Folha de S. Paulo
Se há verdade inconveniente, é melhor lidar
com consequências do que censurar
Cientistas são responsáveis pelo uso que se faz de suas descobertas? Colocando a coisa de forma bastante concreta, físicos deveriam ter renunciado a desvendar os segredos dos átomos porque esse conhecimento poderia levar às bombas nucleares? Puxando a brasa para as humanidades, devemos pôr na conta de Marx atrocidades que ditaduras comunistas cometeram evocando suas ideias?
Faço essas perguntas por causa de um editorial
recente da "Nature Human Behaviour" que está causando
polêmica. Resumindo muito o argumento, a peça afirma que as diretrizes éticas
estabelecidas, notadamente aquelas relativas a raça, gênero e orientação
sexual, se aplicam não só às pessoas que serviram como sujeitos de pesquisa mas
também a indivíduos e grupos que não tiveram participação direta. A implicação,
claramente expressa pelos editores, é que artigos poderão ser recusados e até
anulados, se se considerar que suas conclusões, ainda que involuntariamente,
estigmatizam grupos ou enfraquecem direitos.
Esse me parece um passo epistemologicamente
complicado. Podemos e devemos restringir nossas ações por diretrizes éticas,
mas daí não se segue que a natureza tenha de ser politicamente correta. Se
houver alguma verdade inconveniente atuando no mundo natural, é melhor
descobrir isso e lidar com as consequências no plano ético, não censurar a busca do
conhecimento.
No mais, a ética é sempre local e
temporalmente circunstanciada. Segundo as diretrizes éticas firmemente
estabelecidas no século 19, a homossexualidade era inaceitável. Pela lógica da Nature, uma pesquisa de 200 anos atrás que concluísse não
haver nada de errado com o sexo entre iguais deveria ser vetada.
O bonito da ciência é que ela é
imprevisível. O mesmo conhecimento que criou as destrutivas bombas atômicas
permite gerar eletricidade sem CO2 como subproduto, o que poderá ser a salvação
da civilização diante do aquecimento global.
Em parte o Sr tem razão, no seu artigo, por gerar energia limpa contudo, os resíduos atómicos das usinas nucleares necessitam SEMPRE de serem estocados em locais extremamente seguros por centenas de anos, para proteção do planeta e das futuras gerações. Além do mais as Usinas atómicas podem ser vitimadas por acidentes naturais, como o recente acidente no Japão e também por incompetência, falta de proteção, manutenção e operacionalização adequadas dos responsáveis pela usina, vide acidente da usina Chernobil na Ucrânia e, finalmente por atos deliberados de sabotagem que, não poder ser descartados. Todos quando ocorrem ocasionam nefastas consequências ambientais e de longo prazo.
ResponderExcluirGastão Galvão de Carvalho Souza
Puxa Gastão como vc intende de Física, parabéns, acho bonito isso.
ResponderExcluirConcordo com o Gastão, mas isto é mais custo oculto e risco ambiental pouco previsível/controlável que problema ético da Ciência. As empresas de tecnologia nuclear não têm interesse que o público conheça plenamente os potenciais problemas da energia nuclear, e nem que sejam calculados todos os seus custos reais com o armazenamento de rejeitos por séculos ou milênios. Depois que as usinas nucleares estão funcionando, os governos não têm mais alternativa exceto pagar para manter os resíduos longe das pessoas, mas sempre com algum risco de não conseguirem isto completamente, mesmo com pesados custos não contabilizados no custo inicial de cada empreendimento ou em cada megawatt produzido e consumido.
ResponderExcluirGastão Galvão,o nome ou o pseudonome do anônimo.
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