Convencidos que estão do acerto e da
oportunidade das transformações estruturais e administrativas que se
processavam na vida desse país, em busca de uma aplicação correta dos
princípios fundamentais do socialismo, causa-lhes indignação e sofrimento que
aquelas Repúblicas lideradas pela URSS – a primeira nação socialista do mundo –
estejam desrespeitando o princípio da autodeterminação dos povos, que alegam
defender.
Socialismo é liberdade. O socialismo, que por sua essência não admite a exploração do homem pelo homem, por isso mesmo não pode admitir quaisquer razões políticas e econômicas que justifiquem a dominação de um povo.
Viva a liberdade!
Viva o socialismo!
Viva o povo tchecoslovaco!
Rio de Janeiro, GB, 22 de agosto
de 1968
Affonso Romano de Sant’Anna – Alex Vianny –
Almir de Castro – Álvaro Lins – Anísio Teixeira, Antônio Aragão, Antônio
Houaiss, Bolivar Lamounier, Assis Brasil, Carlos Heitor Cony, Célia Neves,
César Guimarães, Cid Silveira, Claudio Santoro, Dias Gomes, Djanira, Doutel de
Andrade, Edson Carneiro, Edmar Morel, Edmundo Muniz, Eduardo Portela, Eli
Diniz, Ênio Silveira, Fausto Ricca, Felix de Athayde, Fernando Segismundo,
Ferreira Gullar, Flávio Rangel, Flora Abreu Henrique, Geir Campos, Helena
Ignez, Hélio Silva, Irineu Garcia, James Amado, João das Neves, Joel Silveira,
José Paulo Moreira da Fonseca, Josefa Magalhães Dauster, Júlio Bressane, Leon
Hirchmann, Lúcio Urubatan de Abreu, Luis Fernando Cardoso, Marcelo Cerqueira,
Margarida Boneli, Maria Yedda Linhares, Mário da Silva Brito, Miguel Borges,
Miguel Faria, Moacyr Felix, Otavio Ianni, Oto Maria Carpeaux, Paulo Alberto,
Paulo Francis, Pedrívio Guimarães Ferreia, Poty, Roberto Pontual, Rodolfo
Konder, Roland Corbisier, Sebastião Neri, Sinval Palmeira, Susana de Moraes,
Tati Moraes, Vamireh Chacon.
*Revista Civilização Brasileira – Caderno Especial 3, p. 387.
Em 1968: Soviéticos invadem Tchecoslováquia
e reprimem Primavera de Praga
Soldados e tanques do Pacto de Varsóvia
chegam à capital do país na madrugada do dia 21
Naief Haddad
/ Folha de S. Paulo (21/8/2018)
AGOSTO DE 1968
A celebrada Primavera de Praga se aproxima
do fim. Às 23h de 20 de agosto, cerca de 165 mil soldados da União Soviética e
de nações aliadas deram início à invasão da Tchecoslováquia |1|, país
localizado na Europa Central.
A operação é conduzida pelo Pacto de
Varsóvia, liderado pelo Partido Comunista da União Soviética. Integram o grupo
países como Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Bulgária e Romênia.
Nos últimos meses, a cúpula soviética, sob
a liderança de Leonid Brejnev, vinha demonstrando irritação com as reformas
promovidas por Alexander Dubcek, primeiro-secretário do Partido Comunista da
Tchecoslováquia.
Sob o mote "socialismo com uma face
humana", assim batizado por Dubcek, seu governo ampliou os direitos civis
e a liberdade de imprensa, restringiu a ação da polícia secreta, começou a
limitar o poder dos burocratas, entre outras medidas. Esse período de
liberalização passou a ser chamado de Primavera de Praga.
Embora enfatizasse a lealdade a Moscou,
Dubcek rejeitou as pressões soviéticas para recuar no movimento de
democratização da Tchecoslováquia.
A resposta das tropas do Pacto de Varsóvia
veio em uma ação colossal. Cerca de 4.600 tanques entraram no país por meio das
fronteiras com a Alemanha Oriental (ao noroeste), Polônia (ao norte), União
Soviética (ao leste) e Hungria (ao sudeste).
Neste dia 21, por volta de 4h da madrugada,
as tropas chegaram à capital, Praga. Além de Dubcek |2|, foram presos o
presidente do Conselho de Ministros, Oldrich Cernic, e o presidente da
Assembleia Nacional, Joseph Smrskovsky.
Poupado pelos soldados soviéticos, o
presidente da Tchecoslováquia, Ludvík Svoboda, fez um pronunciamento em defesa
das mudanças recentemente promovidas pelo governo e recomendou ao povo que
resistisse sem violência.
Não foi apenas o pacifismo que guiou
Svoboda. O presidente do país sabe que as Forças Armadas da Tchecoslováquia não
têm uma linha de comando independente e, portanto, não saberiam agir sem a
liderança soviética.
Muito popular no país, a rádio Praga também
pediu serenidade aos habitantes.
Parte dos tchecoslovacos, de fato, reagiram
sem atos violentos, colocando-se à frente dos tanques ou discutindo com os
jovens soldados. Outros, no entanto, jogaram coquetéis Molotov e pedras nos
militares invasores.
Já entre as tropas do Pacto de Varsóvia, a
truculência tem prevalecido. Há registros de tiros disparados pelos soldados em
direção à multidão e tanques que abriram fogo para atingir manifestantes que
rasgavam folhetos distribuídos pelos russos.
Ao final deste primeiro dia de invasão,
contam-se pelo menos 23 tchecoslovacos mortos |3|.
Caso tenha mesmo chegado ao seu fim, o que
neste momento parece muito provável, a Primavera de Praga terá durado apenas
oito meses.
Nascido no vilarejo de Uhrovec, na região
da Eslováquia, Dubcek atuou na resistência às forças nazistas durante a Segunda
Guerra, período em que passou a integrar o Partido Comunista do país. Teve uma
carreira política de destaque e assumiu, aos 47 anos, o cargo máximo da
Tchecoslováquia em 5 de janeiro de 1968.
Àquela altura, o país vivia uma fase de
estagnação econômica e censura severa aos meios de comunicação.
Poucos foram os sinais de reforma nas
primeiras semanas de gestão. Em abril, no entanto, Dubcek respondeu às
expectativas da população.
Lançou o Programa de Ação do Partido
Comunista Tchecoslovaco, que preconizava "um novo modelo de democracia
socialista". Jornais, rádios e TVs ganharam uma autonomia incomum,
inclusive para criticar o governo Dubcek, a polícia secreta perdeu poder para
investigar crenças políticas e religiosas, o mercado iniciou uma abertura para
produtos trazidos do Ocidente, entre outras iniciativas de liberalização.
O 1º de Maio, Dia do Trabalho, mostrou ao
mundo uma nova Tchecoslováquia. Enquanto as demais capitais de países
comunistas promoviam solenes paradas militares, Praga viu os jovens tomarem as
ruas com música e cartazes. Havia dizeres como "Menos Monumentos e Mais
Pensamentos", "Democracia, Custe o que Custar" e "Deixem
Israel Viver".
Para a satisfação dos taxistas e dos donos
de hotéis da capital do país, a vida cultural se renovou rapidamente. Em texto
recente sobre a cidade, o jornal The New York Times escreveu: "Para as
pessoas com menos de 30 anos, Praga parece o lugar certo para se estar neste
verão".
Casas de espetáculo e bares promoviam shows
de rock e jazz, e os 22 teatros da cidade passaram a oferecer programação
intensa. Entre as peças em cartaz, estava "Quem Tem Medo de Franz
Kafka?"|4|, proibida durante a gestão do linha-dura Antonín Novotný,
antecessor de Dubcek como primeiro-secretário do PC.
Outra montagem bem-sucedida foi "Last
Stop". Os autores Jiri Sextr e Jiri Suchy imaginaram uma Tchecoslováquia
sob o efeito do cancelamento das reformas, ou seja, de volta à era de rigidez
comunista.
Neste 21 de agosto, com Praga completamente
tomada pelos militares do Pacto de Varsóvia, "Last Stop" ganha ares
de profecia |5|.
FOLHA PUBLICA SÉRIE SOBRE 1968
Reportagens
relatam, como se tivessem ocorrido nos dias de hoje, fatos que
marcaram ano de mudanças
|1| Após um longo processo histórico,
a República Tcheca e a Eslováquia se dividiram em 1º de janeiro de 1993
|2| Depois de deixar a
prisão, Alexander Dubcek retomou o posto de primeiro-secretário
do PC da Tchecoslováquia, mas muito enfraquecido politicamente. Foi retirado do
cargo em abril de 1969. Três décadas depois, com o fim do comando comunista,
elegeu-se líder da Assembleia Federal. Morreu em 7 de novembro de 1992 em um
acidente de carro
|3| Até 2 de setembro de 1968, 72
tchecoslovacos tinham sido mortos pelas tropas do Pacto de Varsóvia, segundo o
livro "1968 - O Ano que Abalou o Mundo", de Mark Kurlansky
|4| Proibidos sob o comando
comunista, os livros do tcheco Franz Kafka foram liberados durante a
Primavera de Praga
|5| Acuado pelo bloco soviético, Dubcek assinou novas medidas, que reduziam de forma expressiva as iniciativas postas em prática nos meses anteriores. O processo de democratização refluiu substancialmente, e milhares de pessoas deixaram a Tchecoslováquia. Definitivamente, era o fim da Primavera de Praga
O ser humano sempre cometendo atrocidades em nome da ideologia,tanto à direita,quanto à esquerda,uma pena!
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