O Globo
Se havia alguma dúvida de como se
comportarão os militares nesta eleição presidencial, ela deixou de existir no
dia em que o coronel Ricardo Sant’Anna foi flagrado pelo repórter Rodrigo
Rangel fazendo ataques ao PT, ofendendo as mulheres que votam em Simone Tebet e
mentindo sobre o sistema eleitoral brasileiro nas redes sociais. Como é da
ativa, Sant’Anna deveria ser punido por desrespeitar o regulamento disciplinar
do Exército. Não foi. Membro do grupo formado pelo Ministério da Defesa para
analisar os códigos-fonte das urnas eletrônicas no TSE, foi afastado pelo
ministro Edson Fachin. Normal. Claro, mas não para o general reformado Paulo
Sérgio, ministro da Defesa. Birrento, o ministro disse que não trocaria o
coronel bolsonarista, mas indicou outros nove oficiais para o grupo.
Paulo Sérgio divulgou nota criticando a decisão de Fachin de destituir Sant’Anna “de forma unilateral”. E, não se espante, ele disse que o trabalho do coronel não sofreria interferência em razão de suas posições pessoais. Como? O general sublimou o que o coronel escreveu numa rede social: “Para quem não entendeu ainda a briga contra esse sistema (eleitoral), nenhum país desenvolvido (o) adotou, SÓ NÓS”. Paulo Sérgio disse que a tarefa seria realizada “de forma profissional” e que o indigitado foi selecionado em razão da sua “inequívoca capacitação técnico-científica”. O mesmo general que faz coro aos ataques infundados de Bolsonaro às urnas eletrônicas, divulga nota defendendo a capacidade técnica de um bolsonarista claramente mal intencionado.
O objetivo cada vez mais óbvio desses
militares é o de transtornar o ambiente eleitoral. Não podem ser levados a
sério generais e coronéis como Paulo Sérgio e Ricardo Sant’Anna. O coronel pode
até ter qualificação técnica, mas a sua tarefa ali era de encontrar pelo em
ovo. A mesma razão para outros nove terem sido embarcados na equipe de
“fiscalização” do Ministério da Defesa. Olhando esta barbaridade toda, há quem
diga tratar-se de uma opção política, conservadora, que os militares são de
direita. Não é verdade. Mesmo que se tratasse disso, seria ainda um ataque
ilegal ao sistema eleitoral para criar desconfiança e abrir espaço para um
golpe. O que os militares bolsonaristas querem mesmo é manter abertas as
boquinhas, as bocas e as bocarras que engordam os seus bolsos.
Se não, vejamos. Dois dias depois da
denúncia contra o coronel, soube-se que a Marinha estava processando o sargento
reformado Francival dos Santos Duarte, que denunciou na internet a situação
crítica dos praças da força, afirmando que as coisas podem mudar em 2022, numa
evidente alusão à eleição. Reformado, o sargento pode se manifestar da forma
que quiser, mesmo em assuntos políticos. Não poderia se fosse da ativa, como
Sant’Anna. O sargento reclamava dos salários, irritado com o descalabro que via
nos escalões superiores das forças.
Enquanto o salário de um sargento vai de R$
3,8 mil, no início de carreira, a R$ 5,4 mil (caso de Francival), o almirante
Bento Albuquerque, ex-ministro das Minas e Energia, recebeu R$ 1 milhão e 37
mil em maio e junho passado, quase cem vezes mais do que o sargento ganhou
nestes dois meses. O general Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, ganhou R$ 731 mil em três meses. Já o general Braga Netto,
candidato a vice de Bolsonaro, recebeu R$ 926 mil em dois meses. Todo esse
dinheiro foi pago a título indenizatório ou por férias e licenças não
usufruídas ao longo da carreira, segundo o Ministério da Defesa. Lero-lero para
engordar as contas dos amigos do rei. Daqui a pouco, Paulo Sérgio também vai
receber sua cota, basta Bolsonaro ser reeleito.
Diante desse quadro, melhor não se iludir,
o resultado da fiscalização fajuta que o pelotão de militares faz sobre os
códigos-fonte das urnas eletrônicas vai concluir pela insegurança do sistema.
Por estas e outras razões, apenas 30% dos brasileiros confiam nas forças
armadas, oito pontos percentuais a menos do que em 2018.
11 de agosto
Não adianta Bolsonaro e bolsonaristas
reagirem com deboche ou ódio, o 11 de agosto entrou para a História como data nacional
de repúdio à ditadura. Será comemorado daqui para sempre. Será lembrado como o
dia do basta, o dia em que a sociedade civil tomou para si a defesa da
democracia como bem maior da nação. Os brasileiros fizeram o que seus
representantes no Congresso não fazem por interesses privados e escusos,
disseram não ao golpe e ao golpista.
Capítulo da história
O que se viu na quinta-feira em todo o
Brasil, durante os atos em que se leu a carta em defesa da democracia, foi o
desenrolar de um novo capítulo do enredo político nacional diante dos nossos
olhos. Um grande capítulo, que merecerá destaque nos livros de amanhã. O Brasil
ficou melhor desde o final daquela manhã.
A falta que a OAB não fez
Não faltaram advogados nos atos em defesa
da democracia, não faltaram entidades e instituições no grito de basta. Faltou
a OAB federal, mas falta ela não fez. Junta-se ao Conselho Federal de Medicina,
que no auge da pandemia defendeu sem vergonha os que ministravam cloroquina
para quem morria sem ar e sem vacina.
Moderno e plural
O jornal português Público deu um furo
interessante no sábado passado. Descobriu que um ex-chefe do Mossad, serviço
secreto israelense, ganhou cidadania portuguesa e passou a investir em cannabis
em Portugal A cidadania foi obtida através da lei que garante a nacionalidade
aos descendentes de judeus sefarditas. O investimento em produtos medicinais à
base de cannabis foi apenas uma escolha. Ruim é existir ainda neste mundo cada
vez mais plural e moderno, gente que despreza a democracia.
O custo da mentira
Alex Jones, um dos mais infames apoiadores
de Donald Trump nos EUA, foi condenado a pagar indenização de US$ 49,2 milhões
(R$ 254 milhões) aos pais do menino Jesse Lewis (6 anos), assassinado no
massacre de Sandy Hook, escola primária de Newtown, no estado de Connecticut,
em dezembro de 2012. Jones foi penalizado por ter dito em seu programa de rádio
e internet que o massacre fora uma encenação perpetrada por atores
profissionais. No Brasil, aguarda-se a partir de 2023 pagamentos de
indenizações dos que divulgaram e juraram que a cloroquina e a ivermectina
curavam a Covid.
Problema de Tarcísio
O candidato de Bolsonaro para o governo de
São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas, enfrenta um problema
aparentemente intransponível na sua campanha. É que no estado existe oferta de
candidatura de centro com viabilidade eleitoral, a de Rodrigo Garcia. Ao
contrário do plano federal, onde a terceira via não decola, em SP o centro se
aglutina naturalmente em torno do candidato do PSDB a um segundo mandato. O bolsonarista
só poderá sonhar com êxito eleitoral se tirar o tucano do segundo turno. Haddad
tem 35% dos votos, Garcia e Tarcísio, 14% cada um, sendo que o primeiro vem
subindo ancorado em mais de 20 anos de gestão e na enorme capilaridade do seu
partido no estado. O problema de Tarcísio é seríssimo e tende a piorar quando
ele escolhe Haddad como seu alvo preferencial.
Versos Satânicos
Embora fale com uma parcela do eleitorado
evangélico, o desrespeito de Jair Bolsonaro e sua mulher, Michelle, às
religiões de matriz africana passa dos limites do bom senso. Escolher Janja, a
mulher de Lula, como objeto de ataques e associá-la ao Candomblé é uma tática
perigosa. Difícil medir ganhos dessa estratégia, já que os convertidos
reafirmam Bolsonaro, com ou sem a Umbanda. Os outros poderão sentir o cheiro da
intolerância religiosa.
Dor e sangue
No seriado Westworld, a certa altura um dos
personagens mais brutais da trama diz que “ganhar não significa nada, a não ser
que alguém perca”. Sentimento parecido deve permear a alma do bolsonarismo.
Imagina que falta de graça ganhar qualquer coisa sem ver e saborear a derrota
de outros. Se houver dor e sangue do outro lado, ainda melhor.
Livros para a chuva
Algumas dicas para ler enquanto se espera
até outubro, quando a tempestade já terá passado: “Independência do Brasil - As
mulheres que estavam lá”, de Heloisa Starling e Antonia Pellegrino, nas
principais livrarias do país. “Ellas lo pensaron antes - Filósofas excluidas de
la memoria”, de María Luisa Femenías, disponível no site da editora Lea e na
Amazon. “Jesus militante - Evangelho e projeto político do reino de Deus”, de
Frei Betto, disponível nas livrarias; e “Saudade não viaja bem”, de Lu Lacerda,
também nas livrarias. Destaque ainda para a edição especial da revista Bric-a-Brac,
de Luis Turiba, em homenagem à Semana de Arte Moderna de 22.
Rosa Weber
O Supremo Tribunal Federal passa a ser presidido por uma mulher correta, ética, técnica, eficiente, moderna e discreta.
O que esperar dos militares: exatamente o que o colunista escreveu - tratamento desigual para a tropa, proteção aos cúmplices bolsonaristas, vantagens econômicas impensáveis e provavelmente ilegais, novas compras de Viagra e próteses penianas, incompetência generalizada dos militares nas funções civis que "desempenham" (Pazuello, o pior ministro da Saúde de todos os tempos, e os subordinados que plantou naquele ministério). Generais babões e bobões babandosovos do capitão indisciplinado expulso do Exército.
ResponderExcluirGlobo kkkkkk puto perdeu a mamata
ResponderExcluirOs gorilas estão enchendo as burras de dinheiro.
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