Folha de S. Paulo
Pacotão da PEC dos Bilhões pode adiar recessão
que tem previsão de início neste trimestre
A PEC dos
Bilhões vai dar mais dinheiro a pelo menos 20 milhões de
famílias. As leis que mexeram em impostos estaduais e federais vão diminuir um
tiquinho das contas de luz e o custo de encher o tanque de todo o mundo.
Discute-se se tais dinheiros vão melhorar a avaliação de Jair Bolsonaro. Mas
poderiam também evitar que a economia entre
no vermelho? Nas previsões mais reputadas da praça, ou de costume menos
erradas, o PIB começaria a cair neste terceiro trimestre.
Se a ideia de PIB parece abstrata, considere-se então a taxa de desemprego.
Naquelas previsões, a taxa de desemprego aumentaria daqui até dezembro. O
desemprego em geral cai ao longo do ano. Costuma aumentar apenas em recessões.
As reduções de impostos e o gasto extra com auxílios podem aumentar a renda
disponível das famílias de R$ 37 bilhões a R$ 52 bilhões no terceiro trimestre
(até logo antes da eleição), na hipótese de a redução de tributos sobre
combustíveis chegar inteira ao consumidor. A variação da estimativa se deve ao
fato de que os novos benefícios talvez não sejam pagos já em julho.
Não é pouco dinheiro. A liberação do saque parcial do FGTS e a antecipação do
13º dos benefícios do INSS devem ter aumentado a renda total em R$ 86 bilhões
no segundo trimestre. Pode ser que os recursos do pacotão da PEC compensem
parte dos estragos previstos para a segunda metade do ano. Estragos haverá.
Tende a ser cada vez menor o efeito da
reabertura da
economia depois do fim das restrições sanitárias oficiais. A poupança das
famílias cai. As taxas de juros ficam mais salgadas. O vento a favor da
economia mundial vai passando —no primeiro trimestre, evitou que o PIB
brasileiro ficasse no vermelho.
Na média de maio, o dólar custou R$ 4,96. Na semana passada, havia voltado à
casa de R$ 5,30. As taxas de juros no atacadão de dinheiro aumentaram. É tanto
o efeito do mercado mundial azedo quanto de coisas como a PEC dos Bilhões.
Mas pode ser que as coisas não fiquem logo tão ruins. Países que vendem
commodities (comida, petróleo, minérios), como o Brasil, podem sofrer menos com
a baixa da economia mundial, ao menos de imediato.
O número de pessoas ocupadas cresce além do previsto. O salário médio continua
um horror, ainda quase 6% menor do que no ano passado, mas vem
despiorando (a
baixa anual era de quase 9% em novembro de 2021). A massa de rendimentos (soma
dos rendimentos do trabalho de todo mundo) vem aumentando também desde
novembro, ora em alta de 4,6% ao ano. Em maio, o número de pessoas com algum
tipo de trabalho era 9,4 milhões maior do que em maio de 2021.
A confiança de empresários e consumidores cresceu ainda em junho, segundo a
FGV. O ânimo nem chegou ao nível de otimismo, mas ainda aumenta.
Sim, senhora, a situação social é horrível, mas estamos falando aqui de
despioras, de melhoras relativas a partir do fundo do poço.
É possível que os dinheiros do estelionato eleitoral de Bolsonaro, aliás
ratificado
pela oposição da esquerda à direita, não bastem para compensar
o vento frio e contrário que começa a soprar neste terceiro trimestre. De
resto, pode ser que essas previsões estejam erradas. Afinal, as estimativas de
alta do PIB em 2022 feitas por gente mais reputada vão de 0,9% a 1,8%. Muita
diferença, mesmo para uma mixaria de crescimento.
Ainda assim, é razoável especular que o adiamento da recessão e a PEC dos
Bilhões possam fazer algum efeito eleitoral. Quem sabe rendam a Bolsonaro dois
pares de pontos nas pesquisas, o bastante para evitar derrota no primeiro
turno. A piora da crise fica para 2023. É o estelionato eleitoral.
A diferença entre o Bozo e Lula no segundo turno é ainda maior.
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