Correio Braziliense
Supremo enfrentará uma conjuntura política
dramática, face aos ataques às urnas eletrônicas, à Justiça Eleitoral e ao
próprio Supremo, por parte do presidente Bolsonaro
Perdão pelo lugar comum, mas o perfil da
nova presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) é esse mesmo que intitula a
coluna. A ministra Rosa Weber assumiu a presidência da Corte no final de sua
longa carreira na magistratura, coroando uma trajetória de coerência no
exercício dos diversos cargos que ocupou, em todos os níveis do Judiciário, o
que faz muita diferença numa conjuntura como a que estamos vivendo, na qual a
Corte constitucional sofre fortes pressões do presidente Jair Bolsonaro, que
não compareceu à solenidade de posse. Alegou agenda de campanha, logo ele, que
não perde uma formatura de cadetes nas escolas militares ou desfile castrense.
Na verdade, a ausência de Bolsonaro se deve ao fato de que o discurso da ministra Rosa Weber seria, como de fato foi, uma reafirmação de que o Supremo, sob sua liderança, exercerá o papel de Poder Moderador da República, dando a palavra final sobre toda e qualquer polêmica acerca da Constituição de 1988. Trocando em miúdos, esse foi o recado político mais importante da solenidade, à qual compareceram os presidentes do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Destaque para a presença do ex-presidente José Sarney.
“Vivemos tempos particularmente difíceis da
vida institucional do país. Tempos verdadeiramente perturbadores, de
maniqueísmos indesejáveis. O Supremo Tribunal Federal não pode desconhecer esta
realidade. Até porque tem sido alvo de ataques injustos e reiterados,
inclusive, sob a pecha de um mal compreendido ativismo judicial por parte de
quem, a mais das vezes, desconhece o texto constitucional e ignora as
atribuições cometidas a essa Suprema Corte pela Constituição. Constituição que
nós, juízes e juízas, juramos obedecer”, disse Rosa Weber.
Foi um recado que não deve ter agradado
muito ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que ouviu o discurso de
corpo presente. Aras anda às turras com o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, a quem acusa de usurpar poderes do
Ministério Público Federal. Nos bastidores, também é quem mais acusa o Supremo
de usurpar atribuições dos demais Poderes, junto ao presidente Jair Bolsonaro e
ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), principalmente.
Rosa Weber conclamou os ministros do
Supremo se manterem unidos em torno da defesa do Estado democrático de direito
e seus postulados e não deixou dúvidas quanto ao apoio que pretende dar ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na condução das eleições deste ano: “Nosso
tribunal da democracia, que neste ano de 2022, sob comando firme do ministro
Alexandre de Moraes, e em estrada competentemente pavimentada pelo ministro
Edson Fachin, mais uma vez garantirá a regularidade do processo eleitoral, a
certeza e a legitimidade dos resultados das urnas e o primado da vontade
soberana do povo”.
Eleições
Este é o ponto. Rosa Weber terá o desafio
de enfrentar a conjuntura política mais dramática que o país já viveu, desde a
redemocratização, face aos ataques que as urnas eletrônicas, a Justiça
Eleitoral e o próprio Supremo vêm sofrendo por parte do presidente Jair
Bolsonaro e seus aliados. Presidirá o Supremo por pouco mais de um ano, pois
deverá se aposentar até outubro de 2023, quando completará 75 anos, a idade
máxima para ser ministra. É a terceira mulher a ocupar o cargo. As outras foram
Ellen Grace, cuja vaga hoje ocupa, e Cármen Lúcia, que presidiu a Corte de 2016
a 2018.
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio
Nogueira, que não compareceu à posse, bem que tentou se posicionar como uma
espécie de “fiador” da inviolabilidade das urnas eletrônicas, o que na prática
seria restaurar a velha tutela militar sobre o processo político brasileiro,
que tantas vezes já se manifestou desde a Proclamação da República, em 1889. O
discurso de Rosa Weber foi uma espécie de “não passarão”.
Gaúcha, uma de suas características é a
firmeza: outra, a discrição. Rosa Weber nunca deu entrevistas, somente se
pronuncia nos autos ou durante as sessões do Supremo. A nova presidente do
Supremo foi prestigiadíssima pela magistratura de seu estado, que homenageou
durante o discurso. Um dos momentos mais emocionantes de seu pronunciamento foi
durante as referências ao Bicentenário da Independência, que transformou numa
profissão de fé na força dos cidadãos comuns:
“Presto homenagem ao povo brasileiro que não desiste da luta pela sua real independência e busca construí-la a cada dia, com garra e tenacidade, a despeito das dificuldades, da violência, da falta de segurança, da fome em patamar assustador, dos milhares de sem-teto em nossas ruas, da degradação ambiental, e da pandemia não totalmente debelada que tantas vidas ceifou. E aqui minha solidariedade sempre a todos que perderam a vida e aos parentes”, afirmou.
Os "patriotas" Jair Bolsonaro (chefe do Poder Executivo, nas horas vagas) e o general Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa) não compareceram. O ambiente estava mais leve e menos mal-cheiroso...
ResponderExcluirGrande mulher.
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