Folha de S. Paulo
Agenda ambientalista ganha espaço inédito
nos programas dos candidatos ao Palácio do Planalto
Dias atrás, a Câmara dos Representantes dos
Estados Unidos aprovou a Lei de
Redução da Inflação. Muito além de um conjunto de medidas para
conter a alta dos preços, consiste na mais importante iniciativa ambiental da
história americana. Destina US$ 370 bilhões (cerca de RS$ 1,9 trilhão) a um
conjunto de iniciativas, com ênfase no desenvolvimento de empresas de alta
tecnologia verde, aptas a competir com quaisquer outras do gênero no mundo.
O historiador Adam Tooze, da Universidade Columbia, em Nova York, por exemplo,
considera a legislação um passo decisivo para a formação de um novo complexo
industrial, capaz de aglutinar uma coalizão de forças mais poderosa do que aquela
que sustenta o tradicional lobby dos gigantes do setor de combustíveis fosseis.
Também no Brasil a agenda ambientalista
ganhou musculatura e espaço inédito nos programas dos candidatos ao Palácio do
Planalto. Não só em virtude das pressões externas, mas, sobretudo, da reação da
opinião pública e da sociedade organizada à devastação da natureza promovida
pelo atual governo. A crescente importância da defesa do verde pode ser medida
pelo fato de constar até da plataforma do presidente-candidato, decerto para
que não se diga que não falou de flores.
Afinal, ninguém fez mais do que ele para debilitar os órgãos de gestão
ambiental, além de investir contra a legislação que protege os biomas do país e
as populações originárias que os habitam. Deu ainda sinal verde —vá lá o termo—
para atividades ilegais de extração e tráfico de produtos da floresta,
acumpliciando-se com os predadores do
patrimônio natural do país. Se viesse a se instalar um Tribunal de
Nuremberg para o holocausto ambiental em marcha batida no Brasil, Bolsonaro
encabeçaria o rol de réus pelo extermínio do verde em níveis escabrosos, mesmo
em regiões até recentemente intocadas do território.
Em contraste, a pauta ambiental vertebra as "Diretrizes
para o programa de reconstrução e transformação do Brasil",
apresentadas pela coligação do ex-presidente Lula. O tema é incorporado de
forma abrangente nas propostas de política industrial; de desenvolvimento de
matriz energética baseada em fontes renováveis e da bioeconomia da Amazônia;
enfim, de recuperação do sistema de instituições e políticas ambientais
vandalizado pelo governo atual.
Também é sintomática a convergência, nessa área, das diretrizes do petista com
as de Ciro Gomes e Simone Tebet. Quem sabe venha ser equivalente à coalizão
verde americana, que sobreviva às eleições e possa se impor à fronda
reacionária e predatória hoje chefiada pelo ex-capitão.
*Professora titular aposentada de ciência
política da USP e pesquisadora do Cebrap.
Sempre arguta em suas análises.
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