O Estado de S. Paulo
Ciro e Tebet foram bem no debate. Lula e Bolsonaro foram mal – e perderam o controle da agenda
“A batalha crucial de uma eleição é pela
captura da agenda.” Seguindo essa máxima, o estrategista de campanha Luiz
González elegeu três governadores do PSDB em São Paulo – Mario Covas, José
Serra e Geraldo Alckmin. “Sou um dos responsáveis pelo apelido ‘tucanistão’”,
brinca.
“Capturar a agenda” significa emplacar o
tema que vai pautar o debate eleitoral. Para González, entrevistado no
minipodcast da semana, os dois líderes da corrida presidencial, Lula e
Bolsonaro, já têm estratégias definidas para que a discussão gire em torno de
seus assuntos preferidos.
Lula gostaria que o tema da campanha fosse a comparação entre o seu desempenho e o do atual presidente. Bolsonaro investe na reconquista do público evangélico e no discurso anticorrupção. Apesar do escândalo no Ministério da Educação, do orçamento secreto – furos de reportagem do Estadão – e, agora, da compra de imóveis com dinheiro vivo, estrategistas de Bolsonaro avaliam que o tema corrupção atrapalha mais Lula do que ele.
Os dois candidatos tentaram emplacar suas agendas
nesta fase crucial da campanha, que acumulou as sabatinas do Jornal Nacional, o
início do horário eleitoral gratuito e o primeiro debate, cuja audiência é
historicamente altíssima. Nesta guerra televisiva de três batalhas, Ciro Gomes
e Simone Tebet acabaram se saindo melhor do que os líderes Lula e Bolsonaro.
Ciro e Simone foram muito bem no debate, e
isso se refletiu no crescimento de ambos nas pesquisas do Ipespe e do
Datafolha. A nova situação torna o segundo turno mais provável. Já Lula e
Bolsonaro foram mal – e perderam justamente o controle da agenda.
Uma resposta grosseira de Bolsonaro a uma
pergunta da jornalista Vera Magalhães trouxe à tona uma nova discussão: o
machismo na política. Foi este assunto, não a corrupção ou a comparação de
desempenhos, que inundou as redes sociais ao longo da semana.
A candidata do MDB, vítima recorrente de
comentários preconceituosos de seus colegas políticos, contrastou o presidente
de forma veemente no debate. Com isso, Simone ganhou pontos nos “trackings”, as
pesquisas diárias por telefone que medem a temperatura do eleitorado em tempo
real.
Os mesmos trackings sinalizaram um soluço
de Bolsonaro, que na semana anterior celebrava um viés de alta. De acordo com
os trackings, o crescimento do presidente estancou a partir do debate – e as
pesquisas posteriores confirmaram a estagnação. Mais uma prova de que ganhar a
agenda é fundamental. Simone lutará para mantê-la, enquanto Lu**la e Bolsonaro
seguirão se engalfinhando para recuperá-la.
*Escritor, professor da Faap e doutorando
em ciência política na Universidade de Lisboa
Não assisti o debate.
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