Valor Econômico
Argentina vive nova crise econômica, e cenário futuro é ruim. Como no filme “Feitiço do Tempo”, país parece condenado a repetir erros do passado
A Argentina está em crise novamente. A
inflação neste ano pode chegar (ou até superar) 80%. O dólar disparou e há fuga
de capital. O governo limitou importações e gastos no exterior para conter a
queda das reservas internacionais. Cresce o risco de um novo calote da dívida
pública. Há racionamento de diesel em quase todo o país. A troca da equipe
econômica nesta semana gerou ainda mais incertezas. E não há sinais de melhora
à vista, ao menos até as eleições do ano que vem. Até lá, o governo vai
empurrar com a barriga e deve acelerar o gasto público, com fins eleitorais, o
que agravará a situação.
Tratar da Argentina é como ouvir um disco riscado. O país parece condenado a viver no dia da marmota, como naquele filme (“Feitiço do Tempo”) em que o personagem fica preso numa armadilha temporal que o faz reviver sempre o mesmo dia. É um ciclo contínuo de repetir erros do passado, de expectativa e desilusão. Quando o cenário externo favorece, como no início deste século, o ciclo de expectativa é mais longo. Quando joga contra, como agora com pandemia e guerra, a desilusão toma conta.
No filme, o personagem (um meteorologista
arrogante) de início se diverte com a situação de viver seguidamente o mesmo
dia, mas logo se cansa e tenta, sem sucesso, descobrir como sair disso, como
avançar. Ele então se apaixona, aprende com os seguidos erros, vai melhorando
pessoalmente, o que acaba desfazendo o feitiço do tempo.
No caso da Argentina, porém, não parece
haver nenhuma indicação de aprendizado, que induza uma transformação que tire o
país da sua armadilha. Pelo contrário, a situação econômica, política e social
deve seguir ruim até as eleições gerais de 2023, a não ser que haja uma melhora
acentuada no cenário externo, que não está no radar. Novamente, é o contrário:
cresce o risco de recessão pelo mundo.
A Argentina gasta demais em relação ao que
arrecada. E não consegue se financiar nos mercados internacionais, que não
confiam no país. Assim, o governo usa emissão de moeda pelo Banco Central para
financiar boa parte desse déficit público. Isso, porém, gera inflação. Nos
últimos 20 anos, em apenas dois deles a Argentina teve inflação abaixo de 10%.
No Brasil, no mesmo período, a inflação ficou acima de 10% em apenas três anos
e, ainda assim, por muito pouco. Desde janeiro de 2002, a Argentina acumula
14.291% de inflação, contra 451% no Brasil.
“A Argentina não conseguiu superar o
momento que o Brasil superou na década de 90, que foi emendar um bando de
experiências mal-sucedidas de organização da economia [e, no limite, da
sociedade e do país] - heterodoxas, mistas e mais ortodoxas - e chegar a um
programa com princípio, meio e fim. Eles não tiveram um momento Plano Real”,
diz Lívio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG, pesquisador-associado do FGV Ibre
e um economista estudioso da Argentina.
Em vez disso, a Argentina teve na década de
90 a experiência da dolarização, que segurou a inflação, mas era insustentável.
“A dolarização foi vendida como uma bala de prata. Vamos fingir que somos
ricos. O problema é que você não pode ter o dólar como moeda se você tem a
produtividade da Argentina, e não a dos EUA. A conta não fecha, e a conta
chega. Com isso, faz 25 anos que eles estão catando cavaco”, diz Ribeiro.
Mesmo um governo que tinha uma proposta de
reforma que parecia mais organizada, como o de Mauricio Macri (2015-19),
desandou a partir da derrota nas eleições legislativas de 2017. Para se manter
no poder, Macri fez, na segunda metade do mandato, tudo o que ele antes
criticava, até tabelamento de preços.
Nesta semana, diante da piora econômica, a
Argentina deu uma nova guinada. Martín Guzmán, o ministro da Economia moderado
que renegociou com sucesso a dívida externa argentina com credores privados e
com o FMI, renunciou. Em seu lugar assumiu a heterodoxa Silvina Batakis, ligada
à vice-presidente esquerdista Cristina Kirchner. Na prática, o kirchnerismo ocupou
a área econômica, enfraquecendo o presidente Alberto Fernández.
“Desde o início, sabia-se que seria um
governo muito difícil, pois o presidente estava pendurado no grupo político de
Cristina, que não é confiável, que tem uma visão de mundo muito particular e é
muito impositivo”, diz Ribeiro. “Agora o governo Fernández acabou, Cristina
tomou o governo de assalto.”
“O Gúzman entrou no governo com um
objetivo: renegociar a dívida externa. Eu achava que ele não conseguiria, mas
conseguiu. Depois disso, fazer o quê? Eles não tinham um plano para o dia
seguinte, nunca tiveram. Por várias razões: porque o país não têm a
institucionalidade adequada, uma governabilidade forte, porque é uma bagunça.”
É imperativo para a Argentina conter a
inflação para estabilizar a economia. O acordo com o FMI previa isso: a redução
gradual do déficit público e da emissão monetária, o que deveria levar a uma
diminuição da inflação.
Mas o kirchnerismo se opôs e votou contra o
acordo, por motivos ideológicos e políticos. Ele não acredita nas políticas
econômicas ortodoxas. E avalia que a contenção do gasto público contribuiu para
o governo perder as eleições legislativas do ano passado e pode levar a nova
derrota nas eleições de 2023.
Batakis parece alinhada a esse pensamento
kirchnerista. Ela disse, nos últimos anos, que um déficit de 2%, 3% ou 5% do
PIB é “manejável” e que o problema da inflação se deve a coisas como a falta de
diversificação das cadeias produtivas. Conter a emissão monetária não é
prioridade.
“O que me choca é que ainda tem gente, de
tempos em tempos, que acha que isso vai dar certo”, afirma Ribeiro.
Ele está pessimista com a situação da
Argentina. “É um país que está implodindo. É uma pena”, diz. “A economia está
cada vez mais disfuncional e há risco de descontrole ainda maior. Eles têm de
chegar a um ponto crítico como foi o momento Plano Real no Brasil. Mas acho que
não estão nem perto disso, não há ainda a massa crítica necessária.”
Anos atrás uma crise no vizinho teria
impacto negativo na economia brasileira. “Mas a Argentina é cada vez menos
relevante para o Brasil”, diz Ribeiro, por ter perdido peso na nossa economia.
Ainda assim, ter o seu maior e mais
importante vizinho mergulhado numa crise sem fim é estrategicamente ruim para o
Brasil, pois reduz uma série de possibilidades, como a de tornar o Mercosul uma
área econômica e política mais eficiente, mais aberta, integrada e competitiva.
Esses argentinos burros não sabem votar. Essa Cristina deveria estar em cana.
ResponderExcluirEu acho é pouco, um dia eles aprendem.
ResponderExcluirEla lá na Pantagonia fica cada dia mais rica. Nem o marido a aguentou.
ResponderExcluirUma rata de saias e um bafo intragável para quem fica próximo a ela, múmia pura.
ResponderExcluirCaracole! O anônimo conhece até o bafo da Cristina da Argentina.
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