sexta-feira, 8 de julho de 2022

Humberto Saccomandi: Argentina segue presa ao seu feitiço do tempo

Valor Econômico

Argentina vive nova crise econômica, e cenário futuro é ruim. Como no filme “Feitiço do Tempo”, país parece condenado a repetir erros do passado

A Argentina está em crise novamente. A inflação neste ano pode chegar (ou até superar) 80%. O dólar disparou e há fuga de capital. O governo limitou importações e gastos no exterior para conter a queda das reservas internacionais. Cresce o risco de um novo calote da dívida pública. Há racionamento de diesel em quase todo o país. A troca da equipe econômica nesta semana gerou ainda mais incertezas. E não há sinais de melhora à vista, ao menos até as eleições do ano que vem. Até lá, o governo vai empurrar com a barriga e deve acelerar o gasto público, com fins eleitorais, o que agravará a situação.

Tratar da Argentina é como ouvir um disco riscado. O país parece condenado a viver no dia da marmota, como naquele filme (“Feitiço do Tempo”) em que o personagem fica preso numa armadilha temporal que o faz reviver sempre o mesmo dia. É um ciclo contínuo de repetir erros do passado, de expectativa e desilusão. Quando o cenário externo favorece, como no início deste século, o ciclo de expectativa é mais longo. Quando joga contra, como agora com pandemia e guerra, a desilusão toma conta.

No filme, o personagem (um meteorologista arrogante) de início se diverte com a situação de viver seguidamente o mesmo dia, mas logo se cansa e tenta, sem sucesso, descobrir como sair disso, como avançar. Ele então se apaixona, aprende com os seguidos erros, vai melhorando pessoalmente, o que acaba desfazendo o feitiço do tempo.

No caso da Argentina, porém, não parece haver nenhuma indicação de aprendizado, que induza uma transformação que tire o país da sua armadilha. Pelo contrário, a situação econômica, política e social deve seguir ruim até as eleições gerais de 2023, a não ser que haja uma melhora acentuada no cenário externo, que não está no radar. Novamente, é o contrário: cresce o risco de recessão pelo mundo.

A Argentina gasta demais em relação ao que arrecada. E não consegue se financiar nos mercados internacionais, que não confiam no país. Assim, o governo usa emissão de moeda pelo Banco Central para financiar boa parte desse déficit público. Isso, porém, gera inflação. Nos últimos 20 anos, em apenas dois deles a Argentina teve inflação abaixo de 10%. No Brasil, no mesmo período, a inflação ficou acima de 10% em apenas três anos e, ainda assim, por muito pouco. Desde janeiro de 2002, a Argentina acumula 14.291% de inflação, contra 451% no Brasil.

“A Argentina não conseguiu superar o momento que o Brasil superou na década de 90, que foi emendar um bando de experiências mal-sucedidas de organização da economia [e, no limite, da sociedade e do país] - heterodoxas, mistas e mais ortodoxas - e chegar a um programa com princípio, meio e fim. Eles não tiveram um momento Plano Real”, diz Lívio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG, pesquisador-associado do FGV Ibre e um economista estudioso da Argentina.

Em vez disso, a Argentina teve na década de 90 a experiência da dolarização, que segurou a inflação, mas era insustentável. “A dolarização foi vendida como uma bala de prata. Vamos fingir que somos ricos. O problema é que você não pode ter o dólar como moeda se você tem a produtividade da Argentina, e não a dos EUA. A conta não fecha, e a conta chega. Com isso, faz 25 anos que eles estão catando cavaco”, diz Ribeiro.

Mesmo um governo que tinha uma proposta de reforma que parecia mais organizada, como o de Mauricio Macri (2015-19), desandou a partir da derrota nas eleições legislativas de 2017. Para se manter no poder, Macri fez, na segunda metade do mandato, tudo o que ele antes criticava, até tabelamento de preços.

Nesta semana, diante da piora econômica, a Argentina deu uma nova guinada. Martín Guzmán, o ministro da Economia moderado que renegociou com sucesso a dívida externa argentina com credores privados e com o FMI, renunciou. Em seu lugar assumiu a heterodoxa Silvina Batakis, ligada à vice-presidente esquerdista Cristina Kirchner. Na prática, o kirchnerismo ocupou a área econômica, enfraquecendo o presidente Alberto Fernández.

“Desde o início, sabia-se que seria um governo muito difícil, pois o presidente estava pendurado no grupo político de Cristina, que não é confiável, que tem uma visão de mundo muito particular e é muito impositivo”, diz Ribeiro. “Agora o governo Fernández acabou, Cristina tomou o governo de assalto.”

“O Gúzman entrou no governo com um objetivo: renegociar a dívida externa. Eu achava que ele não conseguiria, mas conseguiu. Depois disso, fazer o quê? Eles não tinham um plano para o dia seguinte, nunca tiveram. Por várias razões: porque o país não têm a institucionalidade adequada, uma governabilidade forte, porque é uma bagunça.”

É imperativo para a Argentina conter a inflação para estabilizar a economia. O acordo com o FMI previa isso: a redução gradual do déficit público e da emissão monetária, o que deveria levar a uma diminuição da inflação.

Mas o kirchnerismo se opôs e votou contra o acordo, por motivos ideológicos e políticos. Ele não acredita nas políticas econômicas ortodoxas. E avalia que a contenção do gasto público contribuiu para o governo perder as eleições legislativas do ano passado e pode levar a nova derrota nas eleições de 2023.

Batakis parece alinhada a esse pensamento kirchnerista. Ela disse, nos últimos anos, que um déficit de 2%, 3% ou 5% do PIB é “manejável” e que o problema da inflação se deve a coisas como a falta de diversificação das cadeias produtivas. Conter a emissão monetária não é prioridade.

“O que me choca é que ainda tem gente, de tempos em tempos, que acha que isso vai dar certo”, afirma Ribeiro.

Ele está pessimista com a situação da Argentina. “É um país que está implodindo. É uma pena”, diz. “A economia está cada vez mais disfuncional e há risco de descontrole ainda maior. Eles têm de chegar a um ponto crítico como foi o momento Plano Real no Brasil. Mas acho que não estão nem perto disso, não há ainda a massa crítica necessária.”

Anos atrás uma crise no vizinho teria impacto negativo na economia brasileira. “Mas a Argentina é cada vez menos relevante para o Brasil”, diz Ribeiro, por ter perdido peso na nossa economia.

Ainda assim, ter o seu maior e mais importante vizinho mergulhado numa crise sem fim é estrategicamente ruim para o Brasil, pois reduz uma série de possibilidades, como a de tornar o Mercosul uma área econômica e política mais eficiente, mais aberta, integrada e competitiva.

5 comentários:

  1. Anônimo9/7/22 03:03

    Esses argentinos burros não sabem votar. Essa Cristina deveria estar em cana.

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  2. Anônimo9/7/22 03:06

    Eu acho é pouco, um dia eles aprendem.

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  3. Anônimo9/7/22 03:08

    Ela lá na Pantagonia fica cada dia mais rica. Nem o marido a aguentou.

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  4. Anônimo9/7/22 03:11

    Uma rata de saias e um bafo intragável para quem fica próximo a ela, múmia pura.

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  5. Caracole! O anônimo conhece até o bafo da Cristina da Argentina.

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