Folha de S. Paulo
Preços das commodities até compensa
carestia do dólar, mas há outros problemas
O real voltou a ser uma das moedas
mais desvalorizadas do mundo, seja em relação a um ano ou ao início da
epidemia. Foi-se a melhora surpreendente que se viu de janeiro a abril (dólar a
R$ 4,76, na média de abril, ante R$ 5,41 na última semana). Pegamos um dos
bondes da desvalorização quase mundial em relação ao dólar, mas pegamos aquele
que corre mais ladeira abaixo, quase como de costume.
A diferença agora é que, no que diz
respeito a inflação, a resultante poderia não ser tão ruim, por um lado (o lado
de preços de commodities). Mas a pressão inflacionária pode vir de outro lugar.
O preço de commodities relevantes, grãos básicos, açúcar, ferro e cobre, carnes e mesmo o do petróleo, por exemplo, passou a cair em ritmo que compensa a carestia do dólar no Brasil. Em reais, apenas o preço do barril do petróleo está mais caro (muito mais caro) do que no início do ano, por exemplo. É bom, mas é ruim: é medo ou sinal de recessão global.
Isso quer dizer que a inflação de produtos
ligados a esses preços pode subir menos, pode haver menos pressão, vamos dizer
assim. Não quer dizer, necessariamente, que vai. Os preços ao consumidor não
dependem apenas desse fator. Mas um bode colocou uma parte do corpo para fora
da sala. Outra parte ainda empesteia o ambiente.
Primeiro, pode ser que indústria de
transformação e comércio decidam recuperar margens: decidam recuperar o extra
que cobram além dos custos que têm, margem que em vários casos estava achatada
ou, dito de modo mais neutro, menor do que a esperada ou requerida pelos donos
do negócio. Em conversa reservada, um ou outro executivo de supermercado, por
exemplo, diz coisa assim.
A recuperação de margem seria um plano, não
é uma decisão que se tome facilmente. Depende, por exemplo, da reação dos
consumidores na boca do caixa, por assim dizer. Essa reação, depende do que vai
ser da renda real disponível nos próximos meses.
O rendimento médio real, o salário médio
descontada a inflação, ainda caía muito até maio, último dado disponível, em
relação a maio do ano passado. Mas a situação pode despiorar.
A inflação vai cair um tico por causa de
intervenções do governo: redução
de impostos sobre energia e combustíveis, principalmente.
O aumento nominal do salário médio tem sido
crescente. Em novembro do ano passado, por exemplo, crescia nada (sempre em
relação ao mesmo mês do ano anterior, neste caso novembro de 2020). O aumento
nominal ganhou ritmo, desde então. Agora em maio deste 2022, crescia a 4,9% ao
ano.
Sim, o salário médio ainda perde da
inflação. O ganho real é abaixo de zero, o IPCA sobe mais do que o salário
médio. Mas a situação despiora.
Alguns economistas chegam a dizer que a
taxa de desemprego, apesar de horrível, está baixando a um ponto de
que não contribui mais para segurar preços (por meio de salários). Parece
perverso, mas é o argumento.
O fato é que os salários nominais crescem
de modo acelerado desde o final de 2021. Se isso vai pesar na inflação, sabe-se
lá. De resto, é preciso saber se a desaceleração da economia prevista para a
segunda metade do ano vai acabar até com essa despiora do salário médio.
Em terceiro lugar, temos o problema da
inércia: inflação mais alta gera inflação alta por meio de indexação formal,
informal e reajustes preventivos por causa de expectativas de preços altos
adiante.
Dadas as reduções de preços devidas a intervenções do governo, a previsão para o IPCA para este ano caiu da casa dos quase 9% para 7,5%. Para o ano que vem, 2023, vem subindo e já está em 5,2%, muito além da meta do Banco Central, de 3,25%. Os juros ainda vão ficar altos por muito tempo. Mais herança maldita para 2023.
E enquanto o ministro for o Paulo Guedes vai ser assim. Não é ele que fez fortuna cambalachando com o dólar. Isso é o que faz ministro, guardando sua fortuna
ResponderExcluirA inflação está mais viva do que nunca.
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