sexta-feira, 29 de julho de 2022

Bernardo Mello Franco - Lula e a reeleição

O Globo

Com ampla vantagem nas pesquisas, o ex-presidente Lula fez um aviso à praça: se vencer a eleição, não pretende se candidatar novamente em 2026. Na quarta-feira, o petista se disse decidido a não disputar um eventual quarto mandato. “Sinceramente, eu não penso em reeleição”, afirmou, em entrevista ao UOL. “Eu não quero. Eu não tenho idade”, concluiu.

Se eleito, Lula subirá a rampa do Planalto aos 77 anos. Será o político mais idoso a assumir a Presidência no Brasil. Hoje o recorde pertence a Michel Temer, que vestiu a faixa aos 75. Quando Getúlio Vargas voltou ao poder, em 1950, uma marchinha de Haroldo Lobo o apresentou como o “velhinho” cujo sorriso faria o povo se animar. O ex-ditador tinha 68 anos, nove a menos do que Lula terá em outubro. No próximo ciclo eleitoral, o petista estará com 81 anos. É um bom argumento para sustentar a tese da aposentadoria voluntária.

Lula busca vender a ideia de que, se eleito, fará uma espécie de governo de transição. Seu objetivo seria reconstruir o país arrasado pelo bolsonarismo e fechar a própria biografia com chave de ouro. “Quero trabalhar em quatro anos por 40”, afirmou, numa adaptação do slogan de Juscelino Kubitschek.

O discurso soa como música para aliados e adversários. Ao indicar que não faz planos de longo prazo, Lula alimenta as ambições de muitos políticos. De seu vice Geraldo Alckmin, que já perdeu duas eleições presidenciais, ao tucano Eduardo Leite, que adiou o sonho para 2026.

A conversa também agrada setores da elite que se desiludiram com Jair Bolsonaro, mas resistem a embarcar na canoa lulista. Em reuniões com empresários e investidores, o petista tem ouvido perguntas insistentes sobre uma eventual reeleição. A promessa de ceder a vez serve de “vacina” contra esses questionamentos. A questão é saber se o discurso de candidato pode ser comprado pelo valor de face.

Em 2018, Bolsonaro prometeu não tentar um segundo mandato. Quatro anos depois, faz o que pode e o que não pode para tentar permanecer na cadeira. Na entrevista ao UOL, Lula disse que a reeleição foi “a única coisa boa que o Brasil copiou dos Estados Unidos”. Argumentou que quatro anos são pouco tempo para concluir grandes obras: “Entre você pensar o projeto e aprovar em todas as instâncias de fiscalização, terminou o seu mandato”.

Ao fim de uma eventual terceira gestão, o ex-presidente pode concluir que não conseguiu fazer tudo o que gostaria. Se ele estiver com saúde e popularidade em alta, será difícil convencê-lo a voltar para casa.

 

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