O Globo
Tenho uma chance de mostrar que todo dia é
dia de tentar e de renovar as esperanças de quem pode ler este texto
Em 2016, o professor da Universidade
Princeton Johannes Haushofer publicou em rede social um currículo em que relata
apenas os fracassos de sua carreira.
Inspirado nessa iniciativa, gostaria de
compartilhar algumas experiências que passei na caminhada até aqui. Assim tenho
uma chance de mostrar que todo dia é dia de tentar e de renovar as esperanças
de quem pode ler este texto.
O primeiro fracasso de que tenho lembrança foi com 13 anos, numa prova do Colégio Naval em que, de 20 questões de matemática, acertei apenas 5. Muito embora eu estudasse várias horas por dia, não tive preparo psicológico para aguentar a pressão por bons resultados e sofri um apagão. Nessa mesma época, deixei de fazer uma prova para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) por não ter atentado para a necessidade de ter uma carteira de identidade oficial e, dessa forma, perdi mais um ano inteiro de estudos. Mas não parei por aí. No ano seguinte, finalmente fui aprovado no concurso para a Epcar, mas descobri que era míope e acabei eliminado do processo seletivo.
Anos depois, no 1º período da faculdade,
tirei notas baixíssimas e fui reprovado em História do Direito. No 2º período,
fui reprovado em Direito Civil, o que gerou uma série de problemas, do ponto de
vista organizacional, para a continuidade da faculdade.
No que diz respeito aos concursos para
cargos públicos, foram incontáveis as eliminações na primeira fase ou as
aprovações muito longe do número de vagas disponíveis, o que demandou anos até
eu iniciar os trabalhos na Procuradoria do Município de Mauá.
Já formado, quis ingressar no mestrado e
apenas consegui a aprovação na terceira tentativa. Durante o curso, a vida não
foi fácil e, numa apresentação, um professor não gostou da minha exposição.
Acabou dizendo, na frente de toda a turma, que eu havia me servido de fontes de
informações duvidosas e que o enfoque escolhido estava completamente inadequado
e insuficiente para o nível de exigência que a pós-graduação stricto sensu
mantinha.
Na etapa seguinte, na época da elaboração
da minha tese de doutorado, eu, que raramente fico satisfeito com o material
que produzo, terminei e entreguei para meu coorientador, que, por sua vez,
disse que estava muito abaixo do que se espera de uma tese de doutorado. Foram
meses difíceis para encontrar o caminho adequado a fim de seguir e finalizar a
pesquisa para que ela chegasse a ser aceita pela banca examinadora.
No plano das ações judiciais, tampouco
encontrei situações simples. Ainda estagiário, ouvi uma frase que repercute na
minha mente até hoje quando cometi um erro que colocou em perigo um processo em
que o escritório atuava: “Ganha-se por milhões e perde-se por tostões”. Além
disso, tive recentemente um caso em que, apesar de seguir o manual de custos do
Tribunal de Justiça, uma juíza negou a um cliente o direito de recorrer de uma
decisão, gerando um trabalho ainda maior para perseguir seu direito no caso
concreto.
Foi esse o resumo do resumo — e veja você
que no espaço destinado para a coluna não cabem tantos fracassos, mas o
importante é continuar seguindo e insistindo. É como andar de bicicleta: se
parar, você cai.
Aposto que desse tempo para cá as coisas se tornaram mais maleáveis, não é assim? É porque vc, foi ganhando mais confiança no que faz e foi agindo mais automaticamente e sem medo.
ResponderExcluirIsso acontece com todos nós humanos, mas nunca é demais, boa sorte!
Muito interessante esta coluna! Gostei muito! Mas vou discordar do título: fracassos realmente podem ser aprendizados, mas nem sempre são! Tenho certeza que todos os fracassos descritos pelo colunista resultaram em aprendizado para ele, como se percebe pela sequência da sua carreira e pelo sucesso que ele teve na sequência dela e nas correções que precisou e soube fazer. Um exemplo de como fracassos nem sempre resultam em aprendizado é a gestão presidencial de Bolsonaro, onde fracassos se empilham em série (na Educação, na Saúde, no Meio Ambiente, na Política Externa, na Cultura e em tantos outros setores) e o miliciano mentiroso praticamente nada aprendeu, repetindo as mesmas sandices desde o primeiro momento e por dezenas ou centenas de vezes seguidas.
ResponderExcluirQuem nunca?
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