Valor Econômico
Economias precisam de regime democrático
para florescer
No domingo passado, o empresário Abílio
Diniz sofreu a maior dor que pode se abater sobre um pai - a morte, causada por
infarto fulminante, de seu filho João Paulo Diniz, aos 58 anos. Atleta como o
pai, João Paulo sofria de doença congênita no coração. Pai de seis filhos,
Abílio está devastado. A partida de um descendente é antinatural.
Quis o destino, este pregador de peças, que
no mesmo domingo, 31 de julho, uma declaração infeliz do empresário fosse
veiculada pelo jornalista Lauro Jardim, de “O Globo”. Na contramão de dezenas
de seus pares, Abílio não assinar o manifesto em defesa da democracia -
batizado de “Carta aos brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”
-, organizado pela Faculdade de Direito da USP e lançado no dia 26 de julho.
O documento recebeu mais de 500 mil assinaturas, entre elas, de lideranças dos trabalhadores e empresariais, de juristas, magistrados, acadêmicos, políticos, advogados, jornalistas, economistas, cientistas e personalidades do mundo cultural e social. No próximo dia 11, data em que se comemora anualmente o aniversário do Centro Acadêmico da tradicional faculdade de Direito da USP, a carta será lida em manifestação que tem tudo para expressar a preocupação, nada frívola, de grande parcela da sociedade brasileira com a interrupção da ordem constitucional.
No século XX, a democracia foi abolida em
dois momentos, quando foi suprimido o direito dos cidadãos ao voto direto para
escolha do Presidente da República - em 1937-1945, durante o chamado Estado
Novo, e em 1964-1985, perídio em que o país esteve submetido a uma ditadura
militar. No total, vivemos 36 anos sem eleger o primeiro mandatário deste
enorme território - lembremo-nos que Getulio Vargas não chegou ao poder em 1930
por meio do voto popular; a única eleição direta que o “pai dos pobres”,
ditador e herói das esquerdas até os dias de hoje venceu foi a de 1950.
Quem imaginava há alguns anos que, a esta
altura da redemocratização, após a realização bem-sucedida de oito eleições
diretas para presidente, estaríamos inquietos com a possibilidade - remota, na
opinião do titular desta coluna - de nova interrupção do regime democrático?
Este tema deveria um não-assunto, mas é preciso abrir os olhos e reconhecer que
a tentação autoritária tem tirado o sono, nesta era das redes sociais, não
apenas de povos acostumados a conviver com essa chaga, a começar, dos Estados
Unidos, segunda nação, depois do Reino Unido, a viver há mais tempo sob os
auspícios de uma democracia.
O titular desta coluna devota profundo
respeito à dor do luto sofrida neste momento por Abílio Diniz e sua família.
Ponto. Outrossim, como dever de um jornalista, é obrigado a tratar da
justificativa dada pelo empresário por não assinar o manifesto pela democracia.
Trata-se de algo simbólico, que explica muito da polarização política que
assola e atrasa o Brasil há vários anos.
Disse Abílio, segundo Lauro Jardim. “Eu
tenho canal com os dois, mas não apoio nem o Lula e nem o Bolsonaro. Sempre
apoiei os governos. O que eu quero é ficar por perto, procurar ajudar e influir.
Assim como fiz nos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro”.
Em 2004, Abilio Diniz, na época controlador
do grupo Pão de Açúcar, decidiu confeccionar nas sacolas de seu supermercado
homenagem ao sucesso da estabilização de preços, consagrada pelo Plano Real.
Lançado em julho de 1994, o Real sucedeu depois de várias tentativas
fracassadas de controle da inflação. Quando soube da iniciativa, a cúpula do
governo Lula mandou emissário a Abílio com uma recomendação clara: “Abílio, o
governo não vê com bons olhos esta celebração”. Ato contínuo, Abílio cancelou a
homenagem. Isso mostra o quão frágil ainda é o ambiente democrático no Brasil.
Ainda há no país políticos, empresários e banqueiros crédulos da ideia de que regimes democráticos são chateações que dificultam o crescimento de uma economia. O gráfico abaixo mostra que essa tese é tão falsa quanto uma nota de 3 reais. Sob democracias, além de crescerem em ritmo mais rápido, economias avançam com menos volatilidade. O milagre econômico brasileiro de 1967-1974 e a China economista não desmentem essa tese: um dia o exército de reserva de mão de obra da China vai se esgotar, encarecendo o capital trabalho; ademais, o povo chinês não viverá eternamente sob ditadura. No caso brasileiro, herdamos uma economia com tantos desequilíbrios que ainda hoje não conseguimos solucionar.
Esse PT é um atraso, não admito que sejam uma imitação barata do Taliba alguns militantes odeiam as mulheres quase tanto quanto o Bolsonararo odeia
ResponderExcluirO PT em 42 anos não fez tanta lambança como fez Bolsonaro em menos de 4 anos.
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