O Globo
As relações do Brasil com a realeza
britânica têm momentos marcantes. Nenhum teve a essência didática da reclamação
do aposentado Chris Harvey aos partidários de Jair
Bolsonaro que se manifestavam diante da residência do
embaixador brasileiro, onde estava hospedado o capitão:
— Este é o dia do funeral da rainha! Demonstrem
algum respeito.
Ele tinha acabado de ver a passagem do
carro com o féretro da rainha.
Ficaram para trás momentos de elegância,
bom humor e até mesmo de indiscrição. Luminoso foi o gesto de Getúlio
Vargas em 1953, presenteando Elizabeth II pela sua coroação com
um jogo de águas-marinhas. Elas lhe foram entregues pelo então embaixador
brasileiro em Londres,
o jornalista Assis Chateaubriand. A rainha usou as peças várias vezes — tiara,
colar, pulseira e brincos.
Outros momentos ficaram na sombra. Chatô
levou consigo a cadeirinha em que assistiu à coroação da monarca na Abadia de
Westminster. (Seu filho Gilberto preservou-a.)
Também ficou na sombra um detalhe da visita
de Dom Pedro II à rainha Vitória. Uma das senhoras que servia à monarca
impressionou-se com a dentadura do imperador, temendo que a qualquer momento
ela lhe caísse.
Em 1976, o cidadão que jogou um tomate na direção da carruagem em que ia o presidente Ernesto Geisel foi detido e multado, por ter sujado o uniforme de um guarda.
As cenas da passagem do capitão por Londres
incluíram discurso na sacada da embaixada que lhe valeu uma notícia no jornal
The Independent:
— Bolsonaro é acusado de transformar sua
visita ao funeral da rainha em comício político.
Muitas casas de Mayfair têm sacada, mas não
há lembrança de que tenham virado palanque.
Faltando poucos dias para a eleição, Chris
Harvey deu uma lição a um exacerbado militante da campanha a Bolsonaro:
— Você está desrespeitando o Brasil.
O Brasil que brilhou com as águas-marinhas
de Getúlio saiu desrespeitado em Londres, e isso foi enfatizado pelo inglês.
— O presidente Bolsonaro não ficaria
satisfeito com esse desrespeito.
Será?
Bolsonaro atravessou o oceano para fazer
comício em Mayfair num dia de luto. Na embaixada do Brasil em Londres há um
retrato do barão de Penedo, um alagoano espertíssimo que ocupou a legação ao
tempo de Dom Pedro II. Durante a passagem do imperador por Londres, ele tentou
tratar de um assunto doméstico e ouviu o seguinte:
— Não dou opinião alguma, em coisas
concernentes ao governo, enquanto andar por cá.
Não se pode comparar as duas figuras, mas é
conhecido o respeito do capitão pela dinastia. Seria um desrespeito a todos os
governantes brasileiros imaginá-los fazendo discurso em sacada de embaixada.
Quando disse ao manifestante de Mayfair que
ele estava “desrespeitando o Brasil”, Chris Harvey ajudou Pindorama. Nestes
dias que antecedem uma eleição presidencial, o que o Brasil precisa é de
respeito.
A política tem suas voltas. Se o barão de
Penedo pode ser útil nestes tempos estranhos, vale lembrar que em 1888, pouco
depois da Abolição, ele previa a República. Quando ela veio, o ministro Rui
Barbosa solicitou seus serviços para o novo governo. Penedo respondeu:
— Compreenderá V. Exa. ser-me absolutamente impossível aceder à expectativa do Governo Provisório, enunciada de modo tão benévolo por V. Exa., o que muito lhe agradeço.
Fora,Bolsonaro.
ResponderExcluirO boçal é lixo de 64, baba-ovo de torturador, lambe-botas de general de republiqueta puxa-saco de latifundiário. Jair tarde.
ResponderExcluir"Algum respeito" é produto inexistente nas corjas bolsonaristas. Os milicianos não sabem o que é isto!
ResponderExcluirBolsonaro: do Palácio pra prisão!
ResponderExcluirO Brasil involuiu.
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