O Globo
País precisará resgatar a agenda ambiental
para desfazer retrocessos e conter a alta dos crimes e do desmatamento na
Amazônia
O Brasil está numa situação tão dramática nas ameaças ao meio ambiente e aos povos indígenas que o novo governo — em caso de derrota de Bolsonaro — precisará de um amplo plano de reconstrução. A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva tem falado, nos seus discursos, em “buscar e atualizar a agenda ambiental perdida”, num paralelo com a agenda perdida na economia que foi defendida por economistas em 2002. Ontem se soube que cresceram em 8% os alertas de incêndio na Amazônia em julho. O primeiro semestre foi o pior em sete anos em alertas de desmatamento.
A conversa que deve ocorrer em breve entre
Lula, ex-presidente e candidato com grande favoritismo, e Marina, ex-ministra
com chances eleitorais concretas em São Paulo, será mais promissora se passar
por essa agenda. Tudo piorou muito no governo Bolsonaro. O plano que tem sido
aplicado, com a ajuda da bancada ruralista no Congresso, é de desmonte integral
da construção institucional feita no governo Lula. Há muito a fazer no
Executivo e um enorme trabalho a fazer no Congresso, onde pautas terríveis
avançaram muito. Hoje, tramitam projetos chamados, por muitos motivos, de
“pacote da destruição”. Marina aparece em pesquisas em segundo lugar, na frente
de vários candidatos bolsonaristas, para uma cadeira na Câmara dos Deputados. E
tem sido sondada também para compor a chapa de Fernando Haddad. Seja como for,
é urgente que a conversa seja em torno de um plano ambiental.
O ex-presidente e a ex-ministra executaram
juntos a melhor política ambiental que o país já teve. O Plano de Ação para a
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) foi um ataque direto
e bem estruturado ao problema, e foi isso que levou o desmatamento a cair por
dez anos, saindo de 27,77 mil km2 em 2004 até 4,57 mil km2 em 2012.
Agora será muito mais difícil. Ibama,
ICMbio e Funai são órgãos sob ataque desde o primeiro dia do governo Bolsonaro
e já vinham se enfraquecendo antes. Para se ter ideia, indígenas
da etnia Awá Guajá denunciaram ontem que o novo coordenador da Frente
de Proteção Etnoambiental, Elton Henrique Sá de Magalhães, mandou destruir um
local que havia sido construído pelos indígenas, com a ajuda da Funai, anos
atrás, para as grandes reuniões. Tudo isso porque os Awá queriam que voltasse a
antiga coordenadora que foi exonerada sem motivo e sem explicação.
No fim de semana, o jornal americano “The
Washington Post” trouxe na primeira página uma enorme reportagem do jornalista
Terrence McCoy sobre o desmatamento em São Felix do Xingu, no Pará, com
destaque para o conluio entre criminosos e o poder político. Sobre o prefeito
João Cleber Torres, o jornal diz “ele era chamado de desmatador e matador.
Agora é chamado de prefeito.”
Eu entrevistei o prefeito na minha ida a
São Felix do Xingu para fazer o documentário Amazônia na Encruzilhada. Quando
perguntei sobre o fato de ele ser acusado de ocupar terra pública, ele disse
que desde a chegada de Pedro Álvares Cabral tudo aqui é terra pública. O
ambientalista conhecido na região como Zé do Lago, com sua mulher e enteada,
foram mortos em terras reclamadas pelo irmão do prefeito. A investigação não
foi concluída. Em São Felix, pude sentir como o país regrediu em termos
ambientais em todos os sentidos. Minha equipe e eu viajamos por quilômetros
dentro da unidade de conservação Triunfo do Xingu sem ver floresta, ouvindo
denúncias de agricultores familiares e vendo os restos de garimpo ilegal que
eram visíveis da estrada.
A unidade de conservação é estadual, mas
como me explicou a coordenadora das unidades de conservação do estado do Pará,
Socorro Almeida, foi criada na época da morte da irmã Dorothy. Naquele momento,
em toda aquela região da Terra do Meio, foram criadas várias reservas
exatamente para impedir o avanço do crime. E esta é a única resposta possível.
Quando o crime ataca, o governo tem de mostrar a sua força.
Hoje, crimes se espalham pela Amazônia,
como se viu nos bárbaros assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do
jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, e o governo se encolh
Esta é uma hora decisiva para o Brasil e
quem vai à Amazônia sente isso ao pisar naquele chão. Um novo governo que não
seja a continuação do atual terá muito trabalho a fazer nessa agenda perdida
ambiental e climática. Todo o cuidado é pouco neste fim de governo e fim de
legislatura
Não é possível falar em problemas ambientais no Brasil sem mencionar o ex-ministro Ricardo de Aquino Salles, que comandou o ataque à legislação e o desmonte das instituições federais do setor. O canalha que planejou e garantiu a passagem da "BOIADA" enquanto a imprensa e a Nação se preocupavam com a Covid, e o genocida se apoiava no incompetente Pazuello pra enterrar CENTENAS de milhares de brasileiros que não precisariam morrer se a OMS tivesse sido seguida pelo nosso Ministério da Saúde. SALLES e Pazuello foram os piores ministros de todos os tempos, CRIMINOSOS a serviço de Bolsonaro!
ResponderExcluirÉ bom lembrar que Salles foi secretário de Alckmin em São Paulo durante anos... Será que seu ex-patrão vai lhe arranjar uma "boquinha" no terceiro governo Lula?
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