sábado, 3 de setembro de 2022

João Gabriel de Lima* - Agenda saiu do controle de Lula e Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Ciro e Tebet foram bem no debate. Lula e Bolsonaro foram mal – e perderam o controle da agenda

“A batalha crucial de uma eleição é pela captura da agenda.” Seguindo essa máxima, o estrategista de campanha Luiz González elegeu três governadores do PSDB em São Paulo – Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. “Sou um dos responsáveis pelo apelido ‘tucanistão’”, brinca.

“Capturar a agenda” significa emplacar o tema que vai pautar o debate eleitoral. Para González, entrevistado no minipodcast da semana, os dois líderes da corrida presidencial, Lula e Bolsonaro, já têm estratégias definidas para que a discussão gire em torno de seus assuntos preferidos.

Lula gostaria que o tema da campanha fosse a comparação entre o seu desempenho e o do atual presidente. Bolsonaro investe na reconquista do público evangélico e no discurso anticorrupção. Apesar do escândalo no Ministério da Educação, do orçamento secreto – furos de reportagem do Estadão – e, agora, da compra de imóveis com dinheiro vivo, estrategistas de Bolsonaro avaliam que o tema corrupção atrapalha mais Lula do que ele.

Os dois candidatos tentaram emplacar suas agendas nesta fase crucial da campanha, que acumulou as sabatinas do Jornal Nacional, o início do horário eleitoral gratuito e o primeiro debate, cuja audiência é historicamente altíssima. Nesta guerra televisiva de três batalhas, Ciro Gomes e Simone Tebet acabaram se saindo melhor do que os líderes Lula e Bolsonaro.

Ciro e Simone foram muito bem no debate, e isso se refletiu no crescimento de ambos nas pesquisas do Ipespe e do Datafolha. A nova situação torna o segundo turno mais provável. Já Lula e Bolsonaro foram mal – e perderam justamente o controle da agenda.

Uma resposta grosseira de Bolsonaro a uma pergunta da jornalista Vera Magalhães trouxe à tona uma nova discussão: o machismo na política. Foi este assunto, não a corrupção ou a comparação de desempenhos, que inundou as redes sociais ao longo da semana.

A candidata do MDB, vítima recorrente de comentários preconceituosos de seus colegas políticos, contrastou o presidente de forma veemente no debate. Com isso, Simone ganhou pontos nos “trackings”, as pesquisas diárias por telefone que medem a temperatura do eleitorado em tempo real.

Os mesmos trackings sinalizaram um soluço de Bolsonaro, que na semana anterior celebrava um viés de alta. De acordo com os trackings, o crescimento do presidente estancou a partir do debate – e as pesquisas posteriores confirmaram a estagnação. Mais uma prova de que ganhar a agenda é fundamental. Simone lutará para mantê-la, enquanto Lu**la e Bolsonaro seguirão se engalfinhando para recuperá-la.

*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa

 

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