Folha de S. Paulo
Apresentação de Bolsonaro a embaixadores
emudeceu militares
O gênio que sugeriu a exibição
de Bolsonaro a representantes do mundo merece o reconhecimento dos
democratas. A ele se deve a inversão simultânea que emudeceu os generais e
coronéis, de farda e de pijama, contrários à segurança das urnas eleitorais e,
de quebra, soltou as vozes antigolpe que nem se esperava mais ouvir.
Foram apontadas várias ilegalidades no ato
de Bolsonaro,
mas está mais do que provada a falta de disposição para fazê-lo responder pelos
crimes de responsabilidade, de instigação contra as instituições democráticas
e, além de outros, abusos de poder.
E como tudo dá em nada, eis um vão acréscimo: no Palácio da Alvorada, como dependência da União, a lei proíbe qualquer situação com algum sentido eleitoral. Foi, porém, com o objetivo de propagar e defender seu plano de candidato, contra o sistema eleitoral e pela intromissão aí dos militares, que Bolsonaro confessou ao mundo o seu golpismo trumpista.
A ausência dos comandantes militares na
plateia não indicou qualquer restrição deles, mas só cautela com a proibição de
militares da ativa em ato político. A reação internacional a Bolsonaro atinge
todos militares e, com precisão, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio
Nogueira.
Para a presunçosa autoimagem militar, a
reação interna é descartável. Mas a internacional soaria como um chamado à
racionalidade, no entanto improvável por inexistir o pretendido pelo chamado.
Este seria um bom momento, com a ebulição
política-eleitoral, para os militares voltarem à tentativa de
profissionalização feita por seus antecessores entre o governo Fernando
Henrique e a devolução, por mera pusilanimidade, do Ministério da Defesa a
militares, feita por Michel Temer. Foi a ocasião para o general Eduardo Villas
Bôas levar o Exército de volta ao golpismo, na pretensa condição de força
tutelar, sem quaisquer condições para isso além dos fuzis e dos tanques. O bom
momento tem sido usado para agravar a distância entre a função legal e a
prática nos altos postos militares.
A adesão a Bolsonaro é indicativa, como
resultado de identificação, das ideias sobre e para o Brasil que se sustentam
entre as chefias das Forças Armadas.
Nada a ver com as necessidades e aspirações das classes formadoras da grande
maioria no país —inclusive parte numerosa dos apoiadores civis de Bolsonaro,
aqueles de pouco discernimento e muita desinformação. Nada a ver, também, com a
Constituição.
Na contraposição dessas duas correntes está
a divisão que importa, a polarização mais profunda e estimulante do atraso
brasileiro, imenso mesmo em comparação à fase retroativa que ataca o mundo.
O silêncio dos comandos incorporados no
projeto bolsonarista talvez não seja senão o pasmo com a derrota imposta pela
reação internacional, sufocante mesmo. Mas há pendências deixadas pelo ministro
da Defesa em suas intempestivas falas no Senado, na semana anterior ao show
eleitoral/golpista no Alvorada.
Por exemplo, a exigência de entrega, do
Tribunal Superior Eleitoral aos generais e coronéis da Defesa, da documentação
referente às eleições de 2014 e 2018. Será reiterada pelas fardas e fuzis ou
enterrada sob sete palmos de abuso de poder, desvio de função e afronta à
Constituição?
A interrogação envolve mais canhonaços
internacionais, maior reação das indignações internas que superaram os
cuidados.
E, do outro lado, tanto a possibilidade de
mais ação dos militares bolsonaristas como alguma acomodação. Exclusive a do
próprio e silenciosamente estarrecido Bolsonaro. Aquela pergunta é, entre
tantas, a que parece oferecer a resposta mais próxima.
Resposta provisória, bem entendido. Como as
faltantes, até que a eventual compreensão militar absorva ao menos dois
conceitos: 1- se querem ser militares, parem de provocar desordem
institucional. Já a fizeram demais, quase ininterruptas nos 133 anos desde o
golpe da República. 2- militares têm as armas, mas a importância que pensam ser
sua, neste país, quem a tem são os garis e os bons médicos.
Obsoletas entre vizinhanças pacíficas,
forças militares na América do Sul são uma duvidosa tradição.
Artigo confuso,como sempre.
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