Folha de S. Paulo
Numa democracia, nenhuma fórmula matemática
substituirá nossa avaliação pessoal
O que faz de alguém um bom
deputado? As variáveis são muitas e é difícil saber como tratá-las de um
jeito mais objetivo. Para nos ajudar, existem iniciativas que os avaliam e
atribuem notas. Não é fácil, e por isso mesmo é bom valorizar quem presta esse
serviço.
Uma dessas iniciativas é o Ranking dos Políticos, que avalia deputados e senadores. Ele leva em conta o comparecimento dos congressistas às sessões, se eles têm ou não condenações na Justiça, o quanto economizam da sua cota parlamentar e verba de gabinete e, mais importante, como votaram em pautas que o conselho do ranking julga importantes.
Inevitavelmente, o ranking reflete a
preferência ideológica de seus conselheiros. Neste momento, o primeiro lugar do
senador Eduardo Girão (Podemos - CE), fiel
escudeiro de Bolsonaro na CPI da Covid. Todos os demais bem colocados
são políticos de direita.
Mesmo dentro de uma perspectiva econômica
liberal, certas escolhas do ranking são questionáveis. Por exemplo: o corte do
ICMS da gasolina, medida que torrou bilhões de reais para reduzir
temporariamente o preço do combustível e ajudar na reeleição, entrou
como nota positiva.
Seja como for, se você partilha das
convicções ideológicas dos organizadores do ranking, ele será um bom guia para
saber o quanto cada legislador se aproxima ou se afasta delas.
Desde a semana passada, um novo índice veio
contribuir para o debate público: o Índice Legisla Brasil. Neste novo projeto,
as criadoras buscaram justamente uma avaliação dos deputados que não dependesse
da concordância ideológica. Um bom é aquele que entrega e participa da
política, independentemente de ser de esquerda ou direita.
Como toda abordagem, essa aqui também é
passível de críticas. Um projeto de lei para liberar a pílula do câncer terá o
mesmo peso que um projeto relevante, com impactos positivos na saúde. O mérito
desse novo índice é que, de fato, há políticos de direita, centro e esquerda
entre os melhores avaliados. O que faz sentido: há políticos sérios em todos os
partidos.
Para mim, o maior problema deste índice é
não ter feito dele também um ranking. Cada deputado é avaliado em 17 critérios
—cujos dados são todos públicos—, que são transformados numa nota que vai de 1
a 5 estrelas.
Ou seja, todos os deputados estarão
alocados em apenas cinco notas possíveis. O grupo de nota máxima conta com 41
nomes. É útil para um olhar panorâmico, mas seria muito mais informativo ter a
nota específica de cada um e poder escaloná-los num ranking, o que inclusive
geraria mais interesse público por seu caráter de competição.
É esperado que os dois gerem resultados
diferentes. O deputado mais bem colocado do Ranking dos Políticos, Alex Manente
(Cidadania - SP) tem apenas três estrelas no Índice Legisla Brasil. Por outro
lado, Tabata Amaral (PSB - SP), que tem 5 estrelas, aparece na posição 276 no
ranking (de 576 deputados e senadores avaliados). Adriana Ventura (Novo - SP)
aparece bem colocada em ambos.
Tudo isso é do jogo. Cada índice captura
apenas um recorte da realidade e pode ter deixado de lado justo aquilo que você
considera mais importante. Numa democracia, nenhuma fórmula matemática
substituirá nossa avaliação pessoal.
Mas elas podem ajudar, juntando e formatando muita informação que está espalhada por aí de uma maneira que consigamos entender. Todo mapa simplifica um território; se fosse tão detalhado quanto a realidade, seria inútil para nos guiar.
Me cheira à maracutaia.
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