Uma viagem ao tempo da poesia, da música,
através dos relatos afetivos, das convivências e das parcerias musicais destes
dois consagrados artistas brasileiros.
As memórias pessoais e familiares, assim
como o processo de criação de Capinan e Roberto vão sendo lembrados,
visualizados, recitados e cantados através das parcerias de mais de 20 anos.
Um mundo cultural e um mundo espiritual se
abrem com a flor da memória a partir do Sertão, do mar da Bahia, do Recôncavo e
de Santo Amaro, irradiando belezas por toda a parte.
Uma viagem nas nossas próprias vidas, no
mundo em que vivemos, nas nossas humanidades, no Brasil que temos e o que
queremos ter.
Uma noite encantada, que maravilha de ser!
“A Flor da Memória” nos animou, nos temperou e nos desafia nesses ásperos momentos que estamos vivendo para a valorização dos nossos valores culturais, espirituais, ancestrais e atuais. Leva-nos também a celebrar a vida em cada um de nós, nas nossas comunidades, na sociedade brasileira, nos tornando uma melhor humanidade, no caminho de uma sociedade sustentável. A sustentabilidade como possibilidade a ser construída para o Brasil e para toda a humanidade.
A
sociedade atual é insustentável
Vivemos permanentemente o conflito entre o
Ter e o Ser.
As transformações vertiginosas ocorridas e
em curso na sociedade moderna e seus impactos na natureza mudam significativamente
a vida política, econômica e social a
nível global e regional, transformando a maneira de ser e estar de cada um de nós. Consolidamos um modelo
urbano e industrial, concentrado em algumas regiões do planeta, que modificaram
e modificam as relações da humanidade com a natureza, impactando a vida
cultural e espiritual dos povos.
Este modelo hegemônico insustentável foi
transformando, destruindo e modificando os valores das sociedades anteriores,
impactando o cotidiano das pessoas, os hábitos e os costumes seculares de
preservação da vida em todo o planeta.
A base científica e técnica da sociedade
atual, principalmente a partir do aparecimento da internet – do funcionamento
das redes de comunicação em escala
mundial –, construiu uma nova dinâmica nestas novas relações sociais,
econômicas, culturais e espirituais, modificando as nossas crenças e nossos
valores, proporcionando uma troca de informações em tempo real, entre
diferentes povos e culturas, de uma maneira vertiginosa, nos trazendo a
sensação da nossa incapacidade de acompanhar este mundo novo, mudando
radicalmente a nossa percepção do real, no tempo e no espaço – território onde
vivemos e construímos nossas vidas.
A realidade e os valores em questão estão em permanente transformação, nos modificando como ser humano e impactando de uma maneira, muitas vezes irreversível, a própria natureza.
Assim, cada vez mais, a pluralidade, a
quantidade e a qualidade de informações impactam o nosso dia a dia. As fake news fazem parte da vida política,
econômica e social. Vivemos criando
desejos nas redes sociais e nos shoppings, os quais na maioria das vezes não conseguimos
realizar.
A pandemia atual, como as outras
acontecidas na história da humanidade, nos desafia e nos coloca a refletir
sobre a fragilidade humana e o mundo em que vivemos. O consequente isolamento
social e o trabalho em home office
criam novas realidades, narrativas e conflitos para afirmar, negar ou construir
outras possibilidades de ser e estar, impactando a nossa vida em sociedade.
Aqui, destaque-se a capacidade, cada vez maior, da Ciência e da Tecnologia no cotidiano das pessoas, através das Tecnologias da Informação, que impacta de maneira vertiginosa o mundo do trabalho, da educação e da cultura. A globalização em curso e o avanço das comunicações constroem realidades fragmentadas, impactando a vida de cada um de nós e de toda a humanidade.
O que
estamos fazendo e podemos fazer no caminho da sustentabilidade
“A Flor da Memória” nos anima e nos alenta
na construção desta sociedade sustentável.
A vida pode ser melhor e será. Aponta e nos desafia em acreditar na capacidade
de transformação da sociedade, preservando a nossa diversidade cultural e
espiritual, dando sentido às nossas vidas, nos tornando uma melhor humanidade.
Capinan e Roberto Mendes reafirmam as
possibilidades brasileiras de construção de uma civilização plural,
contemporânea com os nossos humanismos construídos historicamente com a afetiva
e efetiva contribuição das nossas ancestralidades indígena, africana,
portuguesa e de outros povos que vieram e continuam a contribuir para esta
nossa civilização tropical.
“A Flor
da Memória” resgata e nos faz refletir sobre a nossa cultura de raiz, sobre o
que somos e o que poderemos ser como humanidade.
Os valores vigentes podem ser
transformados, incorporando novas narrativas econômicas, sociais, educacionais,
culturais e espirituais comprometidas com a diversidade, pluralidade e
tolerância, respeitando a diversidade, em harmonia com a natureza.
Assim, a fina flor da nossa memória
sinaliza e nos remete à construção de um novo humanismo, que inclua toda a
humanidade, na perspectiva de Ser e não de Ter.
Capinan e Roberto Mendes são carpinteiros
valorosos nesta construção!
O que cada um de nós pode e está fazendo nesta
direção?
Estamos desafiados(as).
Salve a Cultura, a Paz e a Democracia!
Viva Capinan!
Viva Roberto Mendes!
*Professor da UFBa, da Oficina da Cátedra
da Unesco e do Conselho do Instituto Politécnico da Bahia
Permita-me leitor transmitir-lhe, a seguir, trechos do maravilhoso “Yáyá Massemba”, de Capinan e Roberto Mendes
É o
Semba do mundo Calunga
Batendo
Samba em meu peito
Kawo
Kabiecile Kawo
Okê
aro Okê
Quem
nos pariu foi o ventre de um navio
Quem
me ouviu foi o vento do vazio
Do
ventre escuro de um porão
Vou baixar no seu terreiro
Epa
raio, machado, trovão
Epa justiça de guerreiro
Ê
semba ê
Samba
à
O
Batuque das ondas
Nas
noites mais longas
Me ensinou a cantar.
Capinan é um dos meus letristas favoritos.
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