O Estado de S. Paulo
Presidente e ex-presidente tentam se limpar, um na sujeira do outro
A resposta de Lula no Jornal Nacional sobre
a compra de apoio parlamentar em seu governo, com R$ 101,6 milhões em dinheiro
sujo, é ilustrativa da corrida eleitoral em que ex-presidente e presidente
tentam se limpar um na sujeira do outro. “Você acha que o mensalão é mais grave
que o orçamento secreto?”
Grave é que a corrupção tradicional ou
institucionalizada tenha se tornado no Brasil uma questão relativa e comparativa,
não absoluta e eliminatória. Do “rouba, mas faz” para a disputa de “quem rouba
menos”, agravou-se de tal modo a transigência moral com a rapinagem dos cofres
públicos que o resultado só pode ser o conformismo perverso do raciocínio
“roubar, todos roubam, mas quem me representa?”.
Jair Bolsonaro deu discurso a Lula não apenas com ataques ao processo eleitoral e negacionismo da pandemia e da fome, mas também com o histórico familiar de funcionários fantasmas e a busca de evitar o impeachment com essa versão moderna de um mensalão pretensamente limpo – um esquema gestado no Palácio do Planalto, como revelou o Estadão, em que os recursos (R$ 72,9 bilhões, entre 2020 e 2023) saem direto do cofre da União para irrigar redutos indicados por parlamentares não identificados.
“Esse caminho de presidencialismo de
coalização, de contemporização com o orçamento secreto, com roubalheira,
transformou a Presidência da República em uma testa de ferro do pacto
cleptocrata, fisiológico e clientelista que destruiu a vida brasileira”, disse
Ciro Gomes, prometendo acabar com o esquema no primeiro dia de seu eventual
governo. “Emendas de relator, tenha a santa paciência... Você simplesmente
institucionalizou a roubalheira ou, na menor hipótese, a distribuição
fisiológica clientelista de tostões prá cá e prá lá sem dar consistência
nenhuma.”
Para Simone Tebet, “a partir do momento que
a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização
de controle”, como Ministério Público e Tribunal de Contas da União, para
acompanhar a destinação das verbas “e o orçamento secreto acaba rapidinho”. A
candidata explicou a terceirização do Executivo: “Por que o Congresso controla
o Orçamento? Porque temos um governo que não planeja nada.”
Na verdade, temos em disputa um presidente que planeja exclusivamente permanecer no poder, distribuindo dinheiro dos outros sem equidade e transparência; e o dono do partido que planejava se perpetuar no poder com mensalão e petrolão. Eles só se limpam na sujeira um do outro, porque o eleitorado se diverte no pântano.
Criticar Lula e seu governo é sensato,equipará-lo a Bolsonaro é apenas insensato,simples assim.
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