quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Maria Hermínia Tavares* - Luz verde para o ambiente

Folha de S. Paulo

Agenda ambientalista ganha espaço inédito nos programas dos candidatos ao Palácio do Planalto

Dias atrás, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou a Lei de Redução da Inflação. Muito além de um conjunto de medidas para conter a alta dos preços, consiste na mais importante iniciativa ambiental da história americana. Destina US$ 370 bilhões (cerca de RS$ 1,9 trilhão) a um conjunto de iniciativas, com ênfase no desenvolvimento de empresas de alta tecnologia verde, aptas a competir com quaisquer outras do gênero no mundo.

O historiador Adam Tooze, da Universidade Columbia, em Nova York, por exemplo, considera a legislação um passo decisivo para a formação de um novo complexo industrial, capaz de aglutinar uma coalizão de forças mais poderosa do que aquela que sustenta o tradicional lobby dos gigantes do setor de combustíveis fosseis.

Também no Brasil a agenda ambientalista ganhou musculatura e espaço inédito nos programas dos candidatos ao Palácio do Planalto. Não só em virtude das pressões externas, mas, sobretudo, da reação da opinião pública e da sociedade organizada à devastação da natureza promovida pelo atual governo. A crescente importância da defesa do verde pode ser medida pelo fato de constar até da plataforma do presidente-candidato, decerto para que não se diga que não falou de flores.

Afinal, ninguém fez mais do que ele para debilitar os órgãos de gestão ambiental, além de investir contra a legislação que protege os biomas do país e as populações originárias que os habitam. Deu ainda sinal verde —vá lá o termo— para atividades ilegais de extração e tráfico de produtos da floresta, acumpliciando-se com os predadores do patrimônio natural do país. Se viesse a se instalar um Tribunal de Nuremberg para o holocausto ambiental em marcha batida no Brasil, Bolsonaro encabeçaria o rol de réus pelo extermínio do verde em níveis escabrosos, mesmo em regiões até recentemente intocadas do território.

Em contraste, a pauta ambiental vertebra as "Diretrizes para o programa de reconstrução e transformação do Brasil", apresentadas pela coligação do ex-presidente Lula. O tema é incorporado de forma abrangente nas propostas de política industrial; de desenvolvimento de matriz energética baseada em fontes renováveis e da bioeconomia da Amazônia; enfim, de recuperação do sistema de instituições e políticas ambientais vandalizado pelo governo atual.

Também é sintomática a convergência, nessa área, das diretrizes do petista com as de Ciro Gomes e Simone Tebet. Quem sabe venha ser equivalente à coalizão verde americana, que sobreviva às eleições e possa se impor à fronda reacionária e predatória hoje chefiada pelo ex-capitão.

*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap. 

 

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