O Globo
É evidente a crise de lideranças e da
qualidade da representação política hoje no Brasil. Não por outra razão, os
candidatos que lideram as pesquisas são o veterano-populista Luiz Inácio Lula da
Silva e o presidente-baixo-clero Jair Bolsonaro. Dos que correm por fora, Ciro
faz sua quarta tentativa para o cargo e Simone apenas patina com um ou dois
pontos nas pesquisas, a pouco mais de um mês do primeiro turno. Os partidos
eventualmente buscam nomes que julgam ser os mais apetrechados para vencer a
eleição, mas é evidente também que raramente dão chances aos novos.
No caso do PT, por exemplo, enquanto
estiver vivo, Lula será o candidato do partido a presidente. Em 2014, não foi
candidato por impedimento legal, acabava de cumprir dois mandatos. Em 2018, foi
candidato mesmo preso e com direitos políticos suspensos, abrindo mão da vaga
apenas na última hora. Não dá para negar que Lula é o candidato correto agora,
talvez o único com estatura para vencer Bolsonaro. Mas poderia ter sido
diferente. Se em 2018 o PT tivesse lançado Fernando Haddad antes ou tivesse
apoiado Ciro Gomes, um deles poderia ser hoje presidente no exercício do cargo
concorrendo à reeleição.
Mas a história foi escrita de forma diferente e não adianta vir agora com “se isso” ou “se aquilo”. O fato é que os partidos não ajudam o eleitor por raramente lhe oferecerem novas opções. E o eleitor tampouco se esforça para enxergar melhor e com clareza o cenário político. De um modo geral, não se importa, não se informa, preocupado muito mais com suas questões particulares do que com as questões da nação. O problema não é só o candidato, é o eleitor também.
Hoje, segundo o Datafolha, 32% dos
eleitores dizem que vão votar em Jair Bolsonaro. O perfil ultraconservador e de
extremista de direita do presidente obviamente atrai muitos eleitores, mas
claro que não essa multidão. O presidente que busca novo mandato atentou contra
a democracia e os demais Poderes, se insurgiu contra a vacina da Covid, montou
um Ministério que contribuiu para o seu próprio fracasso. No Meio Ambiente,
Ricardo Salles se alinhou a garimpeiros e madeireiros. Na Educação, os
ministros nomeados, todos, afundaram a pasta por interesse político ou
pecuniário. Na Saúde, depois do general puxa-saco, houve o que se conhece e que
a PF investiga.
Dizem que Tarcísio de Freitas e Tereza
Cristina foram bem nas suas áreas. Pode ser. Mas na Agricultura, Kátia Abreu no
governo Dilma foi muito bem também. Não é difícil acertar, chato é errar feio
como errou e segue errando o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo,
que ataca grupos do movimento negro com viés racista. Chato é errar como errou
o presidente da Funai, Marcelo Xavier, que é investigado por oferecer apoio a
funcionário do órgão preso por suspeita de arrendar terras indígenas. Mais do
que errados, muitos ministros e secretários envergonham qualquer governo.
Tarcísio foi bem na Infraestrutura? Talvez.
Mas não se esqueçam de Ozires Silva, no governo Collor, e de tantos outros que
desempenharam com competência funções similares (Transporte e Gestão Portuária
e Aeroportuária) sob Itamar, FH, Lula, Dilma e Temer. Ser bom deveria ser a
regra. No governo Bolsonaro esta regra é raramente cumprida. Um festival de
incompetência assola o Ministério. E os eleitores que apoiam Bolsonaro não
veem. Alguns, não poucos, fingem não ver.
Também ignoram os desmanches produzidos em
quase todos os setores. A Cultura virou modinha sertaneja. O discurso contra a
Lei Rouanet, que é tão falso quanto desonesto, passa entre o bolsonarismo como
uma forma de guerra contra a esquerda. O que é uma rematada bobagem. A Funai
transformou-se em posto avançado de garimpeiros. A direção da Polícia Federal
virou linha de apoio aos filhos, amigos e aliados do presidente.
Estes eleitores são contra a educação, o
meio ambiente, a cultura, contra a saúde e, como mostram os números de Paulo
Guedes, contra a própria economia nacional. Eles também apoiam a misoginia, a
homofobia e o desrespeito às políticas de afirmação. Alguns, como os
empresários flagrados defendendo o golpe, são ricos, com pleno acesso à
informação, mas preferem não enxergar um palmo além do nariz.
Notícias infundadas
Não surpreendem as posições do ministro
Paulo Sérgio Nogueira. O general da reserva tem hoje apenas um papel político,
sua função militar deixou de existir no momento em que ele abandonou a farda e
foi para o Ministério. O papel das Forças Armadas é relevante no processo
eleitoral com seu inestimável apoio logístico. Mas para por aí, e os
comandantes militares sabem disso. Aliás, o general Freire Gomes, comandante do
Exército, disse na comemoração do Dia do Soldado que “notícias infundadas e
tendenciosas” não devem manchar a imagem da força. Notícias infundadas é
sinônimo de fake news, e o dono da maior fábrica deste produto no Brasil estava
ao seu lado durante a solenidade.
Homens de confiança
Cada vez fica mais inapropriada a expressão
“minhas Forças Armadas” empregada por Bolsonaro quando se refere a Exército,
Marinha e Aeronáutica. Ele até tinha, se não ascendência, algum respeito e
certa simpatia dos altos comandos no início do seu governo, quando Augusto
Heleno ainda era levado a sério e a Defesa era comandada por Fernando Azevedo e
Silva. Desde a primeira troca de ministro esta simpatia começou a desmoronar.
Hoje, além de um par de generais aqui e ali, apenas os reservistas palacianos e
o “faz-tudo-o-que-seu-mestre-mandar” Paulo Sérgio ainda podem ser considerados
homens da confiança do presidente.
Inflação
Por aqui, desemprego e inflação alta levam
as pessoas a garimpar restos de comida em caminhões de dejetos de supermercado,
em lixões, nas ruas. Nos Estados Unidos, a inflação mais alta da história mudou
um dos mais tradicionais hábitos americanos. Segundo pesquisa feita pela
Morning Consult, 85% dos entrevistados disseram que a inflação fez com que
mudassem a forma de fazerem suas compras. Estão comprando menos produtos e mais
baratos e adotando a política de “Quem” está vendendo, “Onde” está sendo
vendido, e “Quando” é a melhor hora de comprar.
Negócios
Deve ter sido em razão de nota que dei
aqui, por causa de zap que passei ou pesquisa que fiz, mas o fato é que de
algumas semanas para cá estou recebendo enxurrada de mensagens me oferecendo
material especial como calças táticas, coletes multiuso, lunetas e lanternas
para caçador. Mas, também pode ser por outra razão. Pura caça de cliente, já
que o liberou geral de armas e munições abriu muitas possibilidades de negócios
O incomparável
Uma pessoa pode até preferir o mais fácil e
se negar a comparar os desempenhos de Lula e Bolsonaro nas entrevistas que
deram ao Jornal Nacional. Direito dela, mas lá no fundo, sozinho com a sua
consciência, não conseguirá deixar de constatar que uma distância gigantesca
separa os dois candidatos.
JN viralizou
Nem a soma de todos os programas de TV no
horário eleitoral consegue ser mais útil ao sufragista do que entrevistas como
as que o Jornal Nacional fez com os quatro principais candidatos a presidente
da República. Horário eleitoral é propaganda, e propaganda fala o que quer.
Entrevista é reveladora. Pode-se ouvir uma crítica aqui e ali, mas William
Bonner e Renata Vasconcellos mandaram muito bem e fizeram o que jornalistas
fazem. Os candidatos também mostraram o que são, como pensam e por onde vão
caminhar. As entrevistas estão disponíveis na Globoplay e podem ajudar a
convencer os indecisos e a mudar os decididos. Recomende.
Carapuça
A Procuradoria-Geral da República reagiu
por não ter sido avisada com antecedência sobre a operação policial determinada
por Alexandre de Moraes contra os empresários que, em rede social, defenderam
um golpe de Estado para impedir a posse de Lula, no caso dele ser eleito em
outubro. O procurador Augusto Aras não disse, mas deve ter ficado chateado por
não ter tido tempo de produzir o seu costumeiro “senta-em-cima”. Certamente ele
faz coro com os que acham que pregar golpe é legal.
Lindôra presente
É pungente o esforço que faz a
vice-procuradora Lindôra Araújo para beneficiar Bolsonaro, seus aliados,
apoiadores, amigos e parentes. Por isso as críticas a atos que atentem contra
estes, como a ação de Alexandre de Moraes e da PF contra empresários que pregam
o golpe e financiam mobilizações antidemocráticas. Lindôra reclamou que estava
ausente do gabinete quando chegou o ofício de Moraes. Risível. O que se sabe é
que o sonho de Lindôra é ser ela a titular da PGR e só alcançará este objetivo
se Bolsonaro for reeleito.
Celular na cabine
Fez muito bem o TSE em proibir o uso de celular nas cabines de votação. Vai dar pano para manga, já está dando, mas a correção da medida é inequívoca. Sobretudo para impedir o controle de votos exercidos de forma abusiva por milícias, pelo tráfico e por igrejas.
Imaginar que quase um séc depois o voto de cabresto se sofisticou é uma desgraça. Muito acertada a decisão.
ResponderExcluirLula governou por 8 anos e foram anos de melhorias no país e pra maioria da população! Mais experiente e com auxílio do Alckmin, pode repetir e melhorar o que fez! Qualquer coisa é melhor que o DESgoverno Bolsonaro...
ResponderExcluirO colunista acertou em cheio! O governo Bolsonaro é um festival de incompetência total. Os ministros da Educação bolsonaristas afundaram a educação brasileira por décadas! Ricardo Salles e o presidente da Funai são criminosos mesmo, bandidos, mal intencionados! Não é só incompetência nestes casos, é realmente crime organizado e associação para o crime! Ricardo Salles deu a receita criminosa na reunião ministerial tornada pública pelo STF: "Enquanto a imprensa se preocupa com a Covid, a gente vai passando a boiada"!
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