do TSE, Coutinho ainda concorreu à Prefeitura de João Pessoa naquele ano, mas terminou em sexto lugar.

O PSB pondera que, quando chegar o momento do registro das candidaturas em agosto, o requerimento de Coutinho será negado pela Justiça Eleitoral.

Na política, o “acordo dos contrários” molda-se no plano nacional. Nos Estados, não raro se processa a luta dos contrários.

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