Folha de S. Paulo
Enquanto a maior preocupação dos políticos
for a perpetuação no poder, continuaremos atolados em um lamaçal de pobreza e
populismo
Você prefere estar certo ou ser feliz? "Feliz" no sentido de agradar a audiência e evitar embates para obter ganho ou prazer. Pessoas corajosas preferem estar certas. Políticos brasileiros preferem ser felizes. E o que faz o político brasileiro feliz? Ganhar eleição. Comprovamos isso com a votação da PEC 1, apelidada de "PEC Kamikaze".
A PEC libera a ampliação de bilhões em gastos do governo para auxílio aos mais
pobres. Parece bonito na teoria, mas, na prática, não passa de estratagema
eleitoreiro para furar o teto de gastos. A médio e longo prazos, compromete-se
o futuro das contas públicas, gerando desconfiança de investidores, aumento do
dólar, dos juros e da inflação.
Mas temos uma oposição
para barrar essas medidas tresloucadas, certo? Errado. Apenas
um senador votou contra e 72 votaram a favor, incluindo a bancada do PT. Lula
disse em vídeo que a medida é eleitoreira, mas aprovou. Dissonância cognitiva
como método de propaganda política: o PT afirmou que foi uma vitória, já que
senadores reclamaram da proposta, mas, sabe-se lá por qual motivo, votaram a
favor.
Nós sabemos o motivo: ganhar eleições. Ninguém quer ser tachado de ter votado
contra uma medida para ajudar pobres —já que a maioria da população entende
patavinas de economia. Enquanto a maior preocupação dos políticos for se
perpetuar no poder, o Brasil continuará na lama, obrigado a escolher entre o
populista de direita e o de esquerda nas eleições.
Na série "The Crown", a personagem da rainha Elizabeth critica a
primeira ministra Margaret Thatcher por fazer inimigos na direita, no centro e
na esquerda. Mas Thatcher diz que isso não é demérito, é uma honra, e cita um
poema de Charles Mackey: "Quem se misturou na briga do dever, deve ter
feito inimigos. Se não tem nenhum, pequeno é o trabalho que fez. Você nunca
virou o errado para o certo. Você foi um covarde na luta". Hoje, sabemos,
temos 72 senadores covardes, que preferiram estar felizes em vez de fazer o
certo.
É,ficaram com medo de eles não serem reeleitos.
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