Valor Econômico
Polarizada pelo alto grau de definição dos
eleitores, campanha tem a 3ª via menos expressiva desde 1989
O Brasil chega à sua décima eleição
presidencial desde a redemocratização depois de enfrentar a maior ameaça às
instituições que a garantiram. Polarizada desde o início, com alto grau de
definição do voto, esta é também a eleição em que a terceira via deverá ter o
menor percentual de votos.
Nenhuma outra campanha da história
brasileira antagonizou, como esta, o presidente-candidato e o Tribunal Superior
Eleitoral. Desde a redemocratização, o Ministério da Defesa e o comandante do
Exército jamais haviam respaldado a desconfiança nas urnas eletrônicas como os
atuais o fizeram.
O ataque às instituições eleitorais
desencadeou manifestações de apoio e confiança de seis emissários do governo
americano, em visita ao Brasil, inclusive o secretário de Defesa, Lloyd Austin.
Em carta, 50 eurodeputados pressionaram a Comissão Europeia por um repúdio
inequívoco à subversão das regras democráticas no Brasil.
O apoio doméstico ao TSE foi demonstrado na
posse do ministro Alexandre de Moraes à qual compareceram todos os
ex-presidentes, à exceção de Fernando Henrique Cardoso, por enfermo, todos os
ministros do Supremo Tribunal Federal, além dos principais candidatos à
Presidência e aos governos, governadores e presidentes das casas legislativas.
O tom belicoso adotado ao longo do governo e da campanha colaborou para que Jair Bolsonaro, quarto presidente a disputar a reeleição, seja rejeitado por mais da metade do eleitorado. Foi com este patamar de repúdio que Fernando Haddad perdeu a disputa pela Presidência em 2018.
Depois de vencer nas asas do antipetismo, o
presidente enfrentou, na campanha, a muralha do antibolsonarismo. Quatro anos
depois de chegar ao Palácio do Planalto, o presidente transformou-se no
principal cabo eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao longo da campanha, a taxa de aprovação do governo melhorou com a redução na inflação, o aumento do emprego e um pacote incomum de benesses num ano eleitoral, a começar pelo aumento do Auxílio Brasil e por quatro reduções no preço da gasolina.
A dificuldade de angariar votos entre os
beneficiários do Auxílio Brasil, segmento em que se manteve em desvantagem ao
longo de toda a campanha, sepulta uma percepção, longamente acalentada, de que
o voto dos mais pobres é “comprado” por benefícios como o Bolsa Família ou o
Auxílio Brasil.
A avaliação pessoal do presidente não
seguiu a melhora na percepção sobre o governo. Nos últimos dez meses, segundo o
Datafolha, a avaliação positiva do governo cresceu dez pontos percentuais,
enquanto a rejeição do presidente nunca esteve aquém dos 50%.
Colaboraram para a manutenção dos patamares
elevados da rejeição presidencial a opção pela valoração do discurso
armamentista, o ataque às urnas e a incúria na pandemia, que poderia ter
evitado até 400 mil das 680 mil mortes. É no eleitorado feminino que Bolsonaro
colhe os piores indicadores de sua rejeição.
Diferentemente de 2018, quando disputou por
dois partidos marginais, PSL e PRTB, sua coligação tem três das maiores
legendas do Congresso, PL, PP e Republicanos. A aliança lhe deu o segundo maior
tempo no horário eleitoral (2’39”), ao contrário de 2018, quando teve só oito
segundos.
O aparato de propaganda surtiu não surtiu
efeito na rejeição bolsonarista ou na sua intenção de voto. Ao longo dos 45
dias do horário eleitoral, ambos os índices se mantiveram inalterados.
O ex-presidente Lula, por outro lado,
atraiu um antigo adversário, o ex-governador Geraldo Alckmin, e reuniu uma
coligação de dez legendas (PT, PSB, PCdoB, Psol, Rede, PV, Solidariedade,
Avante, Pros e Agir), que se equiparou ao recorde estabelecido pela campanha de
Dilma Rousseff em 2010.
Além da ampliação partidária, Lula avançou
sobre a elite política, jurídica e empresarial, avessas ao petista desde a
Lava-Jato. Ao longo das últimas semanas, formalizaram apoio a Lula ministros do
STF do “Mensalão” e do “Petrolão”.
A ideia de que estava em curso não uma
disputa política mas a sobrevivência da democracia embalou iniciativas como a
“Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do estado democrático de direito”
e beneficiou a candidatura petista.
O movimento acabou por contagiar partidos
historicamente adversários do PT. Ex-ministros de governos Fernando Henrique
Cardoso, Itamar Franco e Michel Temer declararam apoio, bem como protagonistas
do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e formuladores do Plano Real.
Depois de adiar ao máximo encontros
empresariais ampliados, o ex-presidente foi recebido nesta semana por alguns
dos maiores empresários e banqueiros do país. Apesar do assédio, Lula não
detalhou planos para a economia nem o ministro da Fazenda se eleito.
Incapaz de reagir à avalanche bolsonarista
nas redes sociais em 2018, o PT foi capaz de montar uma estrutura de
comunicação que gastou mais que a de Bolsonaro com impulsionamento nas redes
sociais e rivalizou com a do presidente em engajamento.
Contribuiu ainda para a comunicação de Lula
a adesão do deputado federal André Janones (Avante-MG), que desistiu da
postulação presidencial para assumir, na campanha lulista, a porção mais
agressiva da estratégia digital.
A estratégia de colar a campanha na defesa
da democracia ampliou a frente de apoios, mas também serviu de subterfúgio para
Lula não detalhar seu programa de governo. Esta é uma das razões pelas quais
houve tão pouco dissenso interno na campanha.
Nos 90 pontos do programa registrado no
TSE, a aliança demonstra comprometimento com a questão climática, recuou na
intenção de rever a reforma trabalhista do governo Michel Temer. A campanha
ainda sinaliza com a manutenção da autonomia do Banco Central e com uma reforma
administrativa. Permanece um vazio de definições sobre a âncora fiscal capaz de
respaldar a recuperação do investimento público e das políticas sociais.
Na campanha petista, a expectativa é que
tanto Lula quanto Bolsonaro deverão crescer na reta final em cima de indecisos
e do voto útil egresso dos eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet. Como Lula já
está, segundo o Datafolha, com 50% dos votos válidos, este impulso final
garantiria a vitória no primeiro turno.
A viagem do petista à Fortaleza e a
Salvador, nesta sexta, porém, além de alavancar votos no eleitorado cearense e
baiano, visam a impulsionar as candidaturas locais de Elmano Freitas (PT) e
Jerônimo Rodrigues (PT), já que, se houver segundo turno, Bolsonaro terá nas
candidaturas de Capitão Wagner (Republicanos), no Ceará, e ACM Neto (União
Brasil), na Bahia, palanques competitivos.
Independentemente da disputa pelo Palácio
do Planalto, o Congresso que se avizinha, de baixa renovação, imporá grandes
dificuldades para o próximo presidente manobrar o Orçamento dado o bloqueio
representado pelo poder dos parlamentares sobre as emendas de relator.
"Diferentemente de 2018, quando disputou por dois partidos marginais". MARGINAIS mesmo, no sentido policial da palavra! Outro partido marginal é o presidido pelo criminoso Roberto Jefferson, impedido de concorrer por estar condenado, e que foi substituído pelo religioso fake Kelmon, tão miliciano quanto o presidente do PTB. Autoproclamado "padre", o padreco é sócio de Bolsonaro, mas se fantasiou de candidato pra poder funcionar como cabo eleitoral do genocida nos debates.
ResponderExcluirPadre impostor, um laranja mesmo.
ResponderExcluirFalso, como tudo ao redor do bozo.
Bozo deixou nosso país caótico, angustiado.
Só algo pode ser pior do q o quadro atual: mais 4 anos pro genocida.
O PT só perdeu em 2018 porque Lula estava preso,as pesquisas lhe davam 20 pontos à frente de Bolsonaro.
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