domingo, 10 de julho de 2022

Vinicius Torres Freire: Bolsonaro contra-ataca, Lula cochila

Folha de S. Paulo

PIB e emprego melhoram, inflação é maquiada, governismo empareda oposição e STF

Em julho, a taxa de inflação deve ser negativa. Isto é, o IPCA pode diminuir quase 1% neste mês. A inflação anual cairia pouco, para perto de 10%. A carestia da comida continuaria na casa de horríveis 16% ao ano. A baixa do preço dos combustíveis vai maquiar uma inflação ainda ruim e disseminada.

Mas o bolsonarismo vai bater bumbo, comemorando esse primeiro lance do contra-ataque que começou agora. Deve fazer uns gols nas pesquisas de agosto ou setembro. Talvez não sejam muitos pontos, mas o bastante para afastar o risco de derrota no primeiro turno. Com essa jogada de Auxílio Brasil etc., deve sair do sufoco em que estava fazia apenas uma quinzena.

Além disso, em 31 de julho começam as manifestações de rua bolsonaristas, que devem culminar na reedição apoteótica de aniversário do 7 de Setembro golpista, agora mais disfarçado. "Disfarçado" em termos, pois foi retomada a campanha de desmoralização das urnas e de intimidação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo, ofensiva com grande apoio militar.

Enquanto isso, a oposição, em suma Lula da Silva (PT) e agregados, jogam parados, esperando que inflação, fome e um passado de crimes recentes bastem para manter a rejeição de Jair Bolsonaro lá pela casa de 55%. Não há movimento ou conversa política maiores a fim de conter o contra-ataque bolsonarista.

Como previsto, bancões e outras casas do ramo revisam para cima suas estimativas de crescimento para 2022, que saem de cerca de 1,5% para o degrau dos 2%. Mais importante, atenuam suas previsões de que o número de empregos passaria a crescer pouquinho neste segundo semestre.

O motivo principal das revisões é o dinheiro do pacotão eleitoral, a PEC "Kamikaze" ou dos "Bilhões –redução de impostos sobre combustíveis e auxílios vários.

Há uma possibilidade muito remota de que parte da baixa dos combustíveis seja revertida por causa de queixas dos governadores na Justiça. Mais improvável ainda é a PEC Kamikaze cair na Câmara.

Supremo já está intimidado pelos arreganhos bolsonaristas –o pessoal lá diz que não quer "acirrar" o conflito. O Congresso quase inteiro vem dando aval ao estelionato eleitoral. A oposição levou um drible pela mudança de última hora do pacotaço estelionatário, que saiu da burrice de subsídios ainda maiores de combustíveis para o gasto direto com pobres e assemelhados. Não vai ter CPI do MEC.

A oposição ora leva um baile porque não tem estratégia política ou proposta de acordo nacional de reconstrução econômica e democrática. Nem tem programa (de combate político, eleitoral ou outro). A campanha ainda é feita de Lula, "bota o retrato do velho outra vez", e do nojo que parte do país tomou de Bolsonaro.

Daqui a pouco, começa para valer a campanha suja digital bolsonarista, que estava com problemas de organização e disputas intestinas. Vai ter pacote para empresário.

Para recapitular: a partir de julho começam as marchas das massas de choque bolsonaristas. Bolsonaro vai pegar carona nos gastos da comemoração oficial do Bicentenário da Independência.

No início de agosto tem a notícia de inflação negativa de julho e indicadores ainda resistentes de emprego. Entre fins de julho e agosto começa a pingar o Auxílio Brasil, que deve ter pelo menos um segundo pagamento até o primeiro turno.

Em tese, vão ser dois meses de contra-ataque. O que a oposição vai fazer? Esperar que um desastre financeiro na economia mundial aporte por aqui? Que o povo não compre o estelionato pelo preço de face?

Mais provável, por ora, é que Bolsonaro faça uns gols, uns pontos salvadores nas pesquisas de agosto ou setembro. No mínimo, ganha tempo para golpes.

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