O Globo
Por que os fantasmas de uma intervenção
militar saíram do armário? Para o contra-almirante reformado Antonio Nigro, há
um “histrionismo no ambiente político que é fruto do uso do medo como
instrumento”. O historiador Carlos Fico acha que são resultado “das sucessivas
provocações que alguns militares têm feito, inclusive o ministro da Defesa, ao
TSE.” Nigro acha que o “ambiente internacional hoje é voltado para o reforço
dos regimes democráticos e uma interferência militar não será aceita” e
acredita também na “resiliência das instituições brasileiras”. Fico alerta,
contudo, que “essa técnica do medo e de fazer ameaças exaure” o país. Segundo o
professor, “a sociedade está cansada de ficar sobressaltada”.
Esse ambiente de medo, para usar a palavra dos meus dois entrevistados no programa que fiz ontem para a Globonews, é parte de uma grave anomalia institucional do país e que se agravou no governo Bolsonaro. A 80 dias das eleições o Brasil se pergunta o que acontecerá. Nigro definiu o assassinato de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, como um “fato portador do futuro”, ou seja, ele alerta para o risco de um conflito acontecer, não apenas no plano individual, mas coletivo. “Nós temos que fazer com que essa semente não germine.”
Em bases quase diárias há meias palavras,
ambiguidades, vazamentos de conversas, ameaças. Elas vêm do presidente da
República, do ministro da Defesa, de comandantes das Forças, de militares do
governo Bolsonaro. Alguns desses militares foram para o governo quando eram da
ativa e falam como se ainda representassem as tropas. O general Paulo Sérgio
Nogueira foi à Comissão de Relações Exteriores da Câmara e deixou a entender
que o Ministério da Defesa se prepara para fiscalizar as eleições, função que
não lhe compete. Ninguém acha que haverá um golpe clássico, mas o que se teme
são as artimanhas que podem estar sendo preparadas. Como conta o professor
titular de História do Brasil e estudioso dos militares Carlos Fico:
— Eu temo que nas eleições haja
manifestações de bolsonaristas radicalizados na hipótese de derrota do atual
presidente e seja necessário chamar as polícias militares e elas façam corpo
mole, pela presença do bolsonarismo nas PMs. Isso seria por si só ruim, mas
temo uma escalada. Imagine que haja incapacidade de controle do tumulto e o
presidente do STF tenha que solicitar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem
e o presidente da República não baixe o decreto. Haveria um debate jurídico no
meio de um tumulto?
O almirante Nigro avalia que há uma
distância entre os militares que foram para o governo e os do serviço ativo.
— O que está acontecendo não é a
politização das Forças Armadas, mas a partidarização que se manifesta em quem
foi convidado para exercer cargo político na chefia das Forças ou no Ministério
da Defesa. Ninguém sabe o que significa o silêncio eloquente dos militares do
serviço ativo. Eu tenho uma interpretação, baseada no tempo em que vivi na
Marinha e nos amigos que ainda tenho, de que o silêncio significa que eles
estão alinhados às suas funções constitucionais, ao artigo 142 — disse Nigro.
Mas aí começa outro problema. O que mesmo
diz o artigo 142 da Constituição? A interpretação do atual governo é que ele dá
às Forças Armadas, nas crises, um poder acima dos outros poderes. Fico acha que
isso é resultado de uma ambiguidade do texto, herança de outras constituições e
que foi mantida na última Carta por pressão do então ministro Leônidas Pires
Gonçalves:
— A GLO é solicitada por um dos poderes,
mas a “garantia dos poderes constitucionais” é vista pela maioria dos oficiais
generais de hoje como uma espécie do velho poder moderador, do Império.
Fico acha que há uma dificuldade das elites
políticas brasileiras de enfrentar os militares e lembra o intervencionismo
deles, ao longo da História do Brasil.
— Eles se converteram em alguns momentos em agentes insurretos e subversivos e
só de chefes constitucionais derrubaram sete. Eles agora acharem que devem
fiscalizar as eleições é uma iniciativa descabida e autoritária —diz Fico.
O contra-almirante Antonio Nigro acredita
que os militares não vão interferir nas eleições, apesar das insinuações em
contrário.
— Eles sabem que não entraram na escola
naval e nas academias militares para serem fiscais de eleição.
Tomara,Deus te ouça!
ResponderExcluirO problema é que a possibilidade de golpe é concreta. Primeiro o dito cujo sempre assumiu sua condição de golpista. Não acredita em voto e sim em guerra civil. Disse que daria golpe logo no primeiro dia. Ficou insatisfeito porque nosso regime militar não matou 30 mil pessoas, inclusive FHC. Tendo chegado ao poder executivo tudo que ele faz é para vender aos militares a ideia de que com ele estão de volta ao poder. Deu emprego a mais de seis mil militares em cargos civis. Isso somando o que ganhavam na reserva com os rendimentos dos cargos dobrando o que recebiam. Quer seduzir os policiais brasileiros até com programas habitacionais próprios. Bolsonaro quer modificar a Lei Orgânica de policiais civis e militares com o objetivo de esvaziar o poder dos governadores para federalizar essas polícias e transformá-las numa quarta força armada bolsonarista. Pesquisas dizem que 21% dos policiais brasileiros são favoráveis a uma ditadura militar. Todos sabemos que o golpe do Capitólio de Trump não vingou por causa da oposição dos militares. Por isso para Bolsonaro é tão importante subornar nossos milicos. Essa historia da farra dos marechais não ficou esclarecida. Nas reportagens da Forum, do Brasil de Fato e outras publicações contei centenas de militares das três Forças Armadas que foram "promovidos" a receber soldo de marechal, almirante e marechal do ar. Todos reformados e sem função. Além das figuras que fazem parte do governo de Bolsonaro: Mourão, Augusto Heleno, Fernando Azevedo. Ex-comandantes como Pujol, Villas boas e Etchegoyen. Agora a maior esculhambação foi dar pensão de marechal ao coronel torturador Brilhante Ustra. Este por já ter falecido, suas duas filhas recebem cada uma pouco mais de R$ 15 mil reais por mês. A única voz que tentou se informar sobre esse absurdo foi a de Fabiano Contarato da Rede Solidariedade. Mas parece que não conseguiu fazer nada para acabar com essa ignomínia.
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