O Globo
Ex-presidente Lula está disposto a puxar Bolsonaro
para o centro do ringue, onde ele sempre hesitou em estar
A entrada de Lula mais efetivamente em
campo, a troca da guarda no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na semana que
vem, a entrada em vigor dos benefícios da PEC Kamikaze e o esperado ato em
defesa da democracia no próximo dia 11 são apenas alguns eventos que definirão
os rumos da campanha daqui por diante. Agosto chega, acaba o aquecimento, e o
jogo começa para valer.
Lula parece ter enxergado que a oposição
deu espaço demais para Bolsonaro crescer e resolveu mudar sua postura. A
entrevista ao UOL e a disposição manifestada de conceder outras, bem como de
participar de alguns debates, mostram o ex-presidente disposto a puxar
Bolsonaro para o centro do ringue, onde ele sempre hesitou em estar.
Além disso, o petista intensificou o trabalho de bastidores. De difícil consecução, dadas as dificuldades históricas e regionais de entendimento, uma aliança com o União Brasil poderia ser a cartada que faltava para assegurar uma coalizão forte o bastante para garantir a vitória dele em primeiro turno. Justamente por ser tão improvável e tão poderosa, é uma costura que deverá ser combatida com todo o peso possível pelo governo federal e por seus aliados no Congresso, com as armas de praxe.
A saída de Lula para o jogo aberto coincide
com a reação mais robusta vista até aqui da sociedade civil aos avanços
golpistas de Bolsonaro. O presidente é, sabidamente, um político medroso e
reativo. Tanto é assim que vestiu a carapuça do peso dos manifestos em prol da
democracia e já articula iniciativas para tentar se blindar, como a ideia de
uma Proposta de Emenda à Constituição que crie a figura do senador vitalício
para ex-presidentes e lhe assegure alguma garantia de que não será processado
pelos crimes cometidos agora se perder as eleições.
Da mesma natureza são as conversas de
bastidores de ministros do Centrão ainda no barco de Bolsonaro com Alexandre de
Moraes, que assume a presidência do TSE em 5 de agosto. Ao vender que poderá
haver algum “acordo” para que a Justiça Eleitoral acate sugestões das Forças
Armadas — usando a ameaça de tumulto no 7 de Setembro como moeda de negociação
—, esses ministros buscam uma saída honrosa para a escalada golpista do
presidente e para os militares, que nesta semana sentiram o peso das cobranças
vindas do governo americano para que sigam seu papel constitucional.
É bem pouco provável que Moraes, alvo
preferencial de Bolsonaro e seus asseclas, tope qualquer acordo depois da carta
que Michel Temer escreveu, e Bolsonaro logo tratou de jogar no triturador. As
recentes medidas do ministro apenas reforçam o caminho da linha dura que deixa
o presidente furioso.
Além disso, a tomada de consciência cívica
por parte da sociedade civil e de entidades poderosas, como a Fiesp, a Febraban
e as centrais sindicais, dá ao TSE e ao Supremo Tribunal Federal o apoio que
vinha faltando por parte do Congresso Nacional e do Ministério Público Federal.
Na falta de tônus democrático dessas instituições, as pessoas físicas e
jurídicas se ergueram. O recado foi tão alto que levou até Arthur Lira a fazer
muxoxo e defender as urnas eletrônicas, depois de mais de uma semana de
silêncio cúmplice. Até Augusto Aras, parece, voltará das férias algum dia.
O 11 de agosto é uma data crucial para neutralizar o 7 de setembro incendiário que Bolsonaro vem convocando na maior cara de pau, sem nem disfarçar seu pendor autocrático. A depender da representatividade e do tamanho do grito de “Basta!” que ecoar das arcadas do Largo São Francisco, o presidente terá de recuar suas tropas e evitar o sequestro do Bicentenário da Independência, termo tão bem cunhado pelos intelectuais Carlos Lima Junior, Lilia Schwarcz e Lúcia Klück Stumpf em livro a ser lançado na semana que vem sobre outros momentos da História em que, como agora, a data nacional foi usada como biombo por grupos políticos.
Augusto Aras está de férias desde o primeiro dia do seu mandato! Sua omissão à frente do MPF talvez seja pior que o ativismo politiqueiro do Bla-blalanhol. Difícil saber qual o maior canalha...
ResponderExcluirEu acho que o Lula não devia seguir essa linha agressiva,agressividade não leva à nada.
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