terça-feira, 30 de agosto de 2022

Merval Pereira - As marcas do passado

O Globo

Corrupção é uma pedra no caminho de Lula para a Presidência da República e a misoginia de Bolsonaro é maior do que qualquer estratégia política

A nova pesquisa do Ipec, antigo Ibope, deve ter dado um alento aos dois candidatos que lideram a corrida presidencial. Lula e Bolsonaro foram bem na bancada do Jornal Nacional e mantiveram suas posições, mas devem ter perdido pontos no debate do pool da Bandeirantes no domingo. A audiência não foi comparável à do Jornal Nacional, mas grande o suficiente para ter deixado marcas negativas nas duas candidaturas.

Ao contrário, as senadoras Simone Tebet e Soraya Thronicke podem ter ganhado terreno depois do debate, mas terão um trabalho difícil para se tornar viáveis. Ciro Gomes, que, como Tebet, teve boa atuação no debate, voltou a subir dentro da margem de erro, e talvez os dois apareçam nas próximas pesquisas em alta.

Há uma constatação inescapável, no entanto: o tema da corrupção é uma pedra de razoável tamanho no caminho de Lula para a Presidência da República. O ex-presidente chegou a esboçar um bom reinício na bancada do Jornal Nacional, admitindo que houve corrupção, pois “as pessoas confessaram e dinheiro foi devolvido”. Mas fica difícil defender essa nova linha petista e afirmar que ele não sabia de nada. Um candidato que se autodenomina sem pejo “o melhor presidente que o Brasil já teve” não é capaz de explicar ao eleitorado que, sim, houve roubalheira nos governos petistas, mas que não sabia nem do mensalão, nem do petrolão.

Assim como confessaram seus crimes, vários envolvidos confirmaram que Lula era o responsável pela organização do esquema de corrupção, que servia para que o Congresso apoiasse os governos petistas. O paradoxo dessa situação é o Centrão, que reúne a maioria dos parlamentares que estiveram envolvidos nesse processo de deslegitimação da atividade parlamentar, apoiar o atual presidente da República, mas Lula não poder acusá-los, pois sabem muito das negociações que aconteceram.

Outra parte continua apoiando Lula, e essas presenças impedem que o ex-presidente assuma um suposto arrependimento. Estar ao lado de Geddel Vieira Lima já era difícil de explicar, mas, depois de malas e malas de dinheiro descobertas num apartamento de sua família, é praticamente impossível justificar o acordo político feito pelo PT com ele.

Simone Tebet e Ciro Gomes foram muito bem no debate de domingo e são dois candidatos da terceira via que impedem a vitória de Lula no primeiro turno. Muito devido ao calcanhar de aquiles de Lula. Ciro ficou à vontade para rejeitar o aceno do ex-presidente em sua direção, acusando-o de corrupção cara a cara, o que muitos duvidavam que fizesse. Também Tebet rejeitou a mão estendida por Lula ao perguntar a ela sobre corrupção no governo Bolsonaro.

A senadora, que se apresentou ao público no Jornal Nacional com bom resultado, estreou no debate presidencial da Band e atacou também os governos petistas. Se mantiverem a pegada, terão papel importante no segundo turno. Difícil dizer que pegarão Bolsonaro, porque um eleitorado fixo de cerca de 30% não abre mão dele, por mais erros que cometa.

Bolsonaro estava indo bem no debate, do ponto de vista de seus eleitores, mas se perdeu completamente quando atacou a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet. Ele não resiste, não é uma pessoa em que se confie para um acordo político, não tem estratégia. Sua misoginia é mais forte que qualquer estratégia.

 

2 comentários:

  1. Bolsonaro acha o fim da picada uma mulher independente e ainda o confrontando.

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  2. O eleitor pode se perguntar: será que Lula, caso eleito, vai convocar Pedro Barusco, Cerveró e Renato Duque para a Diretoria da Petrobrás?

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