Folha de S. Paulo
País não cresceu desde 2000, tem a 2ª maior
dívida da eurozona e vota em setembro
Desde a Segunda
Guerra, a Europa ocidental jamais elegeu um governo de extrema
direita. É o que pode acontecer na eleição de
setembro na Itália.
O partido mais popular é, por ora, o Irmãos
da Itália, liderado por Giorgia Meloni, com 23% das preferências, segundo o
agregador de pesquisas do site Politico. É uma organização de origem
francamente fascista, que vem tentando limpar sua barra, à maneira de Marine Le Pen na
França.
O Partido Democrático, de centro-esquerda, está quase empatado com o Irmãos da Itália. Mas, a seguir, vem a afascistada Liga, de Matteo Salvini, com 15%, os palhaços demagógicos do Cinco Estrelas, com 12%, e a direita bunga bunga do Força Itália, com 8%, de Silvio Berlusconi, 85 anos, ainda na ativa, um líder da derrubada do governo de união nacional de Mario Draghi.
Dos partidos maiores, apenas o Irmãos da
Itália não estava na coalizão. Meloni, Salvini e Berlusconi juntam, pois, 46%
das preferências. Sim, agregadores de pesquisas têm problemas, e preferências
partidárias podem não dizer tudo sobre o resultado de uma eleição parlamentar.
Mas estudos baseados em pesquisas de opinião indicam o favoritismo do trio, por
ora aliado.
O Irmãos da Itália saiu das entranhas do
Movimento Social Italiano (MSI), o partido do pós-guerra que recolheu o lixo
sobrevivente da turma de Mussolini. Giorgia Meloni, 45, romana, de origem
pobre, agora "celebridade", começou a carreira como líder da
juventude do MSI.
Hoje em dia, tenta se enturmar com a
internacional de direita que junta de Donald Trump a
Viktor Orbán, autocrata da Hungria. É amigona do Vox, o ultradireitista
espanhol, embora seu partido não faça parte da bancada de Le Pen no Parlamento
Europeu.
É contra imigrantes, casamento homossexual,
adoção de crianças por LGBTs, "ideologia de gênero", a favor de
governo menor, o pacote todo. Já foi eurocética, mas tem moderado a crítica. Um
motivo recente é que a Itália, ao lado da Espanha, é o país que pode receber a
maior fatia dos € 807 bilhões do fundo europeu de reconstrução pós-Covid, desde
que cumpra certos requisitos, "reformas", que vinham sendo tocadas
por Draghi.
Draghi foi presidente do Banco Central
Europeu, um tecnocrata capaz e decente, mas um tecnocrata. Chegou ao cargo sem
passar por eleição, embora fosse o político mais popular do país até cair, em
parte por falta de jogo de cintura.
Na barafunda italiana, é difícil dizer
quais coalizões eleitorais e de governo vão se formar. De resto, dada a
situação econômica do país, talvez a ultradireita se comporte.
A incerteza
política pode encarecer o financiamento da enorme dívida do
governo, 151% do PIB, menor apenas que a da Grécia (193%). A renda (PIB) per
capita da Itália cresceu apenas 1,2% desde o ano 2000, o pior desempenho da
eurozona.
O Banco Central Europeu quer evitar crise
parecida com a de 2012, agora que começa a aumentar a taxa de juros a fim de
controlar a inflação. Indicou que tem um plano para evitar uma explosão dos
juros cobrados de governos como o da Itália (o que, no fim das contas, é um
subsídio). Com vinagre pelo nariz, um governo pode se aproveitar dessa
situação, desde que não apronte muito (vide, porém, como Orbán avacalha a União
Europeia).
Pode ser que, na campanha, a ultradireita
pague parte do preço de ter derrubado um primeiro-ministro que deu alguma
estabilidade ao país. Estabilidade, mas não um caminho. Mais e mais,
tecnocracias centristas impopulares ganham eleições apenas porque a alternativa
é a horda autoritária. O buraco desta crise está muito mais para baixo, nos
EUA, na Europa e no Brasil também.
O mundo está de cabeça pra baixo!
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