O Estado de S. Paulo
Democracia sem um juiz forte e independente é o hall de entrada de iliberalismos.
No dia 11 de agosto a sociedade dará mais
uma demonstração de vigor da democracia brasileira com o lançamento da “Nova
Carta aos Brasileiros”. O que é mais emblemático nessa iniciativa é a
compreensão de que a defesa da democracia passa por um movimento a favor do
juiz... a favor da Justiça Eleitoral... a favor das urnas eletrônicas... a
favor das regras do jogo democrático.
Dificilmente alguém discordaria dessa frase. Num olhar mais atento, entretanto, percebemos que o grau de concordância é condicionado pelos ganhos/perdas proporcionados pelas próprias decisões judiciais.
A pesquisa experimental desenvolvida por
Mariana Furuguem em sua dissertação de mestrado na FGV EBAPE, realizada entre
julho e agosto de 2021 (logo após o STF anular as condenações do ex-presidente
Lula e considerar o ex-juiz Sérgio Moro parcial), mostra que a maioria dos
eleitores brasileiros, por exemplo, é favorável a reformas e iniciativas
coordenadas do Sistema de Justiça que gerem eficiência no combate à corrupção,
mesmo que tais ações enfraqueçam direitos dos réus.
Por outro lado, a pesquisa revelou que
quando iniciativas que geram ganhos de coordenação da Justiça são associadas a
“Operação Lava Jato”, os eleitores
A luta em favor da democracia e a luta
contra a corrupção são irmãs de sangue
desenvolvem reações ideologicamente
polarizadas. A ideologia, na realidade, passa a afetar diretamente o apoio ou a
rejeição a tais iniciativas.
Enquanto eleitores de direita passam a
apoiá-la, os de esquerda passam a rejeitá-la. Esses resultados sugerem que a
efetividade na imposição de perdas judiciais a Lula, líder político venerado
pelos eleitores de esquerda, ou odiado pelos eleitores de direita, é o elemento
chave para a avaliação positiva ou negativa da força-tarefa, respectivamente.
A pesquisa também investigou a percepção
dos eleitores com relação nível de corrupção no Judiciário. Paradoxalmente,
foram justamente os que se auto definiram ideologicamente mais à direita que
percebem o Judiciário com níveis mais elevados de corrupção. Esse resultado é
consistente com os conflitos e derrotas que Bolsonaro enfrentou no STF ao longo
do seu governo.
Raciocínio semelhante poderia ser feito em
relação à confiança nas urnas eletrônicas. De acordo com a pesquisa
desenvolvida por Felipe Borba e Steven Dutt-ross, são justamente os eleitores
de direita, que têm maior identidade com Bolsonaro, que apresentam maiores
chances de não confiar nas urnas eletrônicas.
A avaliação que eleitores fazem da Justiça, portanto, não é livre de viés.
O viés ideológico permeia tudo no País,tem gente até contra vacina e máscara.
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