Folha de S. Paulo
Presidente insiste em personagem
antissistema, mas grupo de endinheirados faz torcida organizada por ruptura
Em menos de uma semana, Jair Bolsonaro
conseguiu preencher uma cartela com o repúdio de quatro grupos influentes da
vida nacional. Na quinta passada (11), um manifesto encabeçado por intelectuais
e pela elite econômica denunciou as
ameaças golpistas do presidente. Cinco dias depois, cardeais da
política e dos tribunais se opuseram aos ataques do capitão e aplaudiram as
urnas eletrônicas em cerimônia no TSE.
Bolsonaro disputou a última eleição com o figurino de um candidato que desafiava os interesses dos ricos e poderosos. O presidente tenta renovar a imagem sempre que se vê isolado por esses grupos: andou dizendo que os bancos só defendem a democracia porque perderam dinheiro com a criação do Pix e alega que o establishment trabalha contra ele porque seu governo não cedeu a velhos conchavos.
A ideia é a mesma desde a campanha passada:
assumir o rótulo de um movimento antielitista e reivindicar uma suposta
legitimidade popular a favor de seus interesses políticos. Essa linha vale
tanto para o discurso eleitoral clássico como para suas incansáveis propostas
de ruptura ("eu faço o que
o povo quiser").
Apesar de aproveitar o personagem,
Bolsonaro está muito bem servido por uma elite que parece disposta a ficar a
seu lado para o que der e vier. Não são poucos os endinheirados que apostam
numa vitória do capitão, enquanto outros querem que ele permaneça no poder
mesmo que seja derrotado nas urnas.
Há meses, um grupo de empresários lidera
uma torcida organizada do golpismo pelo WhatsApp. Segundo uma reportagem do
site Metrópoles, estão lá o notório
Luciano Hang e os donos das marcas Multiplan e Coco Bambu,
entre outros. Um deles disse abertamente preferir um "golpe do que a volta
do PT".
Com empresários amigos, políticos poderosos alimentados com verba pública e aliados em postos-chave, Bolsonaro realizou o sonho da elite própria. Resta saber se essa turma está disposta a pagar a conta dos delírios autoritários do capitão.
''Não há nada mais Z do que a classe A'',já dizia Caetano Veloso.
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