Valor Econômico
Oposição pode acionar TSE novamente, se
Bolsonaro extrapolar
Seguindo a tradição, ao ter o nome
anunciado, logo dirigiu-se à inconfundível tribuna de mármore verde de onde
discursaria para mais de uma centena de chefes de Estado ou governo.
O Brasil sempre abre a Assembleia Geral das
Nações Unidas desde que, em 1947, o ex-chanceler Oswaldo Aranha, então chefe da
delegação nacional, presidiu a primeira sessão especial da organização. Desta
vez, contudo, aliados e adversários já esperavam que suas palavras fossem
dirigidas mais para os eleitores brasileiros do que à comunidade internacional.
Afinal, poucos dias separavam o aguardado evento da ONU e o primeiro turno da
disputa presidencial.
“Abro
este debate geral às vésperas de eleições, que vão escolher, no Brasil, o
presidente da República, os governos estaduais e grande parte de nosso Poder
Legislativo. Essas eleições são a celebração de uma democracia que conquistamos
há quase 30 anos, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Com ela,
muito avançamos também na estabilização econômica do país”, disse logo no
início do discurso.
A partir daí, passou a listar realizações de seu governo, entre elas iniciativas de modernização da economia e de apoio à população mais pobre. Contabilizou empregos criados, e destacou que estava ocorrendo um aumento do poder de compra das famílias.
Passando por saúde e educação, retornou
para a economia: “Não descuramos da solidez fiscal e da estabilidade monetária
e protegemos o Brasil frente à volatilidade externa”. Apontando para o
deteriorado cenário econômico internacional, ponderou que, mesmo diante dos
desafios impostos pela crise recente, o Brasil conseguiu evitar o aumento do
desemprego, a redução de salários, a perda de direitos sociais e a paralisia do
investimento. Abordou, também, o esforço para combater a inflação. “Nos
consolidamos como um dos principais destinos de investimentos externos.
Retomamos o investimento em infraestrutura numa forte parceria com o setor
privado. Todos esses ganhos estão ocorrendo em ambiente de solidez fiscal.”
A despeito das críticas ao Brasil, não
ignorou a questão ambiental. “Destaco, nesse contexto, a necessidade de
estabelecer um mecanismo para o desenvolvimento, transferência e disseminação
de tecnologias limpas, ambientalmente sustentáveis.”
Horas depois, em entrevista a jornalistas,
teve que explicar o motivo de o Brasil não ter assinado a “Declaração de Nova
York sobre Florestas” - documento apresentado durante a Cúpula do Clima com o
objetivo de combater o desmatamento. Alegou que não se tratava de uma proposta
da ONU, mas sim de países desenvolvidos que não haviam consultado o Brasil
sobre o teor do texto antes de apresentá-lo.
E ainda precisou responder se havia ido à
Assembleia Geral da ONU como representante do Brasil ou postulante ao Palácio
do Planalto. “Sugiro que vocês olhem os meus quatro discursos. Os meus quatro
discursos são muito parecidos no que se refere a eu falar sobre uma questão
fundamental - eu falar que o Brasil reduziu a desigualdade, aumentou a renda,
ampliou o emprego, em todos os discursos. Em todos eles”, rebateu.
Tudo isso poderia fazer parte de um futuro
relato da viagem que o presidente Jair Bolsonaro fará na semana que vem a Nova
York, onde, seguindo a tradição, abrirá os trabalhos da próxima Assembleia Geral
da ONU. No entanto, aconteceu em setembro de 2014, quando era a ex-presidente
Dilma Rousseff (PT) quem disputava a reeleição.
À época, a petista também foi acusada de
aproveitar uma viagem oficial para fazer campanha. Era um período em que a “Lei
de Dilma”, aquela segundo a qual se faz o diabo para ganhar uma eleição, estava
em plena vigência. E situação semelhante se vê hoje em dia, com o atual governo
abrindo os cofres e forçando os Estados a fazerem o mesmo em benefício da
campanha à reeleição de Bolsonaro.
Espera-se, para a semana que vem,
comportamento semelhante do representante do Brasil na tribuna da ONU. O que
pode ter mudado é a disposição das candidaturas oposicionistas - e de setores
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - para tentar impedir que o chefe do
Executivo se aproveite mais uma vez da estrutura governamental para fazer
campanha.
Faixa presidencial
Bolsonaro falou na segunda-feira que, em
caso de derrota, irá “passar a faixa” e se recolher. Deve-se lamentar pelo país
onde uma declaração dessas causa alguma surpresa positiva. Porém, o fato é que,
até agora, a aposta corrente na Esplanada dos Ministérios era que a missão de
passar a faixa presidencial ficasse para o vice Hamilton Mourão ou algum dos
integrantes seguintes da linha sucessória.
Ainda sobre a posse de Rosa
Relatora do processo que questiona a
legalidade do chamado “orçamento secreto”, a nova presidente do STF também se
dirigiu ao Legislativo em seu primeiro discurso à frente da Corte. Disse Rosa
Weber na segunda-feira, citando Rui Barbosa: “O Supremo Tribunal Federal é esta
instituição criada sobretudo para servir de dique, de barreira e de freio às
maiorias parlamentares”. Os presidentes da Câmara e do Senado, assim como os
articuladores políticos do Executivo, prestigiavam a solenidade.
No entanto, foi um outro trecho do discurso da ministra que gerou “climão”. Rosa envolveu-se em antiga polêmica ao mencionar um trecho do hino do Rio Grande do Sul, segundo o qual “não basta para ser livre ser forte, aguerrido e bravo. Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Logo na sequência, ela justificou: “E virtude, entenda-se, digo eu, como disposição firme e constante para a prática do bem, com excelência de conduta, informada pelos valores ‘justiça, prudência, fortaleza e esperança’, e em conformidade com o lema ‘liberdade, igualdade e humanidade’, também inscrito na bandeira do Rio Grande do Sul”. Essa parte do hino rio-grandense é objeto de severas críticas do movimento negro.
Bolsonaro fez um vídeo mostrando uma face mais humana,mas não cola.
ResponderExcluir