Valor Econômico
Ministro equilibra-se entre embate político
e pressão de aliados
Intensifica-se, à medida em que o primeiro
turno se aproxima, o envolvimento do ministro da Economia na campanha à
reeleição do chefe. Paulo Guedes tem sido acionado com mais frequência pelo
comitê bolsonarista e, entre uma fala a empresários e participações em eventos
direcionados a uma audiência que ultrapassa as fronteiras do mercado
financeiro, assumiu a missão de ajudar o presidente Jair Bolsonaro a “furar a
bolha”.
O ministro tem um papel fundamental na
estratégia de tentar recuperar os votos daqueles que apoiaram Bolsonaro em 2018
e, depois, arrependeram-se em meio à frustração com um governo ultraliberal que
não se confirmou. Guedes passou a dirigir-se, também, aos jovens - um exemplo é
uma entrevista a um popular “podcast”.
Ele enfrenta, contudo, um outro tipo de desafio. O chefe da equipe econômica, proprietário da chave dos cofres públicos, precisa equilibrar-se entre o papel de cabo eleitoral e a demanda de aliados do presidente pela adoção de medidas populistas. E a pressão tem sido grande.
Nos últimos dias, integrantes do grupo
político de Bolsonaro torciam para que o governo anunciasse alguma medida
estrondosa, capaz de criar um fato positivo às vésperas do primeiro turno e
gerar uma nova dinâmica na reta final da disputa. Nada até agora: diante dos
resultados das mais recentes pesquisas de intenção de voto, crescem, nos
bastidores, críticas à atuação do ministro em relação à demora na implementação
do Auxílio Brasil de R$ 600 e ao fato de a peça orçamentária do ano que vem
apenas prever, devido a restrições impostas pela Lei de Responsabilidade
Fiscal, um valor de R$ 400 para o benefício.
A diferença sustentou o discurso da
oposição. E não ajudou o fato de o ministro ter questionado o número de
brasileiros em situação de insegurança alimentar em recente evento da Federação
Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo.
Um integrante do Centrão, aliás, lembra que
foi sugerido ao presidente da República a elevação do auxílio para R$ 800. A
ideia não foi para frente, em meio a críticas de que a área econômica carecia
de sensibilidade social, mas é inegável que uma decisão nesse sentido poderia
gerar um efeito demasiadamente danoso na percepção do mercado em relação à
economia brasileira.
Pelo menos até agora, não se viu grande
turbulência provocada por tensão pré-eleitoral. Isso se deve à percepção de que
um eventual novo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se
acomodaria mais ao centro, mas, claro, também ao trabalho até agora realizado
pelo atual governo. O ministro destaca com frequência, por exemplo, que mesmo
com a pandemia e a guerra na Ucrânia as despesas primárias (que excluem gastos
com a dívida pública) devem encerrar 2022 em patamar semelhante ao do início do
mandato, em torno de 19% do Produto Interno Bruto (PIB). E isso a despeito das
concessões na área fiscal, feitas em demasia, que ajudaram a tirar a
credibilidade dos alicerces do teto de gastos.
Nesse sentido, tanto Guedes quanto
Bolsonaro têm reiterado a melhora do desempenho de alguns fundamentos da
economia brasileira, como uma menor inflação em relação à observada em outros
países, o crescimento do PIB e a criação de vagas no mercado de trabalho.
Recentemente, o ministro ajudou na
construção do discurso feito por Bolsonaro durante a abertura da
Assembleia-Geral das Nações Unidas, oportunidade em que o presidente falou de
medidas adotadas durante sua administração para a modernização da economia,
desburocratização e atração de investimentos. Em uma declaração direcionada à
comunidade internacional e ao público interno, Bolsonaro usou a expressão
“caminho da prosperidade”, termo desenvolvido por Guedes e que tem lugar de
destaque no programa de governo do candidato à reeleição pelo PL.
Como previsto, porém, Bolsonaro corria
risco de a Justiça impedir a divulgação do discurso na campanha. E assim foi
decidido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O mesmo ainda não ocorreu com as
participações de Guedes em entrevistas e seminários em entidades setoriais. Em
algumas delas, vê-se uma postura mais combativa: em Salvador, pediu a
empresários que não acreditem em “narrativas” e rebateu as críticas segundo as
quais Bolsonaro seria populista. Quando fala desse tema, costuma sublinhar que
há uma diferença entre ser popular e populista.
À sua maneira, o ministro pede a seus
interlocutores que não se voltem para o passado e tenham juízo na hora do voto.
Em outros momentos, pede que o Brasil seja comparado com outras economias e dá
sinalizações em relação ao que pode ser feito num eventual segundo mandato,
como a ideia de acabar com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Sem
dar detalhes, recentemente falou em mais ferramentas para recuperação do investimento
público e aceleração dos programas de transferência de renda.
Interlocutores de Bolsonaro sustentam que
ele “não enfrenta” Guedes. Compara-se, internamente, com o tratamento que o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dava ao então ministro da Fazenda Pedro
Malan. Quando Bolsonaro fala que faz ou fará algo “com responsabilidade
fiscal”, atribui-se a declaração às orientações dadas pelo chefe da pasta da
Economia.
O protagonismo de Guedes na campanha está
longe do que se viu em 2018, quando era chamado de “Posto Ipiranga” por aliados
e adversários, admiradores e inimigos.
Hoje, aliados de Bolsonaro insistem em
desacreditar as pesquisas de intenção de voto, mas sabem que Lula está à
frente. E torcem para que a abstenção seja alta, principalmente entre os
eleitores mais pobres. Isso faria com que Bolsonaro recuperasse terreno parado,
sem nada fazer, impedindo assim que uma sensação de nocaute tomasse conta
daqueles que acreditaram na fragilidade das pesquisas de intenção de voto.
A Guedes se pode atribuir várias bandeiras
ostentadas por Bolsonaro e aliados, inclusive do Centrão. Mas, no pior cenário
para o bolsonarismo, começará uma caça às bruxas em busca dos responsáveis pela
eventual derrota.
"precisa equilibrar-se entre o papel de cabo eleitoral e a demanda de aliados do presidente pela adoção de medidas populistas"
ResponderExcluirNão entendi. Afinal, parece-me q papel de cabo eleitoral e demanda de aliados estão do mesmíssimo lado da balança não havendo espaço pra equilíbrio.
Além do mais, guedes-Ofélia já abandonou o papel de economista há muuuuuuuito tempo, sendo apenas e tão somente cabo eleitoral. Vergonhoso.
Mal vejo a hora de livrarmos dessa má figura. Só trouxe azar para o Brasil. Karma relacionada ao Pinochet, alma penada que deve padecer entre os demônios iguais a ele. Vá com ele diabo velho velhaco.
ResponderExcluirSerá que tencionavam usar as reservas para pagar auxílio de 800 Reais? Olha que estão planejando um jeito de acabar com elas. O sujeito é viciado no dólar e quer abocanha-los.
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