Folha de S. Paulo
Filósofo diz que elites se apropriaram de
luta contra o racismo
"Elite Capture", do filósofo
nigeriano-americano Olúfémi
O. Táíwò,
é um livro interessante. O texto é daqueles bem militantes, contrastando um
pouco por minha preferência por obras mais analíticas. Mas Táíwò, que é
professor na Universidade Georgetown, levanta problemas relevantes, que
frequentemente passam despercebidos.
Para Táíwò, está tudo dominado. Para início de conversa, as estruturas sociais são desenhadas para sempre favorecer as elites. É o que ele chama de capitalismo racial. Mas, como se isso não bastasse, vemos agora essas mesmas elites se apropriando da política de identidade, originalmente um movimento de resistência, para fazer avançar seus interesses, num fenômeno que o autor batizou de política de deferência.
Hoje, a fina flor do capitalismo mundial,
isto é, grandes bancos e "big techs", não só encampa o discurso
identitário como também promove a elite dos grupos marginalizados a posições
privilegiadas. Os diretamente envolvidos ganham. Os empresários sinalizam sua
virtude, os promovidos ficam com a promoção, mas a maior parte dos marginalizados
continua marginalizada. No Brasil, as cotas em universidades fazem um pouco
isso. A sociedade fica com a sensação de dever cumprido por ter instituído essa
política e os bons estudantes negros ganham vagas em boas escolas. Mas os mais
discriminados, isto é, o garoto negro que não consegue concluir o ensino
fundamental e acaba em subempregos ou no crime, continua quase tão discriminado
quanto seus trisavós escravizados.
O que me incomodou no livro é que Táíwò não deixa muito espaço para respostas que difiram da sua. Precisamos necessariamente ver os empresários como cínicos tentando faturar em cima dos movimentos identitários? Não dá para imaginar que um "capitalista" considere o racismo imoral e esteja disposto a agir contra ele, embora sem deflagrar um movimento revolucionário, que é o que o autor cobra?
Deixei passar...
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