Valor Econômico
Parece que elevador social do mundo
desenvolvido quebrou
Cresce no mundo a preocupação com o
encolhimento das oportunidades de trabalho da classe média na estrutura de
ocupações, por avanço tecnológico. Há, porém, um aumento nas ocupações do
estrato alto (associadas com o pensamento crítico, solução de problema,
criatividade, interação com pessoas) e, em menor escala, nas do estrato baixo
(transporte, serviços simples, cuidados pessoais).
É a polarização do trabalho que, em íntima
associação com o aumento da mobilidade social descendente da classe média,
formam a raiz do populismo que se instalou em parte do mundo, cujos líderes
eram e são: Donald Trump (EUA), Boris Johnson (Reino Unido), Alexis Tsipras
(Grécia), Viktor Orbán (Hungria), Recep Erdogan (Turquia), Vladimir Putin
(Rússia), Rodrigo Duterte (Filipinas), Evo Morales (Bolívia), Pedro Castillo
(Peru), Andrés Manuel López Obrador (México), Hugo Chávez e Nicolás Maduro
(Venezuela), Cristina Kirchner e Alberto Fernández (Argentina), Gabriel Boric
(Chile), Lula e Jair Bolsonaro (Brasil).
Essa é a síntese de trabalho elaborado por José Pastore e apresentado em debate recente na Fipe (Fundação instituto de Pesquisa Econômica). Na Europa, nos EUA, na América Latina e no Brasil, em particular, o fenômeno se repete e fragiliza a democracia.
Estudos da OCDE mostram que entre os
períodos de 1994-96 e 2016-18 a proporção de ocupações dos estratos médios
diminuiu, em média, 11%. Em contrapartida, houve um aumento de 9% nas ocupações
altamente qualificadas e de 3% nas pouco qualificadas.
Para os americanos nascidos na década de
40, a ascensão social em relação a seus pais foi de 95%. Para os que nasceram
na década de 80, foi de apenas 41%. No período de 1980 a 2000, e levando em
conta as transferências de renda dos programas públicos para as famílias,
constatou-se que, para cada família americana que subiu na estrutura social,
duas desceram. Foi o fim do “american dream”?
Nos países da União Europeia, em média, 21%
dos homens e 24% das mulheres desceram na escala social nos últimos anos. Os
que possuem alta qualificação com boa formação em matemática, ciências e
lógica, ao contrário, tiveram condições de permanecer onde estavam ou de subir
na escala social.
Parece que “o elevador social do mundo
desenvolvido quebrou”. Na maioria dos países, a mobilidade ascendente foi
reduzida, a não ser para um pequeno grupo de profissionais altamente
qualificados.
No rastro da polarização, o trabalho vem
sendo remunerado muito aquém do capital e os ganhos de produtividade, com as
novas tecnologias, estão sendo transferidos mais para os consumidores do que
para os trabalhadores do estrato médio.
Ao aumentar as ocupações mais e menos
qualificadas acentua-se a desigualdade social.
Com a expansão da globalização e da
migração de empresas para outros países, deu-se o enfraquecimento dos
sindicatos dos trabalhadores.
A participação dos salários no crescimento
do PIB está em queda. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a
parcela do trabalho no PIB mundial caiu, em média, de 75% para 65% entre 1970 e
2010.
A entrada da China na economia mundial
produziu muitos deslocamentos de pessoas na estrutura de ocupações em outros
países. Atribui-se a desindustrialização em vários países ao avanço da
concorrência chinesa. E, como consequência, acabou destruindo ocupações de
estrato médio e empurrando os trabalhadores para os serviços simples e de baixa
remuneração.
Há muito desencanto com a globalização. Ao
contrário do que se esperava, ela não provocou o jogo do ganha-ganha. As
condições da concorrência mudaram muito na economia globalizada. A competição
dos importados desempenhou um papel importante na polarização do trabalho.
A inteligência artificial, se destruiu
postos de trabalho, tem sido também uma fonte de criação de muitas
oportunidades de trabalho de boa qualidade para técnicos, profissionais na área
de finanças e serviços médicos.
“É inegável que o Brasil é uma sociedade
que continua com uma razoável mobilidade ascendente, mas isso foi mais claro no
passado do que no presente”, atesta Pastore.
Durante todo o século XX a mobilidade
social ascendente foi intensa no Brasil. Parte da ascensão social decorreu da
migração do campo para as cidades e a outra parte foi movida pelas pessoas que
entraram em vagas na indústria, nas múltis, nas estatais e no sistema
financeiro - setores que se expandiram de 1950 a 1970.
Pastore realizou estudos pioneiros sobre o
tema. Foram utilizados os dados da Pnad de 1973 e, posteriormente, os da Pnad
de 1996. Entre 1973 e 1996, a mobilidade social aumentou de 58,4% para 63,2% e
a mobilidade ascendente subiu de 47,1% para 49,6%. Aumentou também, ainda que
ligeiramente, a mobilidade descendente, que passou de 11,3% para 13,6% entre os
dois períodos.
A mobilidade descendente está intimamente
associada ao sentimento de privação relativa, que costuma dar origem às
atitudes e aos comportamentos de inconformismo, protesto, rebelião e busca de
líderes populistas de direita e de esquerda.
Gradualmente, para cumprir parte de suas
promessas, os governos populistas vão erodindo as finanças públicas, agravam os
déficits, incham a máquina pública, solapam a confiança dos investidores e
fragilizam a democracia.
A busca do populismo ocorre quando a
desigualdade é sentida como injusta. Pesquisa de 2019 e repetida em 2021, com
dados ainda mais nítidos, mostra que: 80% dos brasileiros se sentiam
injustiçados pela economia ter sido capturada pelos ricos e poderosos; 78%
achavam que partidos e políticos tradicionais não ligam para as pessoas comuns;
e 74% dos eleitores disseram que o Brasil precisa de líder forte para recuperar
o país das mãos dos ricos e poderosos.
Solução para esses graves problemas é a
qualificação e requalificação continuada dos trabalhadores; equilíbrio entre os
incentivos à tecnologia e ao trabalho; e um trabalho sério e conjunto entre
escola, empresas e governo. É preciso, também, inverter a tendência
predominante de se tributar mais pesadamente o trabalho e menos as tecnologias.
A solução imaginada pelo procurador-geral
da República, Augusto Aras, é equivocada. Ele pretende que o Congresso aprove
uma lei, conforme previsto no artigo 7º, inciso XXVII, da Constituição, que
estabelece o direito de o trabalhador urbano e rural ter “proteção em face da
automação. Na forma da lei”.
No Brasil o elevador quebrou porque Bolsonaro não fez a manutenção... Pegou todo o dinheiro livre no orçamento e entregou pro Centrão e seus cúmplices e familiares... Tchutchuca!
ResponderExcluirO populismo do Bolsonaro é infinitamente pior que o de Lula.
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