O Estado de S. Paulo
A pior coisa que pode acontecer a um candidato é evocar a imagem de um chefe inconveniente
Um tiro disparado por seu próprio exército
feriu a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Quem puxou o gatilho foi o
deputado bolsonarista Douglas Garcia – que, nos bastidores de debate entre
candidatos ao governo de São Paulo, agrediu e ofendeu a jornalista Vera
Magalhães. Foi o assunto da semana nas redes sociais. Vera Magalhães teve cerca
de 800 mil interações, mais do que todos os debatedores somados.
O núcleo jurídico da campanha de Bolsonaro
ordenou que se estancasse a ferida o quanto antes. Coube ao deputado Eduardo
Bolsonaro condenar a atitude de Garcia nas redes. No episódio, Garcia valeu-se
dos mesmos xingamentos que o presidente usara em outro debate, duas semanas
atrás, contra a mesma jornalista – comportamento que lhe custou pontos nas
pesquisas.
As mulheres vão decidir a próxima eleição. Não é exagero retórico. É raciocínio lógico. Segundo as pesquisas, a diferença entre Lula e Bolsonaro entre os homens é muito pequena, quase um empate técnico. Assim, o próximo presidente será quem as mulheres escolherem. Até agora tem sido Lula, com certa folga, embora Bolsonaro venha ganhando pontos entre as evangélicas. Num artigo, o cientista político Jairo Nicolau mostrou que o maior contingente de indecisos está entre as mulheres.
Um estudo pioneiro sobre o comportamento
político das mulheres acaba de ser publicado no livro Feminismo em disputa. Ele
aponta uma surpreendente identidade entre “conservadoras” e “progressistas” –
que inclui seguir nas redes sociais mulheres de sucesso como Vera Magalhães.
“Para além das diferenças ideológicas, as
mulheres têm agendas comuns desde a Constituição de 1988”, diz Beatriz Della
Costa, uma das organizadoras do livro. Ela é entrevistada no minipodcast da
semana. O estudo mostra, por exemplo, que 92% das eleitoras têm a violência de
gênero como preocupação central, e 77% gostariam de ver mais mulheres na
política.
Feminismo em disputa sinaliza a agonia do
estereótipo “bela, recatada e do lar”. “As mulheres conservadoras buscam
protagonismo na família sem deixar de ser batalhadoras no mercado de trabalho”,
diz Della Costa. 83% das mulheres são favoráveis a políticas que combatam
diferenças salariais por razões de gênero.
É rara a mulher que nunca foi vítima de ofensa machista do chefe. A pior coisa que pode acontecer a um candidato à Presidência é evocar a imagem desse chefe inconveniente – o que, como se viu, pode incentivar correligionários a imitar a atitude abjeta. Ainda mais numa eleição – nunca é demais repetir – que será decidida pelas mulheres.
Considero a pior coisa a baixaria, esse comportamento tem o dom de fazer perder votos e também posições. Vide o deputado que perdeu o cargo ao fazer o comentário desrespeitoso as Ucranianas.
ResponderExcluirEspero que ele seja cassado pela Alesp.
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