O Estado de S. Paulo
Sem alegria nem propostas, esta é a eleição do medo de golpes e retrocessos
Esta não é uma eleição alegre, propositiva,
na base do “ganhe o melhor”. Até aqui, o que prevalece são ataques e falta de
compromisso, numa competição insana sobre a rejeição, e chama a atenção o medo
que a manutenção do presidente Jair Bolsonaro e a volta do PT do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva despertam nos brasileiros.
Pela pesquisa Quaest para a Genial
Investimentos, 45% têm medo de mais um governo Bolsonaro e 40%, da volta de
Lula ao poder, o que comprova uma das muitas peculiaridades da atual eleição: a
forte, intensa, busca por uma terceira via que não veio.
Demanda para o produto havia de sobra, mas os líderes políticos foram incapazes de produzir esse produto, engalfinhados em disputas internas, guerrinhas de vaidades, interesses pessoais se sobrepondo ao interesse nacional. Quando finalmente apresentaram opções, era tarde demais.
Colocados frente a frente pelo início
oficial da campanha, na semana passada, e mais ainda pela estreia da propaganda
eleitoral de rádio e televisão, na próxima sexta-feira, Bolsonaro e Lula
tratarão de falar bem deles próprios, mas principalmente de falar mal um do
outro. Vai ser um festival de ataques, desconstrução, fake news.
A Justiça Eleitoral, que já está
sobrecarregada com as acusações vazias e irresponsáveis, lideradas pelo
presidente da República, contra a eficiência e a segurança das urnas
eletrônicas, terá um trabalho gigantesco até outubro para reagir o mais rápido
possível às mentiras e à irresponsabilidade criminosa. E não apenas entre os
candidatos à Presidência, porque esse horror vai decantar pelos Estados.
Bolsonaro vai bater firme nas teclas que
mais disparam o medo da volta do PT, como a corrupção, as alianças com as
ditaduras de Cuba, Venezuela e Nicarágua, o fiasco de regimes mais à esquerda,
como o da Argentina, e o empoderamento de pautas como aborto, LGBTQIA+ e
drogas.
Mas Lula também tem arsenal contra o
principal rival, já que boa parte do eleitorado teme a incapacidade do
presidente de investir e executar medidas de combate à pobreza e à fome, o
acirramento do discurso de ódio contra minorias, o despreparo para enfrentar
crises, como a pandemia. Sem falar no risco de golpes que paira no ar e no
isolamento internacional.
Assim, o que vem pela frente, até a
eleição, é uma guerra sem fim entre os dois candidatos, as suas campanhas e, o
pior, esse estado de espírito está sendo levado à sociedade brasileira pelas
redes sociais.
Nem Deus e as religiões estão sendo poupados, empurrados para o centro da arena eleitoral, num país desde sempre multirracial e multirreligioso. Eleições e governos passam, as cicatrizes ficam.
Uma tristeza perceber que o Brasil chegou neste ponto.
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