domingo, 11 de setembro de 2022

Bruno Boghossian - A conta de chegada de Ciro Gomes

Folha de S. Paulo

Pedetista precisaria tirar diferença de 27 pontos do presidente para desbancá-lo do 2º turno

Jair Bolsonaro foi até o púlpito em que estava Ciro Gomes pouco antes do debate entre os presidenciáveis, há duas semanas. Depois de um cumprimento, o presidente perguntou ao adversário: "Ô, Ciro, vai deixar o Lula voltar?". Aos risos, o pedetista retrucou: "Isso é problema seu. Renuncia que eu derroto ele".

O relato, feito por Ciro para explicar uma foto em que Bolsonaro cochicha em seu ouvido, mostra que o pedetista conhece o bloqueio matemático que o ameaça. Ainda que ele consiga melhorar seus números, a trajetória de recuperação de Bolsonaro torna reduzidas as chances de qualquer outro candidato enfrentar Lula num segundo turno.

Reviravoltas na reta final da campanha não são impossíveis, mas dificilmente ocorrem na dimensão que seria necessária para mexer na corrida deste ano. Nas últimas cinco eleições, nenhum candidato que ostentava apenas um dígito nas pesquisas a três semanas da votação conseguiu uma vaga no segundo turno.

A principal mudança foi registrada em 2014. Na segunda semana de setembro, Dilma Rousseff liderava a disputa (36%), seguida de perto por Marina Silva (33%), com Aécio Neves em terceiro lugar (15%). O tucano drenou os votos de Marina e foi ao segundo turno com 11 pontos de vantagem sobre a ex-senadora.

Em 2018, o próprio Ciro dividia a vice-liderança com Fernando Haddad a três semanas da votação. Ambos apareciam com 13%, atrás de Jair Bolsonaro (26%), mas o petista travou o crescimento de Ciro e foi ao segundo turno com o capitão. O pedetista chegou às urnas com 11%.

Nos dois casos, o cenário favoreceu aquele que era visto como principal desafiante de quem liderava as pesquisas. Como em 2018, pesa contra Ciro o fato de que ele não ocupa esse papel na cabeça do eleitor.

O pedetista ainda insiste nesse caminho ao manter Lula na mira. É provável que ele ajude a aumentar a rejeição ao ex-presidente, mas não consiga reduzir a diferença de 27 pontos para ultrapassar Bolsonaro e enfrentar o petista.

 

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