sábado, 6 de agosto de 2022

Marco Antonio Villa - É preciso politizar a eleição

Revista IstoÉ

A instabilidade é parte da política do caos, típica de dirigentes como Bolsonaro

Jair Bolsonaro aponta para um Sete de Setembro com a possibilidade de confrontos de rua. Isso justamente no Bicentenário da Independência do Brasil. Seria algo impensado a um lustro atrás, porém, o País foi entrando em um ritmo de tal distopia, que as barbáries acabaram sendo paulatinamente absorvidas pelo modus vivendi da política brasileira. O volume de ataques sistemáticos às instituições, ao Estado democrático de Direito e à Constituição foram se incorporado ao parco vocabulário de Jair Bolsonaro e externados à miúde, em mais de três anos de “governo.”

O governo teve todo o tempo do mundo para preparar a comemoração dos 200 anos do Brasil. Nada fez. O que deverá obrigar à nova administração, que vai tomar posse a 1º de janeiro de 2023, naquele ano comemorar os 200 anos da Independência, algo meio exótico, mas dentro da tradição da política latino-americana, que ronda a nossa história desde os processos independentistas, no início do século XIX. A menos de dois meses da eleição, o País não tem certeza de que poderemos ter um processo democrático de escolha dos novos dirigentes dos estados e da União, além dos parlamentares das assembleias legislativos, de toda a Câmara dos Deputados e de um terço do Senado Federal, o que não tínhamos desde 1986, antes até da promulgação da Carta de 1988.

A instabilidade é parte da política do caos, típica de dirigentes como Bolsonaro. A questão central é que isso agrava ainda mais o cenário econômico nacional e que tem, internacionalmente, perspectivas sombrias tanto em termos do comércio externo, e em disputas geopolíticas, como no Mar da China, no Oriente Médio, na Europa Oriental. E com terríveis reflexões na economia mundial, basta citar a UE, particularmente, a Alemanha. Mas nada disso parece, até o momento, impactar o processo eleitoral. As composições políticas partem, na maioria das vezes, na preservação dos que já estão no poder nos estados. As reais forças de transformação estão ausentes. A palavra de ordem é da conservação permitindo que diversos interesses antirrepublicanos continuem a usufruir das benesses do Estado, mantendo, quase sempre, intocados privilégios do que Euclides da Cunha denominava de senhores do baraço e do cutelo. Para Jair Bolsonaro, quanto menos política, no sentido clássico, melhor. Prefere – até por não ter condições cognitivas de travar o embate no campo ideológico – manter a discussão no nível mais rasteiro, como em um botequim.

 

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