Folha de S. Paulo
Região que mais sofreu com a pandemia não
consegue recuperar a vida
De volta à rua do Ouvidor, palco mais
elegante daquela que fora a sua cidade, o fantasma de Machado de Assis
horrorizou-se com "postes sem luz e montanhas de lixo, entre vitrines
quebradas e bueiros sem tampa de onde brotavam ratazanas do tamanho de
cães". Além da miséria, com pessoas vagando como zumbis e dormindo
amontoadas nas calçadas, o escritor presenciou assassinatos e estupros. Tudo no
Centro do Rio, "o lugar onde —assim como não se pode acender uma vela no
vácuo— os seres humanos não conseguem conceber a ideia de Deus".
A ação de "A Vida Futura", de Sérgio Rodrigues —um romance raro, que consegue divertir mesmo tratando de "cousas" duras—, se desenrola em 2020, com a Covid em alta. Se fosse hoje não haveria diferença no panorama nem na desgraça. O Centro, região que mais sofreu com a pandemia, parece condenado a não recuperar a vida de antes.
Para se ter uma ideia, não há mais
engarrafamentos na avenida Antônio Carlos, onde se levava até meia hora para
atravessar o trecho em frente ao Fórum. É como se estivéssemos no meio de um
cenário abandonado, com lojas fechadas e quase ninguém nos becos silenciosos. À
noite e nos fins de semana, sem policiamento, andar por ali é um desafio de
morte.
Idealizado pelo urbanista Washington
Fajardo —que se desentendeu com Eduardo Paes e deixou a prefeitura—, o programa
Reviver Centro completou um ano em julho e ninguém notou. Não há bulício de
novos moradores ou barulho de trabalhadores; o supermercado que abriu na rua
Sete de Setembro está às moscas. Os poucos camelôs, antes numerosos e em toda
parte, concentram-se nas saídas do metrô, oferecendo mariolas e paçoquinhas.
Até a parada militar do Dia da Independência, que se realiza há décadas na avenida Presidente Vargas, foi desmoralizada por Bolsonaro, que quer levar os tanques fumacentos para a orla de Copacabana. Nem os golpistas querem o Centro.
Bolsonaro é um golpista muito malandro. O que é Bolsonaro? Lixo de 1964. Ele não foi expulso do Exército? Era um capitãozeco apenas. É verdade que ele queria explodir bombas nos banheiros de seus próprios colegas de farda? É verdade que Geisel se dirigia a ele como um "Bunda suja"? (termo com o qual os milicos designam seus próprios colegas incompetentes para chegar ao generalato). O boçal quer se apropriar da data de sete de setembro que é um feriado nacional no qual o povo brasileiro comemora o dia em que o país conquistou a independência política. Mais malandro ainda o boçal quer associar a ele as cores verde e amarelo e a camisa da Seleção brasileira de futebol. Todo mundo sabe que o povo brasileiro é fanático por futebol como os americanos são por "futebol" de mão. E quer associar a cor vermelha aos comunistas e ao PT. É muita malandragem. O desfile de 7 de setembro no Centro da Cidade, perto da Central do Brasil pode ser assistido por qualquer morador do Rio de Janeiro de Inhoaíba (depois de Campo Grande) até São Cristóvão. Bastando gastar duas passagens de trem. Para ir a Copacabana esses cariocas teriam que pagar mais uma passagem de ônibus. E Copacabana não tem estrutura física para acomodar um desfile militar como o do Centro da Cidade. Por que Copacabana? Certamente porque é um bairro que concentra aquela classe média do tipo que apoiou o golpe de 64, as marchas da família com Deus e antigamente as marchas dos integralistas. Parece que o prefeito já determinou que o desfile será no Centro. Se o boçal realizar um segundo desfile à tarde. Será um fracasso com certeza. Tomara que quem for volte pra casa tossindo por conta da fumaça dos tanques.
ResponderExcluirQuantos romances eu li que citava a Rua do Ouvidor - E tem a música-manifesto gravada por Elis Regina que começa assim:Hoje cedo na Rua do Ouvidor...
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