Folha de S. Paulo
Se ele vencer e não houver golpe, pegará
uma conjuntura especialmente difícil
Dentro de um mês, terá início a propaganda
eleitoral gratuita no rádio e na TV. É difícil triunfar numa
disputa presidencial sem passar uma mensagem de esperança ao eleitorado. As
pessoas gostam de ilusões positivas. O risco é o candidato vencedor exagerar na
dose e criar expectativas muito irrealistas em relação ao governo, situação em
que o posterior choque de realidade poderá custar caro ao dirigente.
O Chile é um bom exemplo desse efeito. Gabriel Boric assumiu a Presidência em março, com 50% de aprovação popular. Agora, está com meros 34%. Em quatro meses de mandato, ele perdeu 16 pontos percentuais de popularidade. A julgar pelas pesquisas, o projeto de uma nova Constituição, que, para ser adotada, precisa ser aprovada em plebiscito em setembro, corre sério risco de rejeição. A nova Carta não é obra de Boric, mas ambos se identificam com o campo ideológico da esquerda.
A explicação dos analistas é que Boric se
elegeu prometendo um governo muito diferente dos anteriores, em que haveria o
rechaço da política tradicional, direitos para todas as minorias, respeito ao
ambiente etc. Nada disso se materializou (e nem poderia, em tão curto espaço de
tempo) e a população ainda precisa conviver com uma inflação que roda em torno
dos 10% anuais.
Luiz Inácio Lula da Silva, que é o favorito
para suceder a Jair Bolsonaro, precisa encontrar o ponto de equilíbrio entre
esperança e realismo. Se o petista de fato vencer e não houver golpe, ele
pegará uma conjuntura especialmente difícil, muito pior do que a que encontrou
em 2003. Além da terra arrasada deixada por Bolsonaro, ele terá de lidar com uma situação
fiscal muito pior, uma Presidência com poderes bastante
diminuídos e, possivelmente, com o mundo entrando em recessão. Sua campanha não
pode deixar de vender alguns sonhos aos brasileiros, mas precisaria evitar os
episódios mais explícitos de estelionato eleitoral.
Concordo,Lula não vai conseguir fazer nem metade do que fez no passado.
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