Folha de S. Paulo
Presidente depende de efeitos eleitorais da
PEC 'Medo do Lula' e de golpismo passar despercebido
Nenhuma virada em eleições presidenciais
brasileiras começou de agosto em diante. A
pesquisa Datafolha da semana passada veio igual à
do mês anterior. Isso quer dizer que Bolsonaro tem que cobrir a mesma
distância que já o separava de Lula em um período 30% menor.
Por mais que os bolsonaristas mintam
sobre o Datafolha, a pesquisa do instituto era a melhor esperança de uma
boa notícia para o Planalto no fim de julho. O Datafolha faz pesquisas
presenciais, que são melhores para
medir os votos dos pobres.
Pesquisas presenciais têm sido piores para Bolsonaro —os pobres votam em Lula— mas é justamente para o voto dos pobres que Bolsonaro está olhando com mais atenção: se a PEC "Medo do Lula" produzir efeitos eleitorais significativos, será entre os pobres.
O Datafolha não trouxe notícia de novos
pobres votando em Bolsonaro fora da margem de erro. Foi, portanto, uma
pesquisa ruim para Jair: o anúncio do auxílio não lhe rendeu votos.
Resta-lhe a esperança, entretanto, de
que essa
situação mude quando o dinheiro do auxílio for depositado. É uma
expectativa perfeitamente plausível. É bem possível que Bolsonaro ganhe alguns
pontos percentuais nas pesquisas no final de agosto.
Isso pode evitar uma
vitória de Lula no primeiro turno, se o petista não for beneficiado por
voto útil de eleitores de Ciro ou Tebet.
No fundo, é isso: se
não fosse pela PEC "Medo do Lula", ou Lula já teria sido eleito,
ou haveria tempo para uma debandada de direitistas para outras candidaturas.
O governo Bolsonaro foi ruim demais para
que a reeleição fosse o cenário mais provável, como sempre foi o caso em
eleições anteriores. Entretanto a própria esculhambação institucional pós-2018
gerou a PEC que mantém o presidente no jogo.
No jogo, mas com que chances? Mesmo se
Bolsonaro for para o segundo turno contra Lula, as projeções não lhe são
favoráveis.
Além disso, para um potencial aliado nos
estados, o
golpismo de Bolsonaro traz vários riscos. A menos que se tenha certeza de
que o golpe dará certo –e ninguém tem– apoiar Bolsonaro é correr o risco de
chegar em um provável terceiro governo Lula tendo tentado roubar a eleição do
cara que ganhou.
É declarar
guerra contra o STF e a imprensa, que têm boa memória.
Isto é, mesmo se as últimas semanas de
agosto aumentarem as chances de Bolsonaro vencer a eleição, o 7 de Setembro
aumentará o preço que seus aliados pagarão em caso de derrota.
Não por acaso, as movimentações a favor de
Lula começaram antes mesmo de sabermos, em definitivo, se a PEC mudará muitos
votos.
Líderes
do PMDB de 11 estados já declararam apoio a Lula no primeiro turno. O
PT ainda tenta atrair apoios de gente na União Brasil, o que, pouco tempo
atrás, seria impensável.
Há uma chance real de André
Janones (Avante-MG) desistir de sua candidatura em favor de Lula nesta
semana. Enquanto isso, o PP do Piauí, partido do ministro Ciro Nogueira, briga
na Justiça para que seus adversários não divulguem fotos de seus candidatos com
o presidente da República.
As coisas podem mudar, mas, no momento, o
quadro é o seguinte: o auxílio trabalha por Bolsonaro, o golpismo trabalha
contra. Portanto o efeito do auxílio precisa ser grande o suficiente para Jair
voltar a acreditar que pode vencer sem golpe. Não é fácil.
Deus ajude que não.
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