O Globo
Seu programa social, porém, embora bem
elaborado, não tem destaque, nem grande dimensão
A coluna de hoje faz parte de uma série que
analisa os principais candidatos a presidente.
Simone Tebet é a única mulher entre esses
candidatos. Ela é senadora pelo MDB e começou sua carreira em Mato Grosso do
Sul, tendo sido vice-governadora do estado e duas vezes prefeita de Três
Lagoas. Ganhou destaque no Senado produzindo pareceres e relatorias de grande
qualidade técnica e, mais recentemente, se projetou como figura nacional com
uma participação de relevo na CPI da Covid.
Lançada por uma coalizão entre MDB, PSDB, Cidadania e Podemos, ela é herdeira do programa Ponte para o Futuro, que fundamentou as políticas do governo Michel Temer e, de maneira indireta, é também herdeira das políticas do governo Fernando Henrique Cardoso. Não é à toa que trabalham em seu programa de governo quadros altamente qualificados desses dois governos, como Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Elena Landau.
Tebet tem dito que pretende fazer uma reforma tributária rápida, em seis meses, apoiada na proposta que existe no Congresso sobre a criação de um imposto sobre o valor agregado, unificando e simplificando tributos sobre o consumo. A medida é necessária e praticamente consensual. Só não foi implementada ainda pela inabilidade e falta de empenho do governo Bolsonaro. Tebet também propõe taxar lucros e dividendos, outra medida praticamente consensual para introduzir um pouco de justiça tributária cobrando impostos sobre a remuneração do capital.
Unificação e simplificação dos tributos,
tributação de lucros e dividendos são medidas positivas, mas insuficientes para
enfrentar o grande problema tributário do Brasil: o desequilíbrio entre a
tributação do consumo, que afeta mais os pobres, e a tributação sobre renda e
propriedade, que afeta mais os ricos. Hoje esse desequilíbrio faz com que os
pobres paguem proporcionalmente mais imposto que os ricos. A reforma localizada
de Tebet ajuda, mas não altera significativamente essa estrutura injusta.
Tebet parece ser a única candidata entre os
principais concorrentes a defender a manutenção do teto de gastos no formato
vigente. O teto de gastos é uma regra fiscal que limita gastos públicos e foi
proposta pelo governo Temer. Uma das críticas ao teto tal como funciona hoje é
que, numa situação de crescimento do PIB, diminui a despesa pública como
proporção da receita, reduzindo a fatia destinada ao gasto social.
Tebet construiu sua carreira política no
Centro-Oeste e nunca escondeu sua ligação com o agronegócio. No Senado, seu
apoio a medidas consideradas antiambientais e anti-indígenas a levou a ser
listada pelo Conselho Indígena Missionário como um dos parlamentares que mais
atuaram contra os indígenas. Desde que se lançou à Presidência, porém, Tebet
tem tentado imprimir uma marca mais ambiental à candidatura, assumindo
compromissos claros com a redução do desmatamento na Amazônia e com o combate à
grilagem. Ela promete também um “revogaço” das normas e decretos antiambientais
de Bolsonaro.
Tebet deu declarações sugerindo a
manutenção de um programa permanente de transferência de renda, como o atual
Auxílio Brasil ou o antigo Bolsa Família. Defende a criação de faixas
diferenciadas para o recebimento do benefício e a adoção de condicionantes,
como exigência de vacinação e matrícula na escola. Ainda não disse se está
comprometida com a manutenção do valor de R$ 600 atualmente pago pelo Auxílio
Brasil nem se pretende manter ou ampliar o número de beneficiários. Essa falta
de clareza ilustra bem o papel pouco central das questões sociais em seu
programa.
Um fator preocupante na candidatura de
Tebet é a sua posição ambígua em relação ao governo Bolsonaro. No começo da
legislatura, esteve próxima do governo. Seu afastamento claro se deu apenas na
CPI da Covid. Ela também tem evitado dizer que se oporá a Bolsonaro num
eventual segundo turno, ainda que isso seja esperado.
Tebet tem a agenda mais consistentemente
liberal entre os principais candidatos que concorrem à Presidência. É a
candidata da segurança jurídica, da responsabilidade fiscal e da eficiência do
gasto público. Está tentando incorporar também uma agenda ambiental
consistente. Seu programa social, porém, embora bem elaborado, não tem
destaque, nem grande dimensão.
Tebet sonha fazer um mandato tipo FHC-3 ou Temer-2... Digamos que seja bem melhor que Bolsonaro-1 ou Bolsonaro-2, mas ainda é muito pouco, quase nada! Chega de neoliberais e dos guedes da vida... O aumento real do salário mínimo tem que ser política obrigatória!
ResponderExcluirA candidata não tem chance real,só se sua sorte mudar muito daqui em diante.
ResponderExcluirEu também gostaria que aumentasse meu ''salário mínimo'',anônimo,rs.
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