O Globo
Existe a demanda; daqueles que não querem
nem a volta de Lula nem a continuidade de Bolsonaro. Existe também a oferta.
Mas o consumidor não responde
É singular o mercado da política. Há
demanda por um produto eleitoral alternativo a Lula e Bolsonaro. Fosse outro
mercado qualquer, a indústria o teria fabricado — com sucesso.
É singular o da política. Existe a demanda;
daqueles que não querem nem a volta de Lula nem a continuidade de Bolsonaro.
Existe também a oferta. Mas o consumidor não responde. A demanda não
materializa engajamento. A oferta não atrai.
É como se houvesse uma interdição; como se o medo de o desprezado — Bolsonaro ou Lula — vencer empurrasse o eleitor para um segundo turno antecipado. Um sentido de urgência que paralisaria as possibilidades competitivas da opção demandada; sentido de emergência que se imporia ao eleitor nem lulista nem bolsonarista. O voto num candidato que não Lula ou Bolsonaro então transformado em capricho — mesmo em excentricidade — ante o dilema eleitoral brasileiro.
Nota importante. Que não se pense que a
aversão ao presidente Bolsonaro é rejeição sem par. O antilulopetismo, talvez
anestesiado, já mostra seu corpo e, creio, ainda se mobilizará.
Pensei nisso — no mercado que não se
realiza — enquanto via a entrevista de Simone Tebet ao Jornal Nacional. Ela é,
também Ciro Gomes, a oferta de alternativa. Mas a própria construção deste
texto até aqui — a longa introdução — evidencia que o mercado que prospera, que
amassa, é o da antecipação do embate final; encorpando-se, sobretudo, a
tendência de que os poucos votos que têm, Tebet e Ciro, escasseiem
progressivamente até 2 de outubro. Uma tendência. Não uma sina. Há que pelejar.
Há o que pelejar.
Tebet foi bem na entrevista. Tom sereno. A
professora de administração do Brasil. Ela vai bem. É preparada. Tem uma equipe
de primeira. (Mas o que significará, para o pobre, a propaganda constante de um
time de grandes economistas liberais, esse fetiche, se a economia brasileira
chafurda sob o liberalismo palestrante de Paulo Guedes?)
Tebet é senadora da República com atuação
respeitável. Conjunto que expôs para a audiência do JN. Mas que não é capaz,
não até quase setembro de 2022, de vender aquilo que se espera, para começo de
conversa, de uma alternativa: a de ser a garantia da pacificação nacional; de
um amanhã de estabilidade. Tendência não é destino. Mas ela ainda não conseguiu
desafiar, furar mesmo, a interdição que dirige o eleitor não alinhado a votar
contra o medo.
As pessoas estão cansadas, gostariam de
alguma previsibilidade, mas avançam ou para a incerteza de um Lula que se fia
no Lula de vinte anos atrás, um Lula Kinder Ovo, para citar expressão de Ciro
em entrevista a este jornal, ou para permanente instabilidade institucional
gerada pelo populismo autocrático de Bolsonaro.
Tebet faz a leitura correta do cenário. O
diagnóstico é preciso. A crítica, certeira. Mas, para a crítica somente, não se
precisa de candidatura. Não está mais na CPI da Covid. E não que lhe falte
projeto. Falta comunicação. Uma marca capaz de lhe dar concretude. O tom é bom.
O endereçamento não alcança.
Não basta defender, com indignação, a democracia, essa ameaçada. É elitista. O cidadão não estará nem aí para a democracia enquanto não tiver o mínimo de República: a certeza de comida em casa. Tebet tinha uma chance de dizer o que fará para melhorar a vida da população num país que estará afundado — de modo sem precedentes — no caos político e econômico. Deveria ter insistido em seu projeto para os informais, por exemplo. Deveria o ter explicado. Teve a oportunidade, mas jogou, uma, duas vezes, o detalhamento para propaganda em rádio e TV. Escolha arriscada.
O medo de um ou do outro ganhar é que não está deixando-a crescer. Sendo que o medo do Bolsonaro ganhar é maior do que o Lula, das várias garrinhas para continuar cada vez roubando mais. O ideal é nenhum dos dois, mas o Lula tem muitas contas a acertar com a justiça (ausente no Brasil), isso se dará através de karma, sim senhor. O único jeito de não deixar um erva daninha crescer é arranca- la pela raizes e deixá-la secar pelo vento benfazejo. Exposição, meu caro, exposição. Quanto ao Bolsonaro esse não volta mais nunca, nem que a primeira dama se disfarce de pomba gira no terreiro da incompetência absoluta que o maridão arou e não semeou nada que valesse.
ResponderExcluirApena
ResponderExcluirA pena, sorry
ResponderExcluirBolsonaro semeou sua gripezinha no início da pandemia e colheu centenas de milhares de mortes que eram evitáveis! Com 2,7% da população mundial, o Brasil tem mais de 10% dos mortos por Covid no mundo! E dizem que Deus é brasileiro... Mas se o Bolsonaro não ajuda, e fica só falando mentiras em nome dEle! O vírus brasileiro era mais mortal que noutros países? Não! Os brasileiros eram mais sensíveis que as pessoas do resto do mundo? Não! A única diferença é que o Brasil tinha um GENOCIDA na presidência e um GENERAL INCOMPETENTE como ministro da Saúde, enquanto o resto do mundo seguia as recomendações do OMS e tinha profissionais da saúde decidindo as medidas governamentais de combate à pandemia!
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