O Estado de S. Paulo
Não estaríamos diante de um processo
eleitoral normal, mas de uma cruzada religiosa, uma encruzilhada que a todos
deveria aterrorizar.
Chegasse um marciano ao Brasil, ficaria
certamente confuso, se não espantado, com narrativas político-religiosas do
casal presidencial, dirigidas ao casal opositor mais forte e por ele
contestadas. Primeiro, ficaria surpreso pelo uso indiscriminado da palavra
demônio, como se estivéssemos tratando de pessoas reais, numa espécie de
cruzada religiosa. Seria a luta dos bons contra os maus, de anjos contra
demônios, uns representando a verdadeira religião, os outros, a falsa.
Estranharia, segundo, que pouco se fala de soluções, ideias e propostas para o
País, como a fome, a alta inflação dos alimentos, a irresponsabilidade fiscal
do atual governo, que só procura dar benesses a seus apaniguados,
frequentemente sob a forma das mais diferentes emendas parlamentares. Falta
dinheiro de um lado, sobra de outro.
Provavelmente, seria ele tentado a dizer que se trata de um país de malucos, o que talvez fosse um juízo sensato diante deste manicômio em que se tornou a política brasileira. Se se tratasse de uma encenação de bruxos e demônios, certamente acharia mais interessante um filme de Harry Potter, com bons atores e boas atuações, algo muito diferente do que ocorre aqui, com atores deploráveis. Acharia que o mundo da ficção seria mais estimulante que a política ficcional atual, com a diferença de que essa é bem real. Nem conseguem fingir direito atos de compunção, que parecem francamente grotescos. É como se a cena brasileira tivesse se tornado uma história do capeta. Contudo, até essa comparação seria inapropriada, pois o capeta é muito mais esperto.
O pano de fundo de tal encenação
político-demoníaca consiste na captura do voto evangélico, em detrimento
manifesto, por exemplo, de religiões e cultos de origem africana, tratados com
o maior desprezo. Na era da tolerância e de regimes políticos laicos, que
fizeram a separação entre Igreja e Estado, volta-se a uma mistura extremamente
perniciosa, que pode ter consequências graves do ponto das liberdades e da
organização mesma do Estado. Note-se que a preocupação com o eleitorado
evangélico é essencialmente político-eleitoral, visto que os seus fiéis tendem
a seguir as orientações dos seus pastores, algo que não ocorre, por exemplo,
com os adeptos das religiões católica e protestante.
Entretanto, isso não significa que os fiéis
sigam os seus pastores como pessoas sem rumo próprio. Se o fazem, é porque
defendem valores determinados como a luta contra o aborto, a ideologia de
gênero, sobretudo nas escolas, a união civil de pessoas do mesmo sexo, em
defesa da ideia tradicional de família. Se um pastor se desviar desses valores,
seus fiéis dele também se distanciarão. Eis, aliás, a imensa dificuldade do
ex-presidente Lula em ingressar neste segmento, pois a sua política e a do seu
partido não somente discordam desses valores, como sempre buscaram colocar seus
próprios princípios de uma maneira impositiva. É como se uma maioria devesse
simplesmente seguir uma minoria por ser esta politicamente correta. Produziram,
com isso, a adesão maciça dos evangélicos a Bolsonaro.
Sobra ao candidato petista aquele setor
evangélico mais desfavorecido socialmente, o que tem dificuldades com emprego,
com o preço dos alimentos nos supermercados, com educação pública ruim e
precárias condições de saúde. Aqui, são outros valores – os da sobrevivência –
que terminam por ganhar proeminência. Inteligentemente, o atual presidente
procura desviar a atenção destes desfavorecidos, dando-lhes um auxílio
socioeleitoral e procurando atraí-los para uma encenação canhestra, a de que o
demônio estaria à espreita.
À espreita de quê? Comer a alma de alguém?
Lançar os desavisados numa sucessão intermitente de pecados, como se a danação
estivesse a todos ameaçando? Onde fica o País neste cenário tumultuado de crise
social, política e econômica? Sairá à caça de exorcistas?
Ocorre que nossos exorcistas contemporâneos
ganham uma roupagem política, atribuindo a si mesmos uma missão. É como se
Bolsonaro fosse não Jair, mas um Messias autóctone, tendo como destino a
salvação do País. Os demônios não são, nessa perspectiva, alguns credos assim
representados, mas o comunismo, o ateísmo e os petistas e grupos esquerdizantes
em suas várias correntes. Tudo entra e se configura num quadro político
religioso, em que o “mito” de 2018 se apresenta como o Messias de 2022.
Naquele então, poder-se-ia dizer que se
tratava de um abuso de linguagem, uma piada de mau gosto, mas uma piada.
Todavia, nestes quatro anos, embora de uma forma tosca e teologicamente não
elaborada, o discurso do demônio tende a adquirir uma significação real. Não
estaríamos diante de um processo eleitoral normal, próprio da democracia e do
rodízio dos que ocupam o poder, sempre de uma forma temporária, mas de uma
cruzada religiosa, uma encruzilhada que a todos deveria aterrorizar. O
marciano, apavorado, resolveu voltar ao seu planeta. Não entendeu nada!
*Professor de filosofia na UFRGS.
Quando nós nos referimos a esquerda como pessoas das trevas, pessoas que estão ao lado do Demônio, é porque os cristãos são perseguidos em todas as ditaduras de esquerda China Cuba Venezuela e agora a Nicarágua que tem um governo esquerdista O ditador Daniel Ortega está numa verdadeira guerra contra igreja católica no país
ResponderExcluirPrendeu já vários padres e bispos não protegeu e até incentivou a invasão dos templos católicos e a destruição das imagens santas e em vários casos o incêndio da igreja , procissões são proibidas e nós sabemos que Lula e Daniel Ortega são parceiros e fundadores do Furo de São Paulo, são amigos de longa data, inclusive o Lula quando o presidente financiou muitas obras na Nicarágua com dinheiro do imposto do povo brasileiro BNDS
Isso sem dizer que defende aborto, legalização das drogas , ideologia de gênero nas escolas primárias e não deve se criminalizar um jovem ladrão de celular.
O povo ve isso como manifestação do satanás contra a família,
as igrejas, a moral, a ética e segurança social
Principalmente para nós cristãos
A igreja católica sempre foi petista,todo mundo sabe.
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