Valor Econômico
Governo aguarda medidas populares se
converterem em votos
A menos de 40 dias do primeiro turno, a
campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro corre contra o tempo.
Dia após dia, integrantes do comitê
monitoram os sinais vitais da economia com a tarefa de saber quando a já
perceptível melhora nas expectativas de agentes econômicos chegará à ponta. Ou,
em outras palavras, tentam prever se e quando essas mudanças nas projeções em
relação ao crescimento da economia e à inflação de 2022 se converterão em
votos.
Não é uma conta simples. Em público, adotam o discurso segundo o qual o Brasil vai melhor do que outros países. Isso foi dito, por exemplo, na segunda-feira pelo próprio presidente a milhões de telespectadores durante sua entrevista ao “Jornal Nacional”. Mas não importa. A portas fechadas, trabalha-se como se uma ampulheta estivesse sobre a mesa. Há pressa. E não se descarta a possibilidade de novas notícias positivas serem produzidas nas próximas semanas a fim de acelerar esse processo.
Aliados de Bolsonaro têm a convicção de que
algumas medidas direcionadas a aquecer a economia deveriam ter sido adotadas
antes. Criticam a demora das deliberações feitas no âmbito do Executivo, e
ponderam que elas só saíram devido ao pulso firme com o qual o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conduz a pauta de votações da Casa. Apenas a
chamada PEC das bondades ampliou o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o
fim do ano, praticamente dobrou o valor do vale-gás e criou uma ajuda mensal
para taxistas e caminhoneiros.
Houve, também, a antecipação do 13º salário
de aposentados e pensionistas, além da liberação de saques do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS). Mais recentemente, a despeito da crescente
inadimplência, o governo decidiu oferecer crédito consignado para beneficiários
do Auxílio Brasil - uma iniciativa vislumbrada para funcionar a partir de um
volume pontual de recursos disponibilizados para os mais vulneráveis, mas que
pode causar um dano permanente na vida de muitas famílias.
Com razão os bancos privados de maior porte
afastaram-se da oportunidade de negócio: logo farejaram o risco que uma
operação desse tipo pode provocar na imagem de qualquer companhia realmente
preocupada com o significado do acrônimo ESG. A sigla vem do inglês:
Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G).
E quanto à letra “S”, o mínimo que se espera é uma reflexão das empresas sobre
o impacto de suas decisões em favor da comunidade.
Para alguns, contudo, isso não é o que
conta em uma campanha eleitoral retratada como a luta do bem contra o mal. Os
fins justificam os meios, diz-se mais uma vez. E é por isso que aliados do
presidente contam com os bancos públicos para a missão. Não se espera que eles
percam dinheiro, é verdade, mas, sim, que se disponham a “operar no talo”.
Em outra frente, novas linhas de crédito estão
sendo colocadas à disposição para irrigar as contas de microempreendedores
individuais e pequenas empresas. E quanto ao Auxílio Brasil, o calendário de
pagamentos do benefício turbinado começou no dia 9 e foi concluído apenas na
segunda-feira. Mais um desembolso é previsto para setembro, antes do primeiro
turno, e outro durante a batalha que se dará entre o primeiro e o segundo
turnos.
Do ponto de vista teórico, discute-se no
governo o que pode sustentar um possível arranque do presidente nas pesquisas,
se este seria consequência do que os economistas chamam de “efeito riqueza” ou
então de “efeito renda”.
Segundo especialistas, o último ocorre
sobre a renda real dos consumidores, quando os preços aumentam ou diminuem. Com
isso, o consumo de todos os produtos pode crescer ou cair, dependendo da
alteração na renda real do cidadão. Pode acontecer devido à diminuição dos
preços dos combustíveis?
Já o “efeito riqueza” se dá quando aumenta
a propensão de uma pessoa a consumir em razão da valorização do seu patrimônio
- mesmo que este não seja líquido. Isso ocorre quando uma pessoa se sente mais
rica, tornando-se, portanto, disposta a gastar com mais produtos e itens mais
caros.
Alguns especialistas apontam para o risco
de a tomada de decisão das famílias e de investidores ser feita a partir da
expectativa de valorização do patrimônio, o que também incentivaria o
endividamento. Além disso, a médio prazo, a valorização dos ativos poderia
gerar um aumento da desigualdade entre os que possuem bens e aqueles que são desprovidos
dos mesmos.
Enquanto isso, integrantes da campanha de
Bolsonaro se fiam nas seguidas quedas das projeções de inflação e de alta do
Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. Têm motivos para comemorar e, com
isso, tentam reverter a imagem existente em parcela considerável do eleitorado
de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mais capaz de solucionar
problemas.
Conforme revelou recentemente o instituto
Datafolha, Lula é visto como mais preparado do que Bolsonaro para combater a
pobreza, lutar contra a fome, reduzir o desemprego e fazer o país crescer.
Resultados semelhantes foram colhidos quando se questionou quem seria o melhor
candidato para cuidar da saúde, da educação e do meio ambiente.
Auxiliares do presidente costumam
desqualificar as pesquisas de intenção de voto. Mais do que os números em si,
argumentam, é preciso ver a tendência que esses levantamentos sugerem.
Quando se utiliza esta lente, é possível
dizer que Bolsonaro começa a diminuir a diferença em relação a Lula, primeiro colocado
nas sondagens, e ainda em tese tem espaço para ser beneficiado pelas medidas
econômicas que foram implementadas nos últimos meses. Para alguns
interlocutores do chefe do Poder Executivo, contudo, ainda não está claro se
ele possui tempo suficiente para fazer uma ultrapassagem.
Tomara que não,mas nada é impossível.
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